PMs presos em operação escoltavam traficantes e passavam informações de ações policiais
O principal líder do grupo criminoso já estava detido em um presídio federal e lavava dinheiro da facção em um posto de combustíveis em Caucaia
Os cinco policiais militares presos na 3ª fase da Operação Gênesis, nesta quinta-feira (27), protegiam traficantes, ao ponto de escoltar entregas de drogas e de passar informações privilegiadas sobre ações policiais, conforme as investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do Ministério Público do Ceará (MPCE).
A organização criminosa que se instalou no bairro Bom Jardim e em adjacências, em Fortaleza, e no Município de Caucaia, contava com o apoio dos PMs e é filiada à uma facção paulista, com atuação nacional e até internacional. O principal líder do grupo criminoso é Francisco Márcio Teixeira Perdigão, alvo de um dos 26 mandados de prisão preventiva, cumprido em um presídio federal de segurança máxima, onde ele já estava detido.
O promotor de Justiça Adriano Saraiva, membro do Gaeco, conta que os policiais permitiam que “os traficantes comercializassem livremente drogas e armas e cometessem uma série de outros crimes. Além de dar proteção, eles recebiam uma contrapartida, uma mensalidade, que é uma propina“. Segundo o investigador, a escolta do tráfico acontecia durante a atividade policial, com os militares fardados e no uso da viatura.
Um dos agentes de segurança denunciados pelo MPCE também emprestava dinheiro a juros para Márcio Perdião comprar entorpecentes. A propina para os servidores públicos chegava a R$ 2 mil. As investigações apontam ainda que o esquema criminoso funcionava ao menos desde 2016. Além do tráfico de drogas, a organização criminosa protegida pelos policiais cometia homicídios, lesões corporais, ameaças e lavagem de dinheiro.
Os PMs foram denunciados pelos crimes de corrupção passiva, organização criminosa e crime contra a economia popular. Enquanto os outros alvos da Operação foram acusados de corrupção ativa, organização criminosa, tráfico de drogas, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro, no mesmo processo criminal. A denúncia do Gaeco já foi recebida pela Justiça Estadual, o que transformou os investigados em réus.
Lavagem de dinheiro em posto de combustíveis
A 3ª fase da Operação Gênesis identificou que Márcio Perdigão lavava o dinheiro da organização criminosa principalmente em um posto de combustíveis, localizado no Município de Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). O equipamento estava em uso, até ser alvo de sequestro, na Operação, conforme decisão judicial.
Perdigão já é conhecido da polícia cearense. Ele é apontado como uma das principais lideranças de uma facção paulista no Ceará e responde a processos criminais por roubo, crimes do Sistema Nacional de Armas, lavagem de dinheiro, organização criminosa, falsificação de documento público e ameaça. Investigações ainda indicam que ele teria roubado bancos no Ceará, fugido de um presídio e trocado favores com diretores do Sistema Penitenciário.
3ª fase da Operação Gênesis
O Gaeco, com apoio da Coordenadoria Integrada de Planejamento Operacional (Copol), da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), e da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado (SAP), cumpre, nesta quinta (27), 26 mandados de prisão preventiva e mais 26 de busca e apreensão. Dentre os alvos, oito já estavam recolhidos no Sistema Penitenciário. Os cinco PMs foram presos e levados ao Presídio Militar de Fortaleza.
Na primeira fase da Operação Gênesis, deflagrada em setembro de 2020, foram cumpridos 17 mandados de prisão e 17 de busca e apreensão, em Fortaleza e em Maracanaú. Do total de alvos, nove eram policiais militares da ativa, três eram policiais civis da ativa, um era policial civil aposentado (líder do esquema criminoso) e os outros eram traficantes.
Na segunda fase da Operação, deflagrada por sua vez em outubro de 2020, foram cumpridos 16 mandados de prisão e 16 mandados de busca e apreensão, em Fortaleza e em Caucaia. Entre os alvos, estavam três policiais militares e três policiais civis da ativa, nove suspeitos de tráfico de drogas e um ex-policial militar.
O promotor de Justiça Adriano Saraiva afirma que a terceira fase da Operação se disntiguiu das ações anteriores.
“Na primeira e na segunda fase, a investigação descobriu um consórcio de policiais militares com traficantes. Eles se reuniam, escolhiam um alvo, avaliavam antecedentes criminais, para fazer uma simulação de compra de droga ou de arma com um traficante, os policiais chegavam e extorquiam. Depois, eles apreendiam o ilícito e revendiam. Adriano Saraiva Promotor de Justiça
“Na terceira fase, muda um pouco. Há uma organização criminosa própria. Os policiais entram na proteção dos traficantes e do esquema criminoso. E inibiam a ação da Polícia, porque passavam informações de eventuais operações para os traficantes, no Bom Jardim”, completa.
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