Bebês são os que mais morrem por Covid no Ceará entre população com menos de 19 anos
Crianças entre 0 e 4 anos representam mais da metade das mortes entre cearenses menores de idade
O alerta de prevenção contra a Covid-19 no Ceará se mantém aceso entre todas as idades – inclusive entre bebês. Os pequenos de 0 a 4 anos são os que mais morrem entre a população menor de 19 anos, conforme dados da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa).
De março de 2020 até esta quinta-feira (19), 196 cearenses de 0 a 19 anos morreram pelo coronavírus – dos quais 108 tinham até 4 anos de idade, o que corresponde a 55% do total.
Os outros óbitos foram de crianças de 5 a 9 anos (108), 10 a 14 anos (11) e adolescentes de 15 a 19 anos (60). Os números são do IntegraSUS, plataforma da Sesa, atualizados até 10:47 desta quinta (19).
4.974 bebês menores de 1 ano foram diagnosticados com Covid no Ceará, até 31 de julho de 2021, conforme boletim epidemiológico da Sesa.
Estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgado nesta semana mostrou que a tendência se repete em todo o País: 56% dos 1.207 crianças e adolescentes brasileiros mortos por Covid-19 em 2020 tinham até 4 anos de idade.
Cristiano Boccolini, pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz, alerta que o estudo derruba a crença de que os pequenos estão “imunes” à gravidade da infecção pelo coronavírus.
“Apesar de haver proporcionalmente menos óbitos nessa faixa etária, ainda assim as crianças são vulneráveis a adoecerem de forma grave e até falecerem por Covid-19.
O coordenador do estudo recomenda, por outro lado, que mães infectadas pelo coronavírus continuem amamentando os bebês, “se tiver condições físicas para isso”, uma vez que os benefícios da amamentação “superam os riscos de contaminação”.
“Não é só um resfriado”
A farmacêutica Izabel Bandeira vivenciou o susto de ver a caçula Marina, de 1 ano e 7 meses, ser diagnosticada com Covid, em julho deste ano. O teste foi realizado após o surgimento de sintomas “de qualquer outra gripe típica da idade”. Mas não era.
“Como mãe de criança pequena, a gente tem a mania de achar que é só um resfriado típico da idade, que dá pra tratar em casa. Mas é preciso procurar um médico, fazer o teste. Quando a gente lembra de que pode ser Covid, triplica a preocupação”, pontua Izabel.
Ela frisa que há histórico de asma na família e que, por isso, foi tão importante identificar a Covid, para tratar a falta de ar da filha da forma correta. Marina se recuperou completamente, e não transmitiu a doença para os pais nem para a irmã de 3 anos.
“Foi uma força-tarefa pra cuidar dela e garantir a segurança do restante da família. Minha outra filha passava o dia inteiro de máscara em casa, trocava de duas em duas horas.
‘Não devemos subestimar a doença’, alerta pediatra
Moacyr Oliveira, pediatra atuante em UTIs infantis, alerta que, apesar de geralmente manifestarem quadros leves, “não podemos subestimar a doença na criança nem a capacidade de transmissibilidade delas”.
“Na segunda onda, vimos muitos casos graves entre crianças, com internação em UTI. Recém-nascidos, crianças com problemas cardíacos, pulmonares ou de imunidade podem ter casos bastante graves da Covid”, salienta o médico.
Segundo o pediatra, os sintomas mais comuns de Covid em crianças são:
- Febre;
- Coriza;
- Tosse;
- Dor de cabeça;
- Náuseas e vômitos;
- Falta de ar, em casos mais raros.
Um dos fatores que expõem os pequenos à infecção pelo coronavírus é a imaturidade do sistema imunológico, “ainda em processo de adaptação, em crianças abaixo de 2 anos”, como explica Moacyr.
“Contato com adultos e levar crianças para ambientes fechados devem ser evitados. E manter higienizadas as superfícies que a criança entrar em contato, porque é um comportamento normal que ela explore e leve as mãos até a boca”, finaliza.
Casos assintomáticos também são perigosos
Michele Pinheiro, infectologista pediatra do Hospital Infantil Albert Sabin (HIAS), declara que são comuns os casos em que bebês e crianças chegam à unidade para exames pré-operatórios e se descobre que estão com Covid, sem sintoma algum.
De acordo com a médica, essa é uma das principais razões para manutenção do distanciamento, enquanto não houver população totalmente imunizada.
Michele afirma ainda que, apesar dos riscos, “os casos de mortalidade e de necessidade de UTI são raros na faixa etária pediátrica”, mas que se tornam mais perigosos sobretudo entre os bebês.
“As crianças menores de 1 ano são as que têm doenças mais graves e óbitos. Isso porque o sistema imunológico não está totalmente montado, e o coronavírus pode andar junto com outros vírus comuns a essa faixa etária, que também são graves”, finaliza.
Cristiano Boccolini, pesquisador da Fiocruz, reforça, então, o que já se sabe há quase um ano e meio: “os cuidados sanitários, como higiene das mãos e uso de máscaras tipo PFF2 e N-95, devem ser reforçados”.
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