Cenário das cidades com menores incidências de casos de Covid-19 no Ceará em 2022
Os 10 municípios com menor índice acumularam, juntos, 1.437 casos, o que representa menos de 1% do total de infectados no Estado ao longo de todo mês passado
As previsões em torno da variante Ômicron se confirmaram. A nova cepa, considerada desde o início de sua descoberta como de alta transmissibilidade, dizimou alguns dos números da pandemia até então, e fez o Ceará atingir um novo recorde de infectados, com mais de 160 mil casos em um único mês. Mas, algumas cidades cearenses conseguiram passar por janeiro sem grandes danos.
Dos 184 municípios, 10 – isto é, apenas 5,43% do total – fecharam o mês com taxa de incidência de infectados pelo vírus SARS-Cov-2 abaixo de 480 casos por 100 mil habitantes. Os números são do IntegraSus, plataforma oficial da Secretaria da Saúde (Sesa) do Ceará.
A taxa de incidência é importante para estimar o risco de ocorrência de casos de Covid-19 na população desses municípios. O cálculo leva em conta o número de casos confirmados, dividido pelo número de habitantes e multiplicado por 100 mil.
Para especialistas, é difícil apontar um único fator específico que justifique o baixo número de casos frente a explosão geral de infecções registradas não só no Ceará, mas em todo o País.
- Parambu – taxa de 161,8 (51 casos)
- Juazeiro do Norte – 251,3 (689 casos)
- Salitre – 259,8 (43 casos)
- São Benedito – 288,1 (138 casos)
- Potengi – 289,7 (32 casos)
- Ipu – 345,5 (145 casos)
- Várzea Alegre – 348,7 (142 casos)
- Tarrafas – 349,2 (30 casos)
- Umari – 375 (29 casos)
- Missão Velha – 378,7 (138 casos)
Contudo, ainda segundo estes profissionais, algumas ações desenvolvidas conjuntamente podem favorecer a baixa incidência de positivados. Soma-se a este pacote, o número diminuto dos habitantes de cada um desses municípios. Todos possuem menos de 16 mil moradores.
“Em um universo menor, é teoricamente mais fácil conter o vírus, pois há maior chance de implantar de forma efetiva as medidas restritivas. É, ainda na teoria, mais fácil fiscalizar, cobrar o uso da máscara e, também, a vacinação pode avançar mais rapidamente”, explicou a médica pediátrica Luana Barbosa.
Mas, o fato isolado de ter baixa população não é garantia de poucos casos, ressalta a médica. Juazeiro do Norte, por exemplo, é a maior cidade do Interior cearense, com mais de 275 mil habitantes e aparece como a 2ª melhor incidência de infectados em janeiro.
Cenário do Sul do Estado
Das dez cidades com menores taxas de incidência, sete estão situadas no Sul do Estado. A médica infectologista do Hospital Regional do Cariri (HRC), Sefora Pascoal, revela que o índice de pacientes internados está “bem inferior ao histórico das ondas passadas”.
Ao longo do mês de janeiro, o HRC atendeu 157 pacientes. Dentre os quais, 89 foram pacientes com exames positivados e 68 suspeitos ou com exames negativos
A assessoria do HRC ressaltou, porém, que este número contempla apenas aqueles pacientes que ficaram mais de 24 horas internados na unidade. A especialista afirma que “mesmo com a redução de leitos [devido à queda na demanda] todos os pacientes estão sendo atendidos e, atualmente, há uma queda nos atendimentos, muito devido à vacinação“
A secretária da Saúde de Juazeiro do Norte, Francimones Rolim de Albuquerque, credita o menor número de infectados, em relação a outra sregiões, à “aceleração da vacinação, a ampla testagem que possibilitou-nos isolar mais rapidamente os infectados, e ampliação das equipes de saúde”.
Contudo, apesar do atual índice de incidência, Francimones diz não estar satisfeita. De modo geral, no comparativo com as demais cidades, a posição é boa, mas, quando observado igual período do ano passado e analisados os índices do próprio município, o cenário muda.
