Real digital: o que se sabe até agora sobre a moeda virtual brasileira
O Banco Central pretende implementar até 2022 o novo modelo de moeda digital
Em meio ao avanço da digitalização dos meios de pagamentos, acelerado pela pandemia e também pela implementação do Pix e do Open Banking, o Banco Central do Brasil se prepara para lançar a própria moeda digital: o real digital.
O projeto está em estudo desde o ano passado, mas novidades são esperadas em breve, segundo afirmou o presidente do BC, Roberto Campos Neto, em um evento do Banco da Espanha no último dia 12.
A ideia é que o modelo funcione como uma representação da moeda já emitida, também controlada e fiscalizada pelo Banco Central. “A moeda digital se encaixa em um mundo em que há mais negociações digitais”, afirmou Campos Neto no evento.
Como funciona o ‘real virtual’
O dinheiro digital deve ser emitido, controlado e fiscalizado pelo BC. “Há ainda pequenos detalhes a serem discutidos, como se a moeda será remunerada ou não, se será rastreada e se o BC seria o único emissor”, afirmou Campos Neto em evento promovido pela Embaixada da Índia.
Apesar dos poucos detalhes apresentados, o professor da Universidade Federal Ceará e doutor em Sociologia, Edemilson Paraná, aponta que, pelo avanço da tecnologia, é uma forma dos Bancos Centrais se anteciparem às transformações do momento.
“É uma fase que o controle bancário do acesso ao mercado de crédito e de transações financeiras se torna cada vez mais flexível, por exemplo, com o Pix. Há um aumento da velocidade, da portabilidade, é uma tendência que vai continuar se aprofundando”. Edemilson Paraná Doutor em Sociologia e professor da UFC
Carteira digital
Outra ponderação do professor Edemilson é o vínculo que essa moeda terá com instituições financeiras, já que, por ser digital, não haveria a necessidade de ter uma conta bancária para realizar as transações – teoricamente. No entanto, com a força dessas empresas no mercado brasileiro, isso pode não acontecer.
“Acho improvável que no Brasil se configure dessa forma. Profissionais do mercado do setor de serviços não precisam de uma conta bancária, por exemplo, para utilizar uma máquina de cartão de crédito. Porém, o sistema bancário brasileiro é altamente concentrado e forte”, diz.
Centralização de funções
Outra característica possível da moeda digital é a centralização de funções, com um único ‘wallet digital’. Os bancos devem funcionar como um mediador das carteiras digitais, mas cada usuário teria só uma, interconectando dados e finanças, de modo a unificar os saldos digitais das contas que tiver.
Isso daria mais fluidez no mercado cambial, por exemplo, conforme Paraná. “Caso um brasileiro queira comprar ações na Bolsa de Valores de Nova York, a moeda virtual facilitaria a transação. No entanto, o mercado cambial depende da regulação, não é só uma questão técnica”, pondera.
Fim do dinheiro físico?
Embora a tendência, após o lançamento, seja que o Banco Central exerça maior pressão para o uso do dinheiro virtual, as cédulas físicas não devem ser extintas, de acordo com Paraná.
“A desigualdade no nosso País ainda é muito latente, muitas pessoas não têm acesso à conta bancária. Além disso, não temos uma educação financeira voltada para uso de tecnologias. Isso tudo ainda vai fazer com que seja necessário o dinheiro físico, o que não quer dizer que a tendência seja de fato a substituição”, aponta.
Tendência tecnológica
A novidade deve ser uma forte tendência nos próximos anos. A China, por exemplo, lançou no início de abril yuan digital, moeda para transações online controlada pelo Banco Central de Pequim. Para Paraná, o modelo deve servir, inclusive, como exemplo para outros países, pois a potência asiática está muito à frente no quesito tecnologia.
“Vai ser cada vez um paradigma tecnológico que vai desafiar o ocidente. Como que cada um desses países, além de suas particularidades, vai conseguir se adequar em termos de regulação? Qual vai ser o modo de funcionamento do sistema financeiro pra incorporar essa revolução tecnológica”. Edemilson Paraná Doutor em Sociologia e professor da UFC
De acordo com o professor, há ainda a possibilidade de a moeda virtual aprofundar esse processo tecnológico de uma maneira mais controlada, mais organizada, mais passível de vigilância e controle, tornando crimes como a lavagem de dinheiro cada vez mais difícil de serem realizados.
Quando deve ser lançada?
A previsão do BC é de que, após os estudos do modelo e levantamento de informações, a moeda digital brasileira seja implementada até o ano de 2022.
Modelo é igual às criptomoedas?
Diferente do ‘real digital’, que é uma CBDC (Central Bank Digital Currency), o Bitcoin e outras criptomoedas não são reguladas por bancos centrais. Além disso, as criptomoedas não funcionam exatamente como um meio de pagamento, servindo mais como um investimento.
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