Educação

Escolas públicas no Ceará aplicam provas para avaliar impactos da pandemia no aprendizado dos alunos

Análise é necessária para planejar melhor o segundo semestre letivo, que deve iniciar de maneira híbrida no Estado

Para preparar a volta às aulas — de maneira híbrida, ou seja, presencial e remota — no segundo semestre letivo, municípios cearenses estão aplicando avaliações diagnósticas em estudantes da rede pública para entender o tamanho do prejuízo de aprendizagem acumulado da pandemia de Covid-19.

Neste um ano e meio de aulas remotas, os alunos do ensino infantil aprenderam a ler e a escrever na idade certa? Os mais velhos estão compreendendo os conteúdos das disciplinas da grade curricular? Quais habilidades não foram desenvolvidas ou precisam de reforço? E como fazer essa recuperação?

Até a penúltima quarta-feira (30), 166 cidades tinham concluído os exames do 9º ano. Outras 121 seguem avaliando o ensino médio e 100 examinam o ensino infantil.

Segundo a secretária estadual da Educação (Seduc), Eliana Estrela, o diagnóstico é necessário para observar os impactos do ensino remoto e híbrido sobre a aprendizagem dos alunos, que considera ter ficado “a desejar”.

Além disso, como não houve, ano passado, a aplicação do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica (Spaece), ela comenta que a gestão escolar precisava de outro instrumento para diagnosticar os déficits e tomar decisões.

“A gente chama de avaliação diagnóstica porque é uma prova de conteúdo, pra saber se [os alunos] estão conseguindo ler, se estão acompanhando o conteúdo. É um diagnóstico pra trabalho interno”. Eliana Estrela Secretária da Educação do Ceará

Orientadora da Célula de Avaliação e Desempenho Acadêmico da Seduc, Ana Paula Pequeno detalha que o diagnóstico do impacto da Covid-19 na aprendizagem é por amostragem e utiliza uma matriz alinhada ao Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) do Governo Federal.

Os resultados, segundo ela, devem oferecer diagnósticos tanto para a gestão educacional dos municípios quanto do Estado. Além disso, serão comparáveis ao Saeb e “poderão trazer um olhar acerca das trilhas históricas que percorremos no cenário nacional”.

Em Fortaleza, que reúne o maior número de estudantes matriculados na rede municipal no Ceará, também deve ser aplicada a avaliação diagnóstica proposta pelo Governo. No entanto, somente no retorno às aulas híbridas, segundo informou por telefone a assessoria de imprensa da Secretaria da Educação da Capital (SME). Ainda não há data definida para essa volta.

Cenário

No Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza, além da avaliação por amostragem no 9º ano do ensino fundamental, estão sendo aplicadas por gestores da Secretaria Municipal da Educação provas censitárias — ou seja, em todos os alunos — no 2º, no 3º e no 5º ano.

A intenção, segundo o secretário municipal da Educação, Júlio Alexandre, é que as 39 escolas da rede saibam precisamente a situação de aprendizagem dos estudantes. “Estamos há um ano e meio em pandemia, em aulas remotas, e pretendemos retornar no segundo semestre com aulas híbridas. Precisávamos desenvolver um diagnóstico muito fidedigno”, afirmou.

Legenda: As avaliações diagnósticas foram aplicadas de maneira híbrida, tanto no formato digital quanto impresso.
Foto: Divulgação/Prefeitura do Eusébio

Com resultados em mãos, ainda segundo o secretário, será possível não só planejar melhor o segundo semestre letivo como, também, checar a necessidade de reformulação de material didático, de formação de professores, de construção de políticas públicas educacionais de recuperação da aprendizagem e até de atendimento a necessidades específicas dos alunos.

Algumas evidências já se mostram preocupantes. Como, por exemplo, a ausência de alguns estudantes às avaliações, que são presenciais; a falta de acesso a equipamentos tecnológicos com conexão à Internet e os impactos socioemocionais da Covid-19 tanto nos jovens quanto nas suas famílias. Além disso, em diagnósticos internos de aprendizagem feitos em outros momentos deste ano, foi constatado perda de aprendizagem em quase todas as disciplinas.