“A incidência atual está alta em relação a janeiro de 2021”, diz. No entanto, naquele ano, a variante presente era a Delta, menos transmissível que a atual Ômicron.
“Apesar disso, a nossa taxa de mortalidade está bem baixa e a nossa curva das novas infecções,estabilizada e com tendência decrescente. Considero que isso deva-se ao processo de imunização”, completou Rolim.
Impacto da imunização
O principal papel da imunização contra a Covid-19, ou contra qualquer outro vírus, é evitar que o infectado desenvolva sintomas graves ou evolua para morte. É possível, no entanto, que o vacinado contraia a doença, mas com sintomas, na maioria das vezes, brandos.
Nestas 10 cidades, quatro não tiveram registro de óbito ao longo do mês passado, outras 4 fecharam janeiro com uma morte, cada, e Juazeiro do Norte – dada a sua densa população – registrou 12 mortes. Em todo o Estado, foram 526 registros fatais. Em comum entre estes municípios com os índices menores que os demais, está o avançado estágio do processo de imunização.
Em Salitre, cidade com terceiro menor incidência de Covid-19 em janeiro, 98,94% do público-alvo já foi vacinado com primeira dose (D1) e 92% com a D2. A secretária da Saúde do Município, Georgia Sousa, acredita que este tem sido o principal responsável pela redução dos casos e mortes.
“Fizemos uma grande mobilização [para imunização]. Essa campanha surtiu efeito e estamos perto de vacinar toda o público-alvo”, destacou Georgia.
Tarrafas, na 8ª melhor posição do Estado, está com 90% em ambas as doses. Todas as outras cidades que compõem a lista de menores incidências estão em situação parecida, conforme dados extraídos do Vacinômetro, da Secretaria da Saúde (Sesa) do Estado.
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Juazeiro do Norte, Umari e Potengi superaram a marca de 92% da D1 e se aproximam da marca dos 90% da D2. Parambu, detentor do melhor índice de incidência, atingiu 97% da primeira dose e, na D2, já passa dos 94%. Várzea Alegre, São Benedito, Missão Velha e Ipu já aplicaram todas as doses referente a D1.
A presidente do Conselho das Secretárias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems-CE), Sayonara Moura Cidade, reforça que, além de reduzir os possíveis danos à saúde do infectado, o “imunizante também reduz a carga viral ativa para transmissão e contágio“. Ou seja, o estágio avançado da vacinação está proporcionalmente ligado a redução dos casos de infecção.
Fiscalização, conscientização e testagem
O tripé mais citado dentre as Secretarias Municipais da Saúde ouvidas pelo Diário do Nordeste é o de fiscalizar o cumprimento das determinações sanitárias expressas no decreto, investir na conscientização da população e aplicar o maior número de testes.
“Realizamos em média 150 testes por dia nos 7 postos de testagem do Município”, destacou Georgia Sousa, secretária de Salitre. O número, ainda segundo a gestora, é três vezes maior que a média registrada na segunda onda.
Em Juazeiro do Norte, os testes também foram ampliados, garante a secretária Francimones Rolim. Segundo ela, foram, em média, 500 testes por dia em janeiro. “Um número bem superior se comparado a igual período do ano passado. Esse aumento deve-se a uma robusta compra feita pelo Município ainda em dezembro do ano passado”, disse. Ela, no entanto, não especificou a média de testes em janeiro de 2021.
“A disponibilidade de testes é essencial para o mapeamento da positividade e o controle dos contactantes’. Sayonara Cidade Presidente Cosems
Em síntese, Sayonara avalia que para conter o avanço da Covid-19 é importante um conjunto de variáveis que vão desde a “ampliação do horário de atendimento das Unidades, profissionais não adoecidos, aquisição e disponibilidade de testes e resultados disponibilizados oportunamente, com percentual de vacinados e acompanhamento domiciliar dos acamados”.
A representante do órgão lembra ainda que, após cerca de dois anos desde o início da pandemia, os profissionais estão melhor preparados para lidar com a doença. O conhecimento adquirido possibilita escolher melhores estratégias.
