Produção industrial do Ceará tem maior alta do País em julho, mas setor enfrenta falta de insumos
Com avanço de 34,5%, crescimento da indústria cearense pode esbarrar em dificuldades para obter matéria-prima e atender a pedidos
O avanço do plano de reabertura do setor produtivo garantiu à indústria cearense um salto de 34,5% da produção na passagem de junho para julho, o mais alto do País, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mesmo período, a produção da cadeia da indústria de todo o Nordeste avançou 17,5% e a do Brasil, 8%.
O rígido controle dos procedimentos das atividades nos primeiros meses da pandemia foram essenciais para esse resultado, segundo o economista David Guimarães, do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).
“O controle epidemiológico mais incisivo ajuda a ter uma estabilidade de ambiente que incentiva menores incertezas, pessoas a consumirem mais e as indústrias a retomarem o contato com os fornecedores, que acabaram travando um pouco durante a pandemia”, aponta.
Para o presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante, este é o momento mais importante do setor na retomada. “O pós-pandemia está fazendo com que tenhamos um pouco mais de velocidade nesta retomada da economia, o que a gente nem esperava tanto”, diz ele, destacando que o Estado teve uma posição assertiva “muito grande” diante da situação.
Ele visitou ontem o Sistema Verdes Mares, juntamente com os presidentes do Sistema Fecomércio/Sesc/Senac, Maurício Filizola, da Federação das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte do Ceará (Femicro-CE), Dalvani Mota, e do superintendente do Sebrae-CE, Joaquim Cartaxo.
O resultado também foi comemorado pelo governador Camilo Santana, que afirmou ontem (9) em suas redes sociais que a economia do Estado “está aos poucos retomando seu ritmo de crescimento”.
Nos sete primeiros meses do ano, no entanto, a indústria cearense acumula retração mais intensa, de 18,2%, ante 8% no Nordeste e 9,6% no Brasil. “O Ceará foi referência na contenção da pandemia, um dos únicos estados do País a fechar a construção civil durante um período maior, então, é esperado que esse acumulado seja mais baixo, porque você teve um período de suspensão mais prolongado”, destaca Guimarães.
Ainda assim, o especialista afirma que o volume da retomada industrial cearense que foi registrada em julho é um indicativo de que o cenário deve estar mudando. “É cedo para estar falando em crescimento a ponto de recuperar o que foi perdido na pandemia, mas é um processo encorajador”.
Cavalcante, por sua vez, prevê ainda que o último trimestre deve expor uma condição ainda mais favorável no cenário industrial cearense. “Acho que no último trimestre, a gente vai sim ter o PIB (Produto Interno Bruto) numa condição bem melhor”, estima.
Insumos
Mesmo com o crescimento exponencial, após meses parados ou de operação com capacidade reduzida na quarentena, alguns setores da indústria agora estão enfrentando problemas para adquirir insumos e avançar na retomada das atividades. Além da forte queda da produção de matérias primas nos últimos meses, a redução das importações devido ao câmbio e a alta demanda vêm pressionando o preço de insumos.
Desde a reabertura da economia, a construção civil – indústria que mais gera empregos no Estado – sofre com a redução da oferta de itens como tijolos, cimento, aço, concreto e argamassa, entre outros.
O preço do tijolo, por exemplo, aumentou mais de 60%, se comparado com os valores praticados antes da pandemia. O problema vem afetando também os setores têxtil, calçadista e de embalagens.
“O que mais preocupa são as cadeias produtivas que foram cortadas. No setor de calçados, está faltando PVC. Para o setor de confecção, está faltando tecido. Para a construção civil, está faltando cimento, ferro. E o setor de embalagens também está com alguns problemas.Então, ainda há setores que estão desabastecidos e não conseguem suprir a demanda. E a inflação preocupa”, destaca o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Ricardo Cavalcante.
