Nove das 11 cidades em situação de emergência estão em áreas onde deve chover abaixo da média
A probabilidade de agravamento da crise hídrica desanima moradores. Em Cedro, comunidades rurais dependem de ações públicas para ter acesso à água
“A peleja vai continuar”. O desabafo da agricultora Sandra Batista, 39, moradora da comunidade Recanto do Odilon, na zona rural do Cedro, ecoa pelo Sertão cearense. A localidade onde ela vive está situada no Centro-Sul, uma das zonas mais críticas do Estado, cujo acesso a água é reduzido. Na última quarta (20), quando a Funceme anunciou probabilidade de 50% de chuvas abaixo da média nos próximos três meses, muitos se perguntaram: “E agora?” Essa indagação foi feita por Sandra.
Ela conta que há anos “sobrevive graças a água de cisterna e carros-pipas”. Nos últimos dois anos, rememora a sertaneja, “a chuva até que foi boa, mas a terra estava muito seca, foram muitos anos de estiagem”. Desta forma, a equação não bateu. Até choveu, mas não foi o suficiente para garantir recarga em parte dos açudes cearenses.
“Não tem água. Nem nos poços tem água. A turma cava e não acha nada. Tem seca que a gente anda 20 km para encontrar água. É muito sofrimento. A situação é muito difícil. A gente se apega em Deus para que a situação melhore”, relata Rosilvado Gomes Ferreira, 51, também morador da zona rural do Cedro.
O Município integra a lista das cidades cujo governo Federal reconheceu situação de emergência, por decorrência da seca. Além de Cedro, estão Deputado Irapuan Pinheiro, Itapajé, Jaguaretama, Madalena, Milhã, Mombaça, Monsenhor Tabosa, Parambu, Quixeramobim e Solonópole.
Todos eles estão em regiões “em que as chuvas devem continuar bem escassas”, conforme pontuou o secretário de Recursos Hídricos do Ceará, Francisco Teixeira.
Essas onze cidades terão acesso a recursos federais para ações de socorro, assistência e restabelecimento de serviços essenciais. O apoio, por meio do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), é complementar à atuação dos governos estaduais e municipais. Em Cedro, Marcos Pitombeira, chefe de gabinete da Prefeitura, disse que o “Município tem investido na perfuração de poços e cisternas, além de ofertar assistência por meio de carros-pipas”.
Crise hídrica
Além das cidades com situação de emergência declarada, há aquelas que enfrentam crise de abastecimento urbano. Segundo o último levantamento da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), realizado em setembro do ano passado, eram seis cidades nesta situação: Choró, Caridade, Mulungu, Salitre, Pedra Branca e Monsenhor Tabosa, única que está inclusa nas duas listas. Hoje (22), Cagece e Cogerh se reúnem para atualizar esse cenário.
O diretor de Operações para o Interior da Cagece, Hélder Cortez, frisou que o objetivo da avaliação é “além de atualizar os dados, traçar metas e avaliar o risco de crise hídrica caso ocorram recargas inexpressivas nos açudes estratégicos para o abastecimento das cidades na próxima quadra chuvosa”.
O atual cenário é menos delicado do que o verificado há um ano, quando a lista tinha 11 cidades: Acopiara, Itapiúna, Mombaça, Monsenhor Tabosa, Parambu, Piquet Carneiro e Salitre, que têm sistemas geridos pela Cagece. Iguatu, Icó, Milhã e Quixeramobim, com sistemas geridos por unidades autônomos, os SAAEs.
Baixa recarga
Pedra Branca e Monsenhor Tabosa têm uma das situações mais complicadas do Ceará. O Açude Trapiá, no primeiro município, acumula apenas 1,1%. Em Monsenhor Tabosa, o açude de mesmo nome permanece seco. A cidade com aproximadamente 17 mil habitantes tem sido abastecida por cerca de 30 poços profundos perfurados pelo governo do Estado nos últimos três anos.
“Essas regiões mais críticas têm tido atenção especial por parte do governo. Avançamos com a escavação de poços, construção de açudes e instalação de adutoras. O objetivo é alcançar uma gestão hídrica cada vez mais eficiente para, ao longo dos anos, dependermos menos da água da chuva”, concluiu Teixeira.
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