Segundo o secretário da Saúde de Umari, Josué Barros, o principal trunfo tem sido a “conscientização da população”. Ele avalia que, pelo fato de os “moradores entenderem a gravidade da pandemia” as medidas estão com maior adesão o que contribui com a redução na transmissão.
“Além disso, estamos com uma estratégia que vem dando certo desde a segunda onda, que é ampliar a testagem e faz bloqueio e isolamento dos casos positivos”, completou Barros. O secretário da Saúde de Tarrafas, Romerito Alcântara, reforça que, além do aumento na testagem no Município, as medidas adotadas ainda no fim do ano passado refletem os números atuais.
“Entre novembro para dezembro reforçamos as determinações, deixamos as restrições ainda maiores que as do decreto estadual. Avalio que isto tenha contribuído para termos poucos casos agora em janeiro”, detalhou Romerito.
Aumento futuro
Apesar dos baixos números de janeiro, é possível que ocorra um salto já nesta primeira quinzena de fevereiro. A médica infectologista Sefora Pascoal, alerta que desde o início da pandemia, o vírus tem tido um padrão. “Primeiro sobe em Fortaleza e, quando lá [na Capital cearense] está começando a cair, os casos aumentam nas cidades interioranas”.
“Podemos supor que, no Interior, o número de casos ainda vá aumentar nas próximas semanas”. Séfora Pascoal Infectologista
Georgia Sousa reconhece essa possibilidade de aumento em Salitre. Segundo ela, no fim de janeiro já se observou uma crescente nas confirmações, ainda que de forma sensível. “É possível este número aumento [em fevereiro], porém, estamos tomando as medidas necessárias para contê-lo”.
Atualmente, dos 8 leitos clínicos ofertados em Salitre, três estão ocupados. “Vamos seguir vigilantes e com todos os cuidados vigentes”, completou titular da Secretaria da Saúde.
Em Tarrafas, o secretário da Saúde, Romerito Alcântara também não descarta um futuro aumento dos casos. “Mesmo adotando todas as medidas e fiscalizando com rigor, sabemos do poder desta nova cepa. Identificamos um aumento na curva neste final de janeiro. Por isso, vamos reforçar ainda mais nossas ações, conscientizando a população, cobrando o uso da máscara e testando os moradores”.
Na cidade de Umari, o secretário da Saúde diz não observar uma linha de crescente, mas teme que, futuramente, haja um grande dano à saúde mental dos profissionais.
“Estamos conseguindo conter o avanço dos casos. Mas o grande desafio, caso essa força do vírus permaneça, é a parte financeira [para manter o quadro de profissionais que fora reforçado] e a carga de trabalho dos profissionais da saúde assim como a saúde mental deles”.
Para garantir esse suporte emocional aos profissionais que lutam na linha de frente há quase dois anos, o Município incluiu atendimento psicológico no hospital.
Parambu é outra cidade que já observa uma tendência de crescimento nos casos. O titular da Secretaria da Saúde, Luis Alves Neto revela que “já há aumento significativo nessa primeira semana de fevereiro [de novos infectados]. O crescimento no percentual de positividade dos testes RT-PCR mostra isso”. São realizados, em média, 45 testes por dia.
Desafios
Embora estas cidades tenham apresentado baixa incidência em janeiro de 2022, diante do poder de transmissão da nova cepa, a Ômicron, especialistas alertam para a importância da manutenção dos cuidados. “É preciso seguir vigilante”, pontua a infectologista Sefora.
Em Juazeiro do Norte e Parambu, por exemplo, os gestores apontam o temor de uma desmobilização da população. “O desafio maior é manter a população consciente dos riscos e da gravidade desta pandemia”, detalha Francimones Rolim.
Ela diz ser importante os moradores entenderem que, mesmo aqueles imunizados, é preciso a manutenção do uso da máscara e distanciamento.
O secretário de Parambu compartilha do mesmo pensamento. “Uma das maiores dificuldades que ainda encontramos é a falta de consciência das pessoas para os cuidados individuais”, acrescentou Luís Alves.
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