Mais de 500 motociclistas morreram em acidentes de trânsito no Ceará em 2023
Acidentes envolvendo motos matam sete vezes mais do que acidentes automobilísticos.
Os motociclistas são os mais vulneráveis nas vias públicas, e sinistros envolvendo motocicletas representam o maior percentual dos acidentes de trânsito no Estado. Em Fortaleza, esse grupo corresponde a quase metade das mortes no trânsito, sendo 47% dos acidentes com mortes em 2022, conforme dados da Autarquia Municipal de Trânsito (AMC). Em todo o Ceará, segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa), até setembro foram registrados 518 mortes decorrentes de colisões com motos.
No Estado, os índices de mortes por acidentes de trânsito envolvendo motocicletas nos últimos anos apresentaram variações expressivas. Em 2020, foram registradas 620 mortes de motociclistas e, em 2021, foram contabilizadas 640. Em 2022, no entanto, o índice saltou para 792; um aumento de 27% em relação a 2020.
No Instituto Doutor José Frota (IJF), unidade hