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Número de assassinatos em 10 anos no ceará supera a população de 114 municípios do estado

A violência no Ceará nos últimos anos tem sido um fator de extrema preocupação para os cearenses. Um levantamento realizado pelo Tribuna do Ceará, com base nas estatísticas da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), aponta que o número de homicídios em todo o estado nos últimos 10 anos supera a população de pelo menos 114 dos 184 municípios do estado.

Entre os anos de 2007 e 2016, 25.932 pessoas foram assassinadas no Ceará. Em entrevista, o pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC) Ricardo Moura avalia que é bastante difícil explicar o problema, mas que as estatísticas demonstram um baixo esforço realizado pelos governos desse período em relação à segurança pública.

“Tentar explicar o motivo desse crescimento é uma tarefa complexa, porque é um fenômeno multicausal. Mas o que conseguimos visualizar é que em 10 anos o Ceará registrou um grande aumento, e nestes dois últimos anos obteve uma leve melhora. Então, isso foi um processo no qual os governos não dedicaram esforços necessários para melhorar essa situação”, analisa o professor.

Segundo Ricardo Moura, de 2007 para cá o Ceará melhorou apenas em dois dados que interfere diretamente na segurança pública, a desigualdade social e a geração de renda . “Contudo, quando pegamos os dados de combate ao tráfico de drogas, tráfico de armas e na taxa de população carcerária, o efeito foi o contrário”, destaca.

“Há outro fator que é a questão da dinâmica da criminalidade, ou seja, a criminalidade está migrando dos grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo, para o Nordeste, e o Ceará está inserido nessa tendência de crimes”, explicou.

Além do tráfico de drogas, um dos principais fatores que influenciam a violência no Ceará, o tráfico de armas no estado tem sido um grande contribuidor para esse aumento. “Por algum tempo se creditou os homicídios do estado ao tráfico de drogas, mas embora isso tenha uma relação muito forte, o instrumento de violência maior são as armas de fogo. Hoje, qualquer indivíduo tem acesso, mesmo sendo proibido a sua comercialização. De forma geral muitos conflitos interpessoais são resolvidos pela violência e o acesso mais fácil às armas faz com que isso se agrave bastante”, constata o especialista.

Consequências da violência

A violência em todo o país não vitimiza apenas quem é assassinado, mas também toda a família. Para Oneide Braga, mãe da bailarina e atriz cearense Renata Maria Braga de Carvalho, morta há 22 anos após uma discussão de trânsito, as pessoas estão invertendo os valores sobre a vida.

“Agora em dezembro estava reunida numa confraternização de Natal com amigos na minha casa e falei a respeito de certos crimes, e todas as pessoas que estavam comigo consideram que alguns crimes eram normais. Então, as pessoas estão invertendo os valores, banalizando demais. Acho que isso não é correto. Um cidadão tem que ser punido, mas de uma maneira digna. Ele tem que ficar preso com dignidade, com alimentação, higiene. Hoje, encaro a morte da minha filha como uma mutilação que tive que aprender a viver”, opina.

Oneide atualmente é presidente da Associação de Parentes e Amigos de Vitimas Da Violencia (Apav). Para ela, a impunidade é o fator responsável pelo aumento da violência nesses últimos 10 anos. “Acho que a impunidade é a mãe da violência. As pessoas sabem que não vão ser punidas e por isso cometem crimes. Elas têm certeza disso e sabem que pagando um bom advogado e agradando um determinado desembargador conseguem se livrar. Apesar dos presídios estarem cheios, a impunidade ainda é um fator decisivo para essa enorme violência”, concluiu.

Crimes sem solução.

A baixa média de solução na investigação policial de crimes letais é preocupante. “Nós temos uma Polícia Civil com problemas financeiros, com baixíssimo efetivo de agentes e totalmente desmotivada com o atual salário. Então esse conjunto de fatores contribui significativamente para que os crimes não sejam solucionados”, detalha.

Estatística

Nesta quarta-feira (4), o Tribuna do Ceará noticiou o balanço de anual dos crimes letais intencionais do Ceará (CVLIs) durante todo o ano de 2016, divulgado pela SSPDS. Conforme as estatísticas, o estado registrou uma redução de 15,2% em comparação com o ano de 2015. No entanto, um detalhe das estatísticas chama bastante atenção. Segundo os números da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), quase 10 pessoas morreram por dia durante todo o ano passado no Ceará.

Em Fortaleza, 1.007 pessoas foram assassinadas durante o ano de 2016. O numero é 39% menor do que o mesmo período de 2015, quando foram registradas 1.651 entre homicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. Mesmo assim, pelo menos duas pessoas foram mortas na capital cearense durante todo o ano passado.

Segundo Camilo Santana, a redução da criminalidade no Ceará se deu ao investimento em segurança pública, mas ressalta que ainda é preciso melhorar. “A violência reduziu devido ao investimento que fizemos no interior do Estado. Conseguimos aumentar o número de policiais e, consequentemente, diminuir os crimes. Mas ainda temos muito o que melhorar”, disse.

Confira o número de mortes em cada ano no Ceará:

2007 – 1.936
2008 – 2.031
2009 – 2.168
2010 – 2.692
2011 – 2.788
2012 – 3.565
2013 – 4.462
2014 – 4.439
2015 – 4.019
2016 – 3.407

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Marcio Sousa

Editor chefe, Radialista profissional e Diretor de Programação da Taperuaba 98,7 FM

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