Após aumento da gasolina, veja quais produtos devem ser afetados com reajuste de preços
Segundo economista, é esperado um aumento de preços generalizado, que deve começar a ser percebido pelos consumidores nas próximas semanas
A Petrobras anunciou na última quinta-feira (10), um novo reajuste na gasolina e no diesel, que passa a valer a partir desta sexta, aumentando os preços em até 24,93% nas refinarias. O aumento nos combustíveis é reflexo do cenário internacional de alta no preço do barril de petróleo, em razão da guerra na Ucrânia.
Na última segunda-feira, a commodity alcançou o patamar de US$ 149, maior preço desde 2008. O esperado para os próximos dias é ainda mais volatilidade, com a possibilidade de o valor do barril subir ainda mais à medida que sanções comerciais são aplicadas à Rússia, uma das principais produtoras de petróleo do mercado.
Para além da alta dos preços nas bombas, o petróleo mais caro tem efeito de cadeia praticamente todos os produtos em razão do preço dos fretes.
De acordo com o professor de economia e finanças da UFC Sobral Marcel Moraes, é esperado um aumento de preços generalizado, que deve começar a ser percebido pelos consumidores nas próximas semanas.
Alta do petróleo
Marcel explica que o petróleo é uma commodity que tem uma elasticidade de preço bastante alta, suscetível a variações por diversos motivos que afetem de alguma forma a oferta e a demanda. Mas, a situação do momento é excepcional.
“Agora a gente tá vivendo algo bem excepcional que é um momento de guerra que um dos países envolvidos é um grande produtor e exportador de petróleo, que é a Rússia. A partir do instante que a Rússia tá envolvida com essa guerra e é exportadora para vários países do mundo, vai gerar um impacto sobre o preço do produto”. Marcel Moraes professor de economia e finanças da UFC Sobral
Diante da guerra, a Rússia tem recebido sanções econômicas que afetam a oferta do petróleo no mercado internacional. Uma forma de países interferirem indiretamente é deixando de comprar produto do país. Na última terça-feira (8), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, proibiu a importação de petróleo e derivados da Rússia.
Para além do preço do produto no mercado internacional, como o petróleo tem valor dolarizado, o câmbio também influencia diretamente no valor em que o produto chega no país. Conforme o economista do FGV Ibre André Braz, a valorização do real perante o dólar na última semana evitou impactos ainda mais severos.
Mesmo assim, os efeitos dessas variações no mercado internacional devem ser sentidos para além dos postos de gasolina.
Produtos afetados
Quando o petróleo sobe, sobem também os preços dos derivados, incluindo gasolina, diesel, gás de cozinha e querosene de aviação. A alta dos combustíveis aumenta os custos do frete que, por consequência, chega também no preço dos produtos finais transportados.
“O diesel movimenta caminhões para frete, movimenta ônibus na cidade, máquinas no campo e todas essas pressões fazem com que o aumento do diesel seja maior, porque vai impactar custo de outros segmentos comerciais. A gente vai ter um impacto direto, com um aumento do IPCA em março e abril por conta da alta da gasolina”, projeta André.
O economista acredita que deve haver um aumento no preço das passagens de ônibus urbanos. Para ele, a pressão nos custos deve acabar sendo repassada em algum grau para o consumidor mesmo diante de um ano eleitoral.
Segundo ele, o agronegócio também pode ser impactado pela alta devido a alguns agrotóxicos serem produzidos a base de petróleo. O efeito final deve ser sentido pelo consumidor nas prateleiras dos supermercados.
“Na mesma forma na construção civil, o cano de PVC vai subir. Sacolinhas plásticas, garrafas de refrigerante e embalagens plásticas em geral podem subir. Indústria automobilística também. Se os custos nessas indústrias aumentarem por conta da matéria prima, pode levar a um aumento de preço dos produtos industrializados. Até roupa pode sofrer o aumento do custo do petróleo”. André Braz economista do FGV Ibre
Marcel destaca que o aumento nos produtos deve ocorrer de forma heterogênea. Produtos vindos de fora do estado devem ter alta de forma mais rápida pelo aumento do preço do frete.
Segundo Davi Azim, conselheiro do Conselho Regional de Economia (Corecon) no Ceará, outros produtos que podem subir de preços são os que estão relacionados à cadeia do agronegócio, como a soja, por conta do encarecimento do frete. Com os combustíveis mais caros no País, a tendência é que o custo do transporte em geral também seja elevado, impactando passagens de ônibus e até, possivelmente, tarifas de serviços por aplicativos.
A perspectiva é corroborada pelo economista Ricardo Coimbra, que ainda destacou a elevação de preços dos produtos industrializados em geral, por conta do aumento de custos de insumos e transporte de mercadorias. Ele contudo, ponderou, que o Brasil já está passando por um processo inflacionário, então parte dos aumentos sentidos pode não estar relacionado apenas à valorização do barril de petróleo no mercado internacional.
“A nossa cadeia produtiva no Brasil depende muito dos combustíveis, então devemos ter altas na maioria dos produtos industrializados. Ainda temos a alta no transporte público, assim como táxis e aplicativos. Mas já temos um processo geral de inflação, então precisaremos analisar bem para saber se tudo é só impacto do petróleo ou das outras variáveis que estão ocorrendo no mercado”, analisou Coimbra.
Veja alguns produtos e serviços que podem ficar mais caros:
- milho
- trigo
- pães
- biscoitos
- frutas
- hortaliças
- passagem de ônibus
- tarifa de táxis e Ubers
- produtos industrializados
- soja
- gasolina
- gás de cozinha
- plásticos
- embalagens
- celulares
Aumento na inflação
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação no país, fechou 2021 em 10,01%, bastante acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para 2022, era esperada uma redução do índice, fechando ainda acima da meta, mas com uma distância menor do teto.
A guerra e os impactos no preço dos combustíveis, contudo, alteram as expectativas.
“Se de fato não tivesse o conflito, a expectativa é que a gente teria uma inflação acima da meta, mas com uma distância pequena. A gente teria uma inflação no máximo em torno de 5,2%, bem diferente do ano passado. Como houve a guerra, muda tudo no Brasil e no mundo. Agora, a expectativa é de uma pressão inflacionária muito grande”, ressalta André Braz.
O economista afirma que ainda é cedo para estimar, mas já calcula que a inflação deve fechar o ano por volta de 7% ou mais, mesmo que a guerra findasse.
“A guerra está acontecendo e o mundo está fazendo um embargo. Não adianta só parar a guerra, ninguém vai deixar de fazer embargo por mais que a guerra pare amanhã. Quanto mais tempo o petróleo durar nesse patamar de preços, mais ele vai pressionar a inflação no nosso país e no restante do mundo”, pontua.
Para Marcel, o impacto do conflito deve ser percebido nos IPCAs de março e abril, mas é preciso esperar para ver os resultados dos próximos trimestres para fazer uma previsão exata da trajetória do índice.
O professor explica que é difícil prever até que ponto o petróleo pode subir e como isso pode afetar o preço de outros produtos ao longo do ano. Mas algo é certo: haverá instabilidade.
“O que posso garantir é que ainda vamos ter muita volatilidade, até estabilizar vai demorar um pouco ainda. A gente ainda não sabe qual vai ser a nova configuração do comércio mundial depois da guerra”, diz.
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