Segurança

Namorado de ‘Majestade’ ameaça tomar controle de loterias na periferia de Fortaleza; ouça áudios

‘Adidas’ é um dos chefes de uma facção criminosa carioca e integra a lista de Mais Procurados da SSPDS-CE

Uma facção criminosa de origem carioca tem como uma das suas principais atividades no Ceará, agora, a extorsão a donos e funcionários de casas de jogos. O Diário do Nordeste obteve áudios de ligações telefônicas e prints de conversas pelo aplicativo WhatsApp, em que funcionários dos estabelecimentos são ameaçados e obrigados a se aliarem à organização criminosa, em Fortaleza.

O criminoso se identifica na ligação como ‘Adidas’, apelido de João Vitor dos Santos, chefe da facção carioca, um dos criminosos da lista de Mais Procurados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) e namorado de Francisca Valeska Pereira Monteiro, a ‘Majestade’ – a chefe do setor financeiro da organização criminosa no Estado.

R$ 5 MIL

é o valor pago pela SSPDS por informações sobre a localização de ‘Adidas’, que está foragido desde fevereiro deste ano, quando não foi encontrado em uma operação da Polícia Civil do Ceará (PC-CE) contra a facção no Ceará.

O suspeito foi solto em dezembro de 2022, quando o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) decidiu anular todas as provas de um processo criminal, por considerar que a apreensão do aparelho celular do suspeito foi “inconstitucional”, ocorrido durante a prisão de ‘Majestade’.

‘Adidas’ ligou para um funcionário de uma casa de apostas, que gerencia vários pontos de jogos na Capital, neste mês de maio, para tentar convencê-lo a deixar o emprego para trabalhar para ele, “tomando” as bancas de apostas para a facção.

“Se quer trabalhar, já é. Mano, ‘eu tenho tantos pontos em área tal’… pois a partir de agora esses pontos são seus e você vem para a minha gerência. Vou lher dar as porcentagens, e você vai trabalhar (sic)”, explica ‘Adidas’, na ligação.

“Tô te dando o papo reto, papo de homem, aqui não tem esse bagulho de tu estar em área nossa, trabalhando para a F… (loteria), não. Ou tu vem no amor, ou então nem na dor te quero. A Paupina é meu reduto, a Messejana é meu reduto. O que eu mandar fazer, vão fazer. E tu sabe como é menino. Menino vai fazer com tanto gosto, pra mostrar lealdade pra mim. Que ele vai te pegar daquele quilômetro”, ameaça.

O chefe da facção ainda diz que, se o funcionário da loteria não for trabalhar para ele, “no próximo ponto que tu encostar dentro da Paupina, eu mando te sequestrar e tu vai me ver na videochamada”.

OUÇA OS ÁUDIOS:

Também seria de ‘Adidas’ uma mensagem enviada a um funcionário de uma  casa de apostas, pelo aplicativo WhatsApp, neste mês de maio: “Atende essa p* aí. Deixa tuas bancas com muito segurança. Que o terror vai começar (sic)”.

“Próximos pontos que vocês abrirem dentro da área do C… (nome da facção), vocês vão se arrebentar. É bala na F… (nome da loteria) agora. Está pensando que nós estamos de brincadeira é, p*? Pode botar o segurança que quiser, uma hora eu pego”, prometeu o suspeito, em mensagens enviadas outro dia, também em maio.

Outro criminoso enviou um áudio, também neste mês de maio, com ameaças a uma loteria, pelo WhatsApp: “Ei, pega o corre, para mandar fechar todas essas bancas da concorrência, para trabalhar só com as do P… (loteria) agora. A partir de hoje, vai tar chegando umas máquinas aí, para eles estarem trabalhando. Se não quiser fechar com a gente, vai fechar a banca. Se não fechar a banca, vai fechar na espoleta (sic)”.

A facção carioca ainda espalhou um comunicado interno, para recomendar que os comparsas não permitam que uma loteria funcione nas áreas dominadas pelo grupo criminoso, em Fortaleza. “O crime não é mais só boca de fumo. Você deixar a L… (nome da loteria) em sua quebrada, é igual a deixar pilantra vender droga nas suas áreas. Cuidado, você pode estar financiando um gole na sua quebrada, sem saber (sic)”, diz o informativo.

A Polícia Civil do Ceará informou, por nota, que a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) “realiza diligências no sentido de localizar e prender o foragido da Justiça identificado como João Vitor dos Santos, vulgo ‘Adidas'”.

A PC-CE informa ainda que a Draco investiga todas as denúncias registradas que envolvem organizações criminosas e realiza prisões de forma constante. Cabe destacar que somente de janeiro e abril deste ano, a especializada já realizou mais de 70 prisões.”

POLÍCIA CIVIL DO CEARÁ

Em nota

Para combater a atuação de grupos criminosos no Estado, a Draco conta com a participação da população para repassar informações que auxiliem os trabalhos investigativos. “Por isso, a unidade especializada da PC-CE mantém um número de WhatsApp para receber denúncias de ações criminosas em todo o Estado. A população pode enviar mensagens de texto, áudios, fotos e vídeos para o número (85) 98969-0182”, destacou a PC-CE.

“As denúncias também podem ser feitas, por meio de ligação gratuita, para o 181, ou enviando mensagem para o WhatsApp (85) 3101-0181 do Disque-Denúncia da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). O sigilo e o anonimato são garantidos”, concluiu.

Legenda: SSPDS paga R$ 5 mil de recompensa por informações sobre a localização de ‘Adidas’, que está foragido desde fevereiro deste ano
Foto: Divulgação/ SSPDS

FUNCIONÁRIO TEM MEDO DE SAIR DE CASA

Um funcionário de uma casa de apostas, que pediu para não ser identificado, relatou à reportagem que já foi ameaçado pela facção carioca e tem até medo de sair de casa. “Hoje, vivo praticamente numa prisão domiciliar, do trabalho para casa, da casa para o trabalho. Sou obrigado a andar com segurança o tempo todo. Não tenho vida social”, afirma.

Hoje, nós perdemos praticamente 80% do que tínhamos. As facçõess tomaram tudo, as pessoas que moram em bairro tomado por facções são obrigadas a trabalharem para eles, ou eles colocam para fora da casa, do bairro, e são ameaçados de morte.”

FUNCIONÁRIO DE CASA DE JOGOS

Identidade preservada

O funcionário afirma ainda que várias concorrentes já se renderam às cobranças das facções, no Ceará. “Isso é um absurdo. Onde estão as autoridades, que fecham os olhos para isso? Nós pagamos impostos, temos funcionários de carteira assinada. De que serve tudo isso? Só esse mês já recebi diversas ameaças de morte. Não posso ir à praia, não posso ir ao shopping, não posso visitar amigos, não posso ir a um barzinho. Enfim, hoje minha vida se resume a isso”, conclui.

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Marcio Sousa

Editor chefe, Radialista profissional e Diretor de Programação da Taperuaba 98,7 FM

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