Ceará

Mercado de trabalho cearense deve abrir 69 mil vagas em 2022; veja principais áreas

Com retomada econômica e avanço da vacinação, expectativa de especialistas é de que geração de empregos deve ser impulsionada

Após mais de seis meses da reabertura econômica no Ceará após a segunda onda da pandemia, o Estado sente o início da recuperação especialmente no mercado de trabalho. Apesar de ter apresentado um saldo positivo em praticamente todos os meses (até setembro), a taxa de desemprego continua alta.  

Contudo, com o avanço da vacinação contra a Covid-19 e os investimentos estaduais, a expectativa dos setores é de que em 2022 sejam vivenciadas boas perspectivas da geração de emprego. Conforme projeção do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (Sine-IDT), o mercado de trabalho cearense tem abertura para captar 69 mil vagas no próximo ano. 

Os últimos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, no segundo trimestre deste ano, foram contabilizadas 563 mil pessoas desempregadas no Ceará, com taxa de desocupação em 15%. Em comparação com o mesmo período de 2020, o número absoluto é 30% maior.  

“Nós acreditamos que o Ceará, assim como vários estados do País, tem adotado uma retomada da economia gradual, responsável e muito condicionada ao avanço da cobertura vacinal, o que dá uma segurança aos empresários cearenses para que possam criar novas vagas”, afirma Vladyson Viana, presidente do IDT.  

O saldo total de abertura de vagas, considerando os meses de janeiro a setembro, é de mais de 75,3 mil, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O comportamento foi positivo ao longo do ano, com saldo negativo apenas em março.  

“Em dezembro há uma menor criação de geração de trabalho, os postos de trabalho temporários são criados durante setembro e outubro. Isso vai reverberar em 2022. Para além dessa segurança sanitária, há condições para que haja um movimento espontâneo com a criação de novos postos e negócios”, diz. 

Mercado em ascensão 

Uma das apostas dos especialistas é o setor de tecnologia, que sofre com a carência de profissionais qualificados para atender à demanda crescente. A atração de empreendimentos para o Estado deve impulsionar esse mercado em ascensão, conforme destaca o secretário executivo de Trabalho e Empreendedorismo da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), Kennedy Vasconcelos.  

“Cada vez mais com a atração de empreendimentos para o Estado, as empresas passam a demandar principalmente profissionais de maior qualificação, especialmente no setor da tecnologia. Tem todo um trabalho sendo realizado no sentido de estimular a vinda de empreendimentos e a abertura de negócios no Estado. Isso deve também ser relevante neste contexto”, destaca.  

O professor José Macêdo, do Curso de Ciência da Computação da Universidade Federal do Ceará (UFC), explicita que já há uma demanda muito grande por profissionais com especialização em Ciência de Dados, Big Data, por exemplo, o que deve permanecer no ano que vem.  

No entanto, além da descompensação entre oferta e demanda, o professor aponta que recrutadores de carreiras como essas demandam uma alta qualificação, o que agrava ainda mais esse ‘apagão’ de profissionais de Tecnologia da Informação tanto no Ceará quanto no Brasil.  

“As empresas buscam profissionais com conhecimentos profundos nessa área e muitas universidades ainda não estão adaptadas para preparar os estudantes para o uso de novas tecnologias, são conhecimentos mais tradicionais, ainda existe esse gap”.  José Macêdo professor de Computação da UFC

A virtualização de negócios gerada pela pandemia também será responsável por esse processo, é o que explicita Leonardo Berto, gerente de recrutamento da Robert Half, especialista em recrutamento e seleção.  

“Com a pandemia, isso foi ainda maior por conta da digitalização dos negócios. Uma demanda que já era descontrolada teve expansão por procura de profissionais que atuam nesse setor, desde desenvolvimento, programação, análise de dados, quanto as generalistas e de infraestrutura”, cita.  

Troca de carreira

A crescente é tanta, que mesmo quem atua em outras áreas, tem visto a Tecnologia de Informação como aposta para trocar de carreira. É o caso de Claudio César Martins, de 23 anos. Formado em Engenharia Elétrica, o jovem decidiu apostar na análise de dados, quando, ainda na faculdade, iniciou um estágio em programação na área de dados. 

“Eu já gostava de programar e, apesar desse assunto ser abordado na faculdade, não era muito o foco, aí consegui um estágio e entrei na área. Trabalhei com business inteligence e hoje atuo como engenheiro de dados numa empresa de energias renováveis”. 

Legenda: Apostando em nova carreira, Claudio César já recebeu quase 10 propostas de emprego em um ano
Foto: Arquivo pessoal

Para o engenheiro, a aposta foi certeira, já que seu salário aumentou em 50% e, em menos de um ano, já recebeu quase dez propostas de emprego no LinkedIn. Hoje, ele atua garantindo a organização e a seleção de dados para que possam ser utilizados de forma espefícica, seja para produção de relatórios ou para previsões. 

A fim de se aprofundar no assunto, já que o curso escolhido não era específico para a área, Martins conta ter aprendido bastante na prática e por meio de muitas pesquisas na internet, contudo, já planeja fazer pós-graduação para se especializar.   

5G deve impulsionar vagas 

Um dos principais fatores que deve impulsionar a geração de vagas no setor tecnológico é a chegada do 5G no Brasil. No início deste mês, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) realizou o leilão de faixas de frequência da tecnologia e a previsão do Governo Federal é de que o serviço comece a ser ofertado a partir de julho de 2022, inicialmente nas capitais. 

Com isso, a expectativa é de que funcionalidades ainda não suportadas pelo 4G possam ser utilizadas, a exemplo de realidade aumentada e virtual. O 5G vai promover uma maior integração entre diferentes aparelhos, conceito conhecimento como Internet das Coisas, possibilitando até a realização de cirurgias remotas.  

“Por isso, o primeiro ponto é estar atento a essas novas tendências, especialmente na inteligência artificial, que vai ser aplicada em todas as áreas, seja na Medicina, no Direito. Esses estudantes precisam entender essas tecnologias e o alcance”, pondera Macêdo.  

Por conta do gap educacional nas universidades, o professor de Computação recomenda que os atuais alunos expandam os horizontes e saiam dos muros das instituições de ensino tradicionais, buscando cursos extracurriculares.  

“Hoje, há uma oferta grande de cursos oferecidos por outras universidades internacionais, e alguns até gratuitos. Portanto, é importante também ter uma fluência em inglês para que possam consumir essa informação”, acrescenta.  

Destaque no ramo, a cearense Brisanet adquiriu faixas de frequência no leilão, atendendo as Regiões Nordeste e Centro-Oeste. A empresa de telecomunicações está, inclusive, com processos seletivos abertos para mais de 600 vagas no Nordeste, sendo quase 200 para o Ceará. Somente em 2021 foram contratados mais de 3,6 mil profissionais.  

Estímulo a novos empreendimentos 

A perspectiva, conforme o secretário da Sedet, é otimista, tendo em vista os esforços do Governo Estadual para atrair investidores para o Ceará, além do hub de Hidrogênio Verde. Segundo Vasconcelos, um dos fatores que mais atrai é a qualificação profissional, investimento realizado nos últimos anos com a criação de cursos técnicos, por exemplo.  

“O Ceará hoje é Estado que, percentualmente, mais investe. Isso junto à questão da educação, à estrutura de Fortaleza, é uma conjunção de fatores que, do ponto de vista da geração da contribuição para uma nova dinâmica do Estado, ajuda a atrair investimentos”.   Kennedy Vasconcelos secretário executivo de Trabalho e Empreendedorismo da Sedet

No caso do segmento de hidrogênio verde, o Governo estadual já fechou memorando de entendimento com quatro empresas do setor e a expectativa é de que devem gerar pelo menos 5 mil novos empregos para o Ceará. 

“Há um fomento de atração de empreendimentos de energias renováveis, que não geram empresas diretos, mas geram toda uma cadeia de empregos indiretos que vão aquecer nossa economia e demandando a mão de obra cearense”, ressalta o presidente o IDT.  

Viana também aponta que existe uma transformação do setor calçadista, com uma ampliação de novos empreendimentos se instalando no Ceará, além dos atacarejos que têm uma grande demanda profissional. O setor de serviços, que é o maior empregador no Estado, deve seguir em 2022 desta forma.  