“Aulas remotas são importantes. Entretanto, somente elas não conseguem assegurar as aprendizagens curriculares”, observa o gestor municipal. Por isso, ele adianta que uma estratégia já definida para o segundo semestre é a ampliação da jornada escolar.

Recuperação

O aumento da carga horária também compõe uma das três estratégias já definidas pela gestão educacional de Sobral no retorno às aulas — de forma híbrida. Além dessa, segundo o secretário da Educação do município, Herbert Lima, estão sendo propostos o reforço no contraturno e o desenvolvimento de materiais específicos para solucionar os déficits de aprendizagem diagnosticados tanto na avaliação do Estado quanto nas internas das escolas.

“Para sanar as habilidades que o estudante eventualmente não conseguiu desenvolver, assimilar. O diagnóstico é importante para isso”, destacou o gestor.

Em Sobral, de acordo com Herbert, a avaliação diagnóstica específica sobre a pandemia foi concluída ao fim do último mês de junho, tendo sido aplicada de maneira híbrida no 2º, no 5º e no 9º ano das 50 escolas. “Os indicadores vão orientar estratégias de recuperação”, reforça.

Como consequência de um ano e meio de aulas remotas, o secretário prevê pelo menos um ou dois anos para recuperar a aprendizagem perdida.

“Enquanto houver lacuna de aprendizado e isso estiver evidenciado [em avaliações diagnósticas], a gente vai estar remodelando a estratégia de recuperação”.   Herbert Lima Secretário da Educação de Sobral

Lacunas cognitivas

A Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) Capelão Frei Orlando, no município de Canindé, no interior do Estado, concluiu há poucos dias a avaliação diagnóstica. Lá, a aplicação foi amostral, somente com alguns estudantes do 3º ano do ensino fundamental e com questões de Língua Portuguesa e Matemática, que, segundo Ana Paula Pequeno, da Seduc, são historicamente considerados “os componentes curriculares basilares para o aprendizado das demais áreas do conhecimento”.

Para a escola, os exames têm a missão de “diagnosticar as lacunas cognitivas que o ensino remoto possa deixar”, explica a diretora, Idayana Bezerra.

Segundo Idayana, o processo de adaptação de estudantes e professores ao ensino remoto tem sido desafiador para todos. No que se refere aos professores, ela diz, devido à busca por “estratégias e ferramentas tecnológicas que subsidiem a dinâmica do ensino” e, no que se refere aos alunos, à necessidade de “autogestão junto aos compromissos demandados”.

“Ainda em março de 2020, quando houve a interrupção das aulas presenciais, o núcleo gestor e os professores buscaram analisar a proposta curricular de cada disciplina para que os conteúdos prioritários tivessem a garantia de aplicação”, disse a diretora. Além disso, foi priorizado o contato permanente com os estudantes e suas famílias a fim de coibir a evasão.

Alinhamento de gestão

Diagnosticar defasagem educacional não é tarefa inédita nas escolas públicas do Ceará. Tanto que, além da avaliação referente à pandemia, são aplicadas avaliações internas em cada escola e há outras coordenadas pelo Estado, como o Protocolo do Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic), por exemplo, que intencionam “capturar o avanço das aprendizagens e proporcionar aos gestores e professores um diagnóstico detalhado acerca das lacunas cognitivas que impedem os estudantes de prosseguirem aprendendo”, diz Ana Paula Pequeno.

“Para cada avaliação dessa, temos produtos que visam o gestor de rede [secretários da educação], gestores escolares [diretores e coordenadores pedagógicos] e gestores de sala de aula [professores]”, conclui a orientadora.

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Rosana Teofilo

Editora, Radialista profissional e presidente da Taperuaba 98,7 FM

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