Idosos de 60 abrigos em 21 cidades do Ceará serão imunizados na 1ª fase da vacinação contra Covid
Grupo mais suscetível às formas graves da infecção por Covid-19 é priorizado no processo de imunização no Estado. Ministério Público Estadual vai acompanhar a evolução do processo de aplicação das vacinas
Integrantes do grupo de maior risco para os efeitos da Covid-19, idosos de 60 anos ou mais que vivem em instituições de longa permanência (ILPIs) no Ceará começaram a ser vacinados nessa terça-feira (19), um dia após a chegada do primeiro lote da CoronaVac ao Estado. A Secretaria da Saúde do Ceará informou que a operacionalização da vacina nas ILPIs cabe aos municípios. A meta é vacinar 3.600 pessoas com esse perfil.
Atualmente, há 60 ILPIs ativas em 21 municípios do Estado, de acordo com levantamento do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE). Do total, 22 delas ficam em Fortaleza, que iniciou a vacinação desse público pelos 173 internos do Lar Torres de Melo, no bairro Jacarecanga, na manhã de ontem. Segundo o plano municipal de imunização, 778 anciãos e anciãs devem ser protegidos com a vacina, bem como 616 profissionais que atuam nesses locais.
No Lar, foram contabilizados 12 óbitos confirmados pela Covid-19, além de sete casos suspeitos e 141 internos recuperados, de acordo com a gerente de saúde Acácia Torres de Melo. A tristeza pelas perdas deu lugar ao entusiasmo e às palmas quando os primeiros moradores receberam a “picadinha”, nas palavras de José Pereira dos Santos, de 106 anos, o mais velho da instituição. “Tô livre”, emendou o colega Elcias Albuquerque Cosmo, 79, embora saiba que ainda precisa tomar a segunda dose do imunizante.
Mais cedo, os primeiros idosos institucionalizados do interior do Ceará foram vacinados em Sobral, na região Norte do Estado. O pioneiro foi José Milton de Oliveira, de 84 anos, que reside no Abrigo Sagrado Coração de Jesus. A unidade fica ao lado do hospital municipal de campanha Dr. Francisco Alves, que recebe pacientes com Covid-19.
Em todo o Ceará, outro mapeamento do MPCE com informações fornecidas pelas entidades mostra que, em 2020, houve 671 casos confirmados de Covid-19 em idosos e 68 óbitos provocados pela doença pandêmica. O promotor de Justiça e integrante do Grupo Especial de Enfrentamento à Pandemia, Hugo Porto, afirma que já ocorria o monitoramento da aplicação de doses contra a H1N1 e que continuará acompanhando a evolução sobre o novo imunizante por meio de formulários eletrônicos.
“Estamos mantendo todos os cuidados e tivemos um amadurecimento natural por causa do tempo que passou. Temos acompanhado a situação com colegas promotores de cada comarca, que têm empreendido todos os esforços. Estamos muito atentos”, explica o promotor.
Planejamento
Em transmissão ao vivo realizada na semana passada nas redes sociais, com a gestão de cinco ILPIs de Fortaleza, o MPCE destacou que a vacinação também deve ser destinada de forma prioritária aos funcionários das instituições, tendo em vista que estes podem ser fator desencadeador de contaminação dos idosos institucionalizados.
A titular da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Ana Estela Leite, confirmou que 100% dos idosos e pessoas com deficiência institucionalizadas – são 112 na cidade, somados a 96 trabalhadores de residências inclusivas – devem ser contemplados nesse primeiro momento. Além deles, 30% dos profissionais de saúde da linha de frente contra a Covid-19, cuja imunização ocorrerá durante os plantões, por pelo menos uma semana.
“Com as próximas doses que venhamos a receber, vamos concluir os profissionais de saúde e iniciar a dos idosos acima de 75 anos, que será nos domicílios. Eles vão fazer agendamento pelo aplicativo Mais Saúde Fortaleza, que ainda não está disponível. Primeiro, precisamos saber quantas doses vêm e quantos agendamentos vamos fazer. Não precisa procurar os postos de saúde ainda”, ressaltou a secretária Ana Estela.
O biomédico e microbiologista Samuel Pereira explica que os idosos institucionalizados convivem em residências com aglomerações e, como muitos são imunodeprimidos – cujos mecanismos normais de defesa contra infecções estão comprometidos – ou portadores de doenças crônicas, podem desenvolver formas mais graves da Covid-19.
Só na Capital, 3.268 idosos com mais de 60 anos perderam a vida desde o início da pandemia, de acordo com a plataforma IntegraSUS. O número representa 76,7% dos 4.259 óbitos registrados até a tarde dessa terça-feira. A nível Ceará, o percentual se assemelha: 78% dos 10.240 mortos eram idosos, totalizando a partida de 8.002 anciãos e anciãs.
Bem-estar
Quem já está mais tranquila é Sebastiana da Silva Ramos, que em 2021 completa 70 anos de idade, dos quais há mais de 10 mora no Lar Torres de Melo. Para ela, o período da pandemia foi ainda mais complicado, mas entrar na fila para receber o imunizante, na quadra da instituição, abriu um novo horizonte de vivências.
“Tô feliz. Foi difícil de a gente passar. Com medo de pegar, ficamos tudo escondido no quarto. A gente escutava música, só isso”, conta a idosa. Ela não perdeu amigos, mas lembra que “morreu gente”. “Agora, eu espero que fique tudo bem e que esse coronavírus se acabe”, projeta, com os olhos sorridentes e a face alegre por baixo da máscara que já se acostumou a usar.
O promotor de Justiça Hugo Porto reitera que a saúde mental e o bem estar das pessoas institucionalizadas também são acompanhados, e que a vacina traz expectativas positivas para o futuro. “A gente sabe das dificuldades, 2020 foi um ano desafiador, mas a vacina traz esse respiro. Lógico, ainda é preciso cumprir as duas etapas e manter as devidas medidas sanitárias, mas é uma grande esperança para que a vida possa voltar à normalidade”, estima.
Vacina
A secretária Ana Estela Leite alerta: a vacina hoje é a única arma disponível para combater a pandemia do novo coronavírus. “Quisera nós termos vacina suficiente para todos. O mundo ideal é que a gente vacine pelo menos 70% da população para barrar a circulação do vírus. Para o público que está indeciso, não precisa ter medo. Os efeitos adversos são muito pequenos, como o de várias vacinas que temos no calendário normal. É mais fácil temer a doença, porque ela pode ser grave e matar”, reforça a gestora.
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