13 mil idosos com mais de 70 anos não tomaram a segunda dose da vacina contra Covid-19 no Ceará
Além de atrasos, os dados também refletem pessoas que morreram por várias causas ao longo dos últimos meses
Cerca de 2,2% dos cearenses com mais de 70 anos não completaram a vacinação contra Covid-19 até o último domingo (6), de acordo com o vacinômetro mais atual da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Embora o percentual seja pequeno, representa 13.558 pessoas sem proteção completa contra a doença pandêmica.
Entre os cearenses com mais de 70 anos, 616.791 pessoas receberam a primeira dose; destas, 603.233 concluíram a imunização com a segunda. O percentual da aplicação da chamada D2 é de 97,8%.
O primeiro grupo de idosos contemplado no Ceará, daqueles que vivem em instituições de longa permanência, começou a ser vacinado em 19 de janeiro. Desde então, 2.248 receberam a D1 e, 2.160, a D2. Faltaram 88, o equivalente a 3,91% do total.
O segundo grupo, de idosos acima de 75 anos – que começou em 27 de janeiro -, é o que apresenta maior percentual de cobertura até o momento: 98,94%. Dos 377.669 que receberam a D1, 373.684 completaram o esquema com a D2. Ainda assim, faltaram 3.985.
Já o terceiro grupo, de idosos entre 70 e 74 anos, começou a ser imunizado no fim de março. Foram 236.874 imunizados com a D1, e 227.389 com a D2. Faltam 9.485, cerca de 4% do total.
Contudo, neste último grupo, ainda há pessoas na janela de imunização para a vacina Oxford/AstraZeneca, que é de até três meses. Em Fortaleza, por exemplo, cuja aplicação começou em 24 de março, há a oportunidade de completar o esquema até 24 de junho.
VACINÔMETRO NO CEARÁ | COVID-19
Atualizado em 8/6, 19h00
Receberam 1ª dose | Receberam 2ª dose | Doses recebidas |
---|---|---|
1.978.458 | 1.088.115 | 4.002.190 |
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Em abril, a secretária-executiva de Vigilância e Regulação da Sesa, Magda Almeida, elencou algumas possibilidades sobre a ausência de 16 mil cearenses no retorno para a segunda dose da Coronavac que também podem se aplicar a esse cenário:
- contrair Covid ou estar com sintomas gripais, que são contraindicações para tomar a vacina;
- eventos adversos moderados ou graves, que também restringem a aplicação da D2;
- esquecimento da data agendada;
- falecimento.
Este último motivo não é incomum: de 1º de março a 8 de junho, 5.042 cearenses com mais de 70 anos faleceram no Estado, de acordo com dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen) baseados em registros de óbitos dos cartórios.
As informações se referem não apenas a mortes por Covid-19, mas também por outros motivos. Independente da causa, uma parcela deles iniciou o esquema contra a Covid-19, mas morreu antes de receber a D2.
Para Lígia Kerr, médica epidemiologista e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), também houve dois grandes obstáculos na vacinação da primeira fase: a falta de vacinas e a necessidade de agendamento em dispositivos eletrônicos.
“O Governo Federal autorizou que os Estados utilizassem todas as vacinas com a promessa de que depois receberiam mais, mas faltou segunda dose. Além disso, os idosos são o grupo com maior chance de morrer, mas também têm dificuldade de lidar com os equipamentos para esse processo de marcação necessário por causa da falta de vacina” Lígia Kerr Professora da UFC
A especialista aponta que o ideal é que os idosos fossem vacinados nas próprias unidades de saúde onde já são acompanhados. “Não tem que ter complicação na hora de vacinar. Toda vez que você tem um empecilho, é uma perda de oportunidade”, afirma.
Atraso no esquema
Alvo da primeira fase da campanha, a idosa Maria Alice de Melo Ferreira, de 90 anos, ainda não recebeu a segunda dose da AstraZeneca, cujo prazo máximo expirou no último dia 27 de maio, de acordo com a sobrinha, Anele Melo.
“A primeira que ela tomou foi em casa. Ela mora no Mondubim, mas até agora não foram vacinar”, conta.
Os pais de Anele, Valeriano Caetano e Aurélia de Melo, de 94 e 87 anos, respectivamente, também precisaram enfrentar atraso. Vacinados com a D1 em 12 de fevereiro, só vieram a receber a segunda dose no último dia 4 de junho, 22 dias após o prazo máximo.
Socorro Araújo, filha de Marcelina Alves de Araújo, de 98 anos, também lutou bastante até chegar a vacina da mãe. A idosa deveria ter tomado a D2 da AstraZeneca até 12 de maio, mas só recebeu no dia 28, com 16 dias de atraso.
“Acho uma falta de respeito porque, se eles são prioridades e se eles (autoridades) têm um controle de tudo, então saberiam que ela tinha que tomar a segunda dose naquela data”, reclama Socorro.
Para minimizar o problema, em live nesta terça-feira (8), a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Fortaleza destacou que idosos com mais de 60 anos, residentes na Capital, que se cadastraram, mas não se vacinaram, podem receber a vacina em qualquer ponto de vacinação sem agendamento.
“Se está com o cartão vencido, já passou mais de 90 dias, a equipe de Estratégia de Saúde da Família não conseguiu ir no seu domicílio, mas você tem condição de ir, procure um centro de vacinação para tomar a segunda dose. Ela é tão importante quanto a primeira para você ficar 100% imunizado” Erlemus Soares Coordenador da Rede de Atenção Primária e Psicossocial
Necessidade do complemento
Mesmo com atraso, especialistas destacam que todos os vacinados devem tomar a segunda dose porque, só assim, é garantida a eficácia máxima dos imunizantes.
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a primeira dose da vacina da Oxfor/AstraZeneca já garante eficácia geral de 76%, dos 22 aos 90 dias após a aplicação. Com o reforço, a eficácia da vacina sobe para 82,4%. Para casos mais graves da doença, a eficácia é de 100%.
No caso da Coronavac, o Instituto Butantan descreve que a eficácia pode chegar a 62,3% caso o intervalo entre as duas doses seja igual ou superior a 21 dias. Para casos que requerem atenção médica, a eficácia variou de 83,7% a 100%.
Já a eficácia da Pfizer chega a 95,3% após a aplicação da segunda dose.
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