Embora a velocidade da recuperação esteja acima das expectativas, ele aponta que algumas cadeias ainda estão se recuperando enquanto buscam atender a forte demanda reprimida.
“Esperamos que isso seja sazonal neste início de retomada, para que possamos votar ao pico de produção anterior à pandemia”, destaca Cavalcante. “Esses setores estão retomando, mas estão com esses gargalos que, em torno de 40 dias, conseguimos regularizar”.
Construção civil
A indústria da construção civil, que em junho reiniciou as atividades nos canteiros de obra no Estado, vem enfrentando problemas para atualizar as planilhas de custos devido ao forte aumento de preços nos últimos meses.
“Nós estamos muito preocupados, porque houve uma grande mudanças dos preços dos insumos no meio da obra de empreendimentos que já foram lançados”, diz Patriolino Dias, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE).
Segundo dados do Sinduscon-CE, o preço dos tijolos aumentaram 61,8%; do concreto, 19%; da argamassa, 31%; do PVC, cerca de 18%; do cimento, 20%; e do aço, entre 13% e 15%. “São aumentos absurdos, registrados desde março. No caso do PVC, falta a matéria prima até para o produtor. Estamos acionando os Procons e tivemos uma reunião com a Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) para tratar desse assunto. O que a gente espera é que isso seja momentâneo, mas ainda é cedo para responder”, diz.
Segundo o Índice da Construção Civil (Sinapi) no Ceará, divulgado ontem (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os custos da construção civil no Ceará cresceram 1,5% em agosto, a maior taxa mensal registrada no ano e a terceira mais alta do País, atrás do Amazonas (1,69%) e de Sergipe (1,54%).
O resultado do Ceará reflete um aumento de 1,32 ponto percentual em relação a julho (0,18%), crescimento que, segundo o IBGE, foi influenciado pela alta nos materiais. No ano, o índice acumula aumento de 3,88% e nos últimos 12 meses, de 5,26%.
Já o custo por metro quadrado, que em julho fechou em R$ 1.091,25 no Estado, passou em agosto para R$ 1.107,64, sendo R$ 639,63 relativos aos materiais e R$ 468,01 à mão de obra. Segundo o IBGE, os custos regionais, por metro quadrado, foram de R$ 1.109,75 no Nordeste; R$ 1.199,40 no Norte; R$ 1.241,92 no Sudeste; R$ 1.241,81 no Sul e R$ 1.189,95 no Centro-Oeste.
Confecção
Já no ramo de confecção, a falta de insumos foi provocada pela queda de importações da China e pela forte demanda por produtos têxteis após a reabertura da economia. “Com o dólar alto, o setor está comprando do local e alguns segmentos estão trabalhando com a produção de máscaras”, aponta Cavalcante.
Segundo Elano Guilherme, presidente do Sindicato das Indústrias de Confecção de Roupas do Ceará (Sindconfecções), a demanda acabou surpreendendo o setor, que não está conseguindo atender.
“Quase toda indústria tem algum insumo vindo da China. Como não estamos importando, os estoques que já estavam baixos estão acabando”, aponta Elano Guilherme. Ele diz que insumos como lycra e lingeries já estão em falta.
“A gente vem sentindo dificuldade para produtor em todos os segmentos, em particular moda praia e moda íntima. Hoje, já estamos com a nossa capacidade produtiva esgotada, tudo o que estamos produzindo, estamos vendendo”, afirma o empresário.
‘Reinventa Ceará’
Na esteira da retomada da economia cearense, o Sistema Verdes Mares (SVM) lançou a campanha “Reinventa Ceará”, ação que tem como objetivo mostrar a capacidade do povo cearense de se reinventar constantemente em meio às adversidades.
A campanha reforça que o Estado é conhecido não só pelas praias, humor e hospitalidade do povo cearense, mas também por ser referência na educação e pela ambiência para oportunidades e geração de negócios – e que os cearenses vão sair mais fortalecidos do cenário provocado pela pandemia.
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