Ceará

37 cidades do Ceará ainda não aplicaram a primeira dose em todos os idosos acima de 75 anos

Deste total, 7 estão com porcentagem abaixo dos 90%. Especialistas alertam para o risco que este grupo em específico corre

Todas as 184 cidades cearenses já iniciaram a aplicação do imunizante contra a Covid-19 no público geral, isto é, em pessoas acima de 18 anos sem comorbidades. Este é um dado relevante na caminhada de combate à pandemia. No entanto, ele contrapõe-se a uma realidade ainda vivenciada em 37 municípios. 20% das cidades do Estado ainda não aplicaram a primeira dose em todos os idosos acima de 75 anos.

Conforme alertam os especialistas, o grupo de idosos é um dos mais vulneráveis devido à fragilidade do sistema imunológico. A contaminação com o vírus SARS-CoV-2 pode incidir em sintomas graves e até evoluir para óbito. Das 22.627 mortes registradas no Ceará, 9,270 foram em idosos com mais de 75 anos, o que representa quase 41% do total. Este índice externa a importância da imunização contra o novo coronavírus.

VACINÔMETRO NO CEARÁ | COVID-19

Atualizado 2/7, 21h19

Total de doses recebidasDoses aplicadasReceberam 1ª doseReceberam 2ª doseReceberam dose única
4.963.8184.465.0803.279.2301.129.40056.450
Fonte: Secretaria da Saúde do Ceará
Obter dados Criado com Datawrapper

Dos 37 municípios que ainda não finalizaram a aplicação da D1 em idosos acima dos 75 anos, três (Baturité, Pindoretama e São Gonçalo do Amarante) possuem índice inferior aos 80% e, quatro cidades (Eusébio, Paracuru, Pentecoste, Quixelô) têm porcentagem menor que 90%.

O pior cenário é no município de Baturité. Das 1.460 doses destinadas à D1 para este público, apenas 581 foram aplicadas, o que representa porcentagem de 40%. Os dados foram extraídos, às 8h42 desta sexta-feira (2), da plataforma Vacinômetro, da Secretaria da Saúde (Sesa), do Ceará. 

Riscos à saúde 

O médico infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ivo Castelo Branco, alerta para uma série de consequência ocasionada pela não vacinação totalitária dos públicos, sobretudo quando se refere a idosos.

Segundo ele, “estudos comprovam que a taxa de letalidade em idoso é maior que a de outras idades, devido às comorbidades inerentes à idade e ao sistema imunológico enfraquecido”.

Atualizado em 2/7, 21h24

CearáNordesteBrasil
Nº de Casos889 9474 418 92618 687 469
Nº de Óbitos22 692106 947521 952
Fonte: Ministério da Saúde/Sesa Descarregar estes dados Criado com Datawrapper

Ele reforça que a única forma de se proteger contra essa doença que já matou mais de meio milhão de brasileiro é através da vacina. “Pessoas que tomam as duas doses do imunizante podem até ainda contrair o vírus, mas terão sintomas brandos ou inexistentes. Sem a vacina, as pessoas correm um grande risco”, avalia.

Outro ônus da não vacinação diz respeito a sociedade na totalidade. O especialista explica que para atingir a imunidade de rebanho, é preciso imunizar, com as duas doses, cerca de 75% da população geral. “Se grupos estão descobertos, levaremos mais tempo para atingir esse número e demoraremos a vencer a pandemia”, acrescenta. 

Meta defasada

O médico e assessor técnico da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece), Nilson Diniz, considera “irreal” o número de cidades (37) sem aplicação total das vacinas aos idosos. Segundo ele, a meta estipulada pela Sesa é baseada no Censo de 2010 do IBGE, o que, segundo ele, estaria defasada.

“Muitos municípios já aplicaram todas as doses. A porcentagem aparece baixa, pois não há mais em quem aplicar devido à meta superestimada. A Aprece, diversas vezes, já alertou à Sesa quanto a esse problema” Nilson Diniz Assessor técnico da Aprece

O secretário da Saúde de Paracuru, Ângelo Luis Leite Nóbrega, concorda e sugere que a meta, no Município, esteja superestimada, “assim como ocorreu com os Quilombolas, cuja meta estava acima da realidade”. Ele, contudo, não apresentou quais números, segundo o Município, seriam os corretos.

“Não estou afirmando que está, mas, ainda que com uma diferença pequena, há uma possibilidade [de a meta estar superestimada]”, avaliou. Segundo a Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado, Paracuru tem 1.578 idosos acima de 75 anos, dentre os quais 174 ainda não foram imunizados. 

Busca ativa

Para as cidades que, na prática, ainda possuem idosos a se vacinarem, Nilson Diniz, aponta como alternativa para alcançar a totalidade da vacinação deste grupo “que possui especificidades”, como a possível dificuldade de locomoção ou reduzido acesso à informação, a busca ativa, realizada através de equipes da atenção primária, como os agentes de saúde. 

É essa a estratégia que tem sido adotada pela cidade de Quixelô, no Centro-Sul do Estado. A assessoria de comunicação do Município informou que tem realizado mutirões e buscas ativas, sobretudo nas zonas rurais.

“Hoje estamos fazendo um mutirão com mais de 600 pessoas, certamente existem idosos dentro dessa faixa etária. Outra ação é visitar as zonas rurais, o problema é que nem todos os imunizantes nos dão essa possibilidade, já que alguns deles têm recomendações específicas de acondicionamento e transporte”.

Outra “dificuldade” apontada pela assessoria do Município para contemplar a totalidade deste grupo com a primeira dose é a recusa de alguns idosos. Para estes que se negam a tomar a vacina, “a Secretaria da Saúde pede que seja assinado um termo de responsabilidade”. Quixelô tem, segundo a Sesa, 220 idosos que ainda não receberam a primeira dose.

O secretário de Paracuru, Ângelo Luis, explica que o Município tem “realizado busca ativa desses idosos, incluindo vacinando essa população em casa” e investido em comunicação “para alerta a importância da vacina e do cadastro” no Saúde Digital.

Ângelo Luis, por fim, acrescenta que, assim como na cidade de Quixelô, há “um contingente de pessoas negacionistas, que não querem tomar a vacina”.

Para superar “o receio” das pessoas que se recusam a se vacinar, Ivo Castelo Branco sugere investimento em comunicação. “Rádio, carro volante, internet, enfim, é importante levar, de todas as formas, informação à população. Todas as vacinas são seguras e eficientes. Isso já está comprovado por diversos estudos”, finaliza. 

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Marcio Sousa

Editor chefe, Radialista profissional e Diretor de Programação da Taperuaba 98,7 FM

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