Ceará

Profissionais da saúde enfrentam alta demanda de Covid-19, mas casos são atenuados por vacinas

Número de atendimentos cresce desde o fim de dezembro gerando receio em quem atende pacientes com coronavírus desde o início da pandemia

Aumento expressivo da transmissão do coronavírus, associado à variante Ômicron, marca o começo deste ano. O fluxo maior nas unidades de saúde também mostra o efeito da vacinação pela diminuição dos casos graves da doença. Ainda assim, a alta demanda e as incertezas quanto ao comportamento do vírus exige resistência dos profissionais da saúde no 3º ano da pandemia da Covid-19 no Ceará.

Por meio dos registros da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) é possível analisar esse cenário. Entre o dia 1º e 10 de janeiro deste foram confirmados 4.790 casos de pacientes com Covid-19 no Estado. Já nos primeiros 10 dias de dezembro de 2021, esse número foi de 1.251 – quase 4 vezes menor em relação ao quantitativo atual.

Profissionais mobilizados no atendimento de pacientes das cinco regiões de saúde do Ceará compartilharam com o Diário do Nordeste a mudança na rotina com o aumento de casos da Covid-19 e das influenzas no Estado.

“Foram momentos difíceis, tivemos nossos medos e anseios, mas sempre com desejo de fazer nosso melhor para cuidar do próximo. Foi e continua sendo exaustivo”, resume a enfermeira Mayrla Cavalcante Ramos sobre a atuação em todo o período da pandemia no Hospital São José, na Capital.

Na região de saúde de Fortaleza, que abrange 44 municípios ao todo, a ocupação dos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) está em 85% e de enfermaria em 74,44%.

Legenda: Mayrla Cavalcante atua desde o início da pandemia e teme contaminar os pais com quem mora
Foto: Diego Sombra

“Eu percebo que, principalmente, nessa primeira semana de janeiro teve aumento da Covid, o aumento de funcionários também infectados, mas observo pacientes com quadros leves acredito que como reflexo da vacinação”, acrescenta.

Mayrla atua na classificação de risco dos pacientes recebidos pela unidade, além do trabalho na UTI, e observa “aumento significativo” dos casos de síndromes gripais desde as duas últimas semanas de dezembro.

“Com as confraternizações de final de ano, muitas famílias foram contaminadas pelos relatos que a gente tem dos pacientes”, compartilha.

“O nosso maior desafio é o medo de ser contaminado, eu estou atuando desde o início da pandemia e não fui contaminada ainda”. Mayrla Cavalcante Enfermeira no Hospital São José

O apoio nos treinamentos e suporte psicológico, como destaca, são relevantes para superar as dificuldades do cotidiano de atendimentos. Mesmo em um cenário de maior imunização, o receio de transmitir o vírus permanece em alerta.

“Na cabeça de todos os profissionais da saúde permanece o medo de se contaminar e contaminar os parentes”, reflete.

25.729 casos confirmados Desde o início da pandemia entre quem se dedica a cuidar da saúde dos cearenses. Nesse período, 98 profissionais da saúde perderam a vida para a Covid-19.

Sertão Central e Litoral Leste/Vale do Jaguaribe

Entre o Hospital São José e o Hospital Regional do Sertão Central (HRSC), em Quixeramobim, são 210 km de distância. “A gente percebe que há um número maior de pacientes contaminados, porém, nesse primeiro momento, com menos gravidade”, analisa Joelice de Oliveira, coordenadora de Enfermagem do Eixo Covid do HRSC.

São 20 municípios atendidos pela rede de saúde do Sertão Central com ocupação de UTIs em 80% e de enfermarias 50%.

“A ocupação está, infelizmente, em ascensão. Inclusive, no momento, nós estamos com ampliação de leitos. Apesar desses dados estarem crescendo vertiginosamente, a gente tem como aliada a questão da vacina”, comenta sobre a realidade observada no HRSC.

A enfermeira intensivista identifica a falta de imunização como um dos fatores para o aumento atual na demanda. “Infelizmente, apesar da disponibilidade, estamos recebendo pacientes jovens com zero vacinas”, destaca.

“O que a gente percebeu na primeira onda? Um volume de óbitos muito alto em idosos, já na segunda onda nós tivemos um recorde em internação, porém com um panorama diferente no que diz respeito a idade, porque passou a acometer pacientes mais jovens. Agora, é uma contaminação exponencial”. Joelice de Oliveira Coordenadora de Enfermagem no Hospital Regional do Sertão Central

Joelice atua desde os primeiros casos confirmados e destaca o conhecimento adquirido nos dois anos de pandemia como relevantes para a melhora no atendimento. A unidade de saúde, como acrescenta, recebeu o selo da Agencia de Calidad Sanitaria de Andalucía (ACSA) pelo destaque na qualidade de atendimento.

“A nossa dificuldade é atender toda Região do Sertão Central e do Vale do Jaguaribe, que ainda não conta com leitos Covid. Dar conta da dessa população toda, quando a gente tem de novo um panorama exponencial de contaminação”, conclui.

A região de saúde Litoral Leste/Vale do Jaguaribe é formada por 20 cidades cearenses com o Hospital Regional do Vale do Jaguaribe (HRVJ) como unidade de saúde de destaque. Lá existem 18 leitos de Clínica Médica Respiratória, conforme a assessoria de imprensa.

“Os pacientes chegam à unidade através da Central de Regulação de Leitos do Estado. Caso ele esteja no HRVJ e teste positivo para Covid-19, o paciente é colocado em isolamento e é pedido a transferência externa do paciente para uma unidade Covid, seja o Leonardo da Vinci ou outros hospitais como o Hospital Regional do Sertão Central”, como informou por meio de nota.

Cenário na região do Cariri

No percurso rumo ao sul do Estado, são cerca de 330 km do HRSC até o Hospital Regional do Cariri (HRC), em Juazeiro do Norte – por volta de 500 km de distância da Capital.

“Da semana passada para cá a gente teve um fluxo de demanda, ainda aumentando até hoje, com relatos de pacientes com Covid e sintomas gripais”, avalia o fisioterapeuta Everty de Sá Barreto.

Na região de Saúde do Cariri são 45 municípios atendidos. No momento, 70% das vagas de UTIs e 36,36% da enfermaria das unidades de saúde da região estão ocupadas, de acordo com o IntegraSUS.

Legenda: Everty Barreto frisa o desgaste psicológico com o aumento recente de casos
Foto: Valéria Alves/Sesa

No HRC, Everty nota a procura de pacientes entre 50 e 60 anos, boa parte com quadros de comorbidades. O fisioterapeuta está com a imunização em dia e na sua atuação já foi contaminado 3 vezes pelo coronavírus sem nenhuma complicação grave.

“Já estou numa possível 3ª onda, ainda que eu espere que não, com o desgaste psicológico por conta da demanda. Você pensar que vai passar por toda a situação de novo, vendo os casos aumentarem, tanto das síndromes gripais, mas principalmente da Covid”, reflete sobre o cenário.

Ainda que a população, em geral, esteja cansada das restrições da pandemia, o alerta para o uso de máscaras adequadas e distanciamento social devem ser reforçados no atual cenário.

“Para esse início de ano também, tempo de chuva e mudança de clima, não tem só a Covid, mas também as influenzas e a gente tem que se prevenir. Então, é cuidar porque a gente ainda está numa pandemia”, atesta.

Contexto região de Sobral

No outro extremo do Estado, o Hospital Regional Norte, distante 267 km de Fortaleza, também recebe maior fluxo neste começo de ano.

“Estamos conseguindo cumprir nosso papel de atender a demanda de solicitação de toda a macrorregião de Sobral. A demanda tem aumentado, mas nós temos conseguido alcançar nosso propósito”, pondera Ronaldo Graça, médico plantonista da UTI Covid do HRN.

Na região de saúde de Sobral, compreendida por 55 municípios, está com 80% das vagas de UTI e 34,48% das vagas de enfermarias ocupadas. No HRN, há processo de contratação de funcionários temporários para ampliação em análise das unidades.

Legenda: Ronaldo Graça atende pacientes desde as primeiras confirmações de coronavírus no Estado
Foto: Arquivo pessoal

Ronaldo, também professor de Terapia Intensiva na Universidade Federal do Ceará (UFC) em Sobral, com os demais colegas da profissão, ressalta a importância da imunização. “Eu trabalho na UTI desde a abertura do serviço, desde o primeiro plantão, e continuo nesses dois anos. Não tive Covid, graças a Deus, fui testado várias vezes”.

“Os estudos mostram que a vacina protege de formas graves. Você pode ter a infecção, mas de forma mais leve. O esquema vacinal completo, com as duas doses e a dose de reforço, é muito importante”. Ronaldo Graça Médico plantonista da UTI Covid HRN

Todavia, se cadastrar e receber a vacina ainda é um desafio para ver um menor número de pessoas com necessidade de assistência médica.

“A grande maioria dos pacientes com Covid são que recusaram a vacina ou estão com esquema vacinal incompleto. Um ou outro paciente está com o esquema vacinal completo e apresenta uma infecção de forma mais leve”, destaca.

Comentários

Comentários

Marcio Sousa

Editor chefe, Radialista profissional e Diretor de Programação da Taperuaba 98,7 FM

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

0 Compart.
Compartilhar
Twittar
Compartilhar
Pin