“À medida que aumenta a oferta de emprego, aumenta a procura, são pessoas que também estão buscando recolocação no mercado de trabalho, ainda é um índice alto de desemprego, mas se tivermos essa tendência vamos conseguir aumentar o estoque de postos de trabalho”.  Vladyson Viana presidente do IDT

Contudo, Alexsandre Cavalcante, analista de políticas públicas do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), pondera que o ano de 2022 “não será fácil”, tendo em vista o processo de recuperação econômica pelo qual o país deve passar, bem como as perspectivas de baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e da alta inflação.  

“A taxa básica de juros (Selic) ainda deve aumentar atingindo 11%, o que deve frear o investimento produtivo de forma forte. As empresas, principalmente, as de pequeno porte estão muito endividadas e, com o aumento do custo do crédito, não será tão atraente para eles fazer novas contratações”. 

Veja os principais empregadores em 2022 no Ceará: 

  • Setor de tecnologia 
  • Segmento de Hub de Hidrogênio e Energias Renováveis
  • Indústria de calçados
  • Atacarejos
  • Bares, restaurantes e turismo
  • Área da saúde
  • Construção civil 

Tendência nacional 

O gerente de recrutamento da Robert Half diz que os segmentos em destaque em 2022 conversam com os de 2020. “Existem segmentos que na pandemia se destacaram fortemente pois souberam se adaptar facilmente e seus mercados, de certa forma, se favoreceram, como a área de tecnologia, bens de consumo, logística, varejo”.  

Conforme Berto, pensando na tendência nacional, o agronegócio também é um mercado bem movimentado, assim como a logística, na área de operações na Engenharia e da logística interna

“Quando falamos do varejo, falamos do e-commerce, o que vemos é uma taxa de manutenção nesse pós-pandemia, cresceu bastante e, com isso, esperamos um desenvolvimento fixo nos próximos anos”.    Leonardo Berto gerente de recrutamento da Robert Half

Berto também destaca o setor financeiro cuja demanda foi muito forte em 2021, especialmente na parte do planejamento financeiro e finanças corporativas. Portanto, a projeção é de que isso se mantenha em 2022.  

Para auxiliar empresas e recrutadores, a Robert Half desenvolveu um Guia Salarial 2022, com projeções de remuneração e as principais tendências do mercado de trabalho para o próximo na. O guia auxilia também profissionais que buscam empregos para descobrirem como se destacar melhor em seleções.  

Legenda: O setor de serviços, como bares e restaurantes, também devem expandir número de vagas em 2022
Foto: Thiago Gadelha/

O que dizem os setores? 

Um dos setores que mais emprega no Estado, a indústria prevê uma expansão média de 5% do quantitativo de empregos para o primeiro semestre de 2021, já no segundo este crescimento deve ficar em torno de 2 e 3%, assim como explica Guilherme Muchale, gerente do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).  

5% será a expansão média do número de vagas do setor industrial no 1º semestre de 2022

O gerente pontua que há uma demanda para as ocupações ligadas à economia digital e automação como técnico de informação e cargos para nível superior. Além disso, deve crescer o número de cargos relacionados à sustentabilidade e responsabilidade social.

“Temos essa expectativa de um investimento muito forte na pegada do hidrogênio verde, e na construção, quando deve ser mais demandado engenheiros civis, eletricistas, técnicos. Cursos mais específicos, desde competência a profissionais que escalam torre eólica, operadores de drones também devem entrar em pauta”.   Guilherme Muchale gerente do Observatório da Indústria da Fiec

O comércio também deve seguir a tendência e visualizar uma implementação do número de vagas, é o que afirma Cláudia Brilhante, Diretora Institucional do Sistema Fecomércio-CE. Para ela, a demanda retraída do consumidor após meses sem ir às compras deve impulsionar este mercado.  

“A nossa expectativa é de aumento e implementação dessas vagas. Temos uma demanda muito retraída do consumidor e agora com o aumento da mobilidade, o avanço da vacinação, ele se sente mais à vontade para sair. As expectativas são muito boas”.  

Com a expansão do comércio virtual, a diretora destaca ainda que há uma dificuldade para o setor de encontrar mão de obra especializada e habilitada para trabalhar com a parte de vendas e do controle online, por exemplo. 

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Marcio Sousa

Editor chefe, Radialista profissional e Diretor de Programação da Taperuaba 98,7 FM

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