‘Caronas’ irregulares crescem no interior do Estado durante pandemia
O serviço realiza transporte irregular de passageiros e encomendas entre Fortaleza e o Sul do Estado. Viagem pode custar até R$ 150. Quem for flagrado, pode receber multa e ter o veículo apreendido
Após autorizar o retorno do transporte intermunicipal de passageiros no último dia 10, o Governo do Estado manteve a proibição em, pelo menos, cinco municípios: Juazeiro do Norte, Crato, Iguatu, Barbalha e Brejo Santo. Todos estes permanecem em isolamento social mais rígido e, por isso, não podem ofertar o transporte de passageiros. Sem este serviço, cresceu o número de pessoas que oferecem a viagem entre o interior e a capital cearense, de maneira irregular, mascaradas de “carona”.
A prática está cada vez mais popular nas redes sociais. Numa rápida pesquisa pelo Facebook é possível encontrar motoristas oferecendo abertamente os trajetos. O mesmo acontece no aplicativo de mensagens WhatsApp. Alguns, inclusive, ofertam a opção de pagamento por cartão de crédito.
Nossa equipe de reportagem tentou contato com alguns dos perfis que oferecem este transporte, incluindo entrega de encomendas. Entre Iguatu e Fortaleza, por exemplo, o preço da viagem varia de R$ 75 a R$ 100. Outro motorista, de Juazeiro do Norte, destaca que pode “pegar e deixar em casa para maior comodidade. Não precisa pegar Uber ou ônibus”, ressalta. Neste caso, o valor da viagem até Fortaleza é R$ 150 por passageiro, podendo ser transportado até quatro pessoas no veículo.
Regulação
O transporte intermunicipal de passageiros só pode ser permitido pela Agência Reguladora do Estado do Ceará (Arce), independente do veículo. “Acontece através de uma concessão. Os clandestinos, coibimos”, reforça o presidente do Conselho Diretor da Arce, Hélio Winston Leitão.
Com a pandemia, mesmos os transportes regulares nos municípios autorizados a ter este serviço devem obedecer a uma série de protocolos sanitários. Conforme o decreto, a atividade só será autorizada se viabilizar a medição da temperatura dos passageiros antes do embarque, proibindo a viagem de quem estiver com temperatura igual ou superior 37,8°C.
Além disso, o embarque só acontece com o uso obrigatório de máscaras de proteção pelos passageiros e demais tripulantes; promover a limpeza e desinfecção obrigatórias dos veículos antes e ao término de cada viagem, priorizar a venda de passagens pela internet ou meios digitais e impedir o transporte de passageiros em pé no veículo, durante todo o trajeto.
O serviço também deverá instalar medidas para o cumprimento do distanciamento mínimo nos terminais de embarque e desembarque, como a demarcação da distância de dois metros nesses locais e ainda disponibilizar álcool gel 70% aos passageiros, junto a informações sanitárias sobre higienização e cuidados para a prevenção da covid-19.
Fiscalização
Hélio Winston Leitão reforçou que há um convênio entre a Arce e o Departamento Estadual de Trânsito (Detran/CE) para fazer a fiscalização.“O transporte clandestino sempre existiu, mas com a pandemia, estamos recebendo muitas denúncias. Há fiscalização em várias partes do estado. Estamos fazendo de forma planejada e algumas bem pontuais”, observou.
O trabalho será intensificado com um novo convênio que será fechado entre a Arce e a Polícia Rodoviária Estadual (PRE). “Ainda não discutimos os números (de angentes), mas será uma ação ampla”, garantiu. Os motoristas que forem flagrados fazendo o transporte irregular de passageiros sofrerão multa e, se não apresentar documento que comprove a regularização, terão seus veículos apreendidos.
Cuidados
O médico infectologista Michel Abdalla enxerga vários problemas no transporte irregular de pessoas, começando pelo envio de encomendas que podem causar uma contaminação.“Este material sai de um centro urbano maior, com um maior número de casos e há chance de levar um material contaminado na superfície. No seu destino, se não tem higienização, acaba contaminando uma população do interior que já tinha um número mais contido de casos”, pontua.
Já o trânsito de pessoas em si pode ser a porta de entrada de surtos e aumento de casos, pois, além do próprio passageiro ser um transmissor, as condições do veículo podem causar a contaminação.
“Há a aglomeração, seja num pau-de-arara, topique ou carro pequeno com pessoas amontoadas no interior, sem distanciamento e durante período de tempo longo de viagem, com vidro fechado, em ar condicionado, por exemplo. Ainda há a questão de higienização de estofado de banco, portas, plásticos que podem ser locais contaminados”, descreve Abdalla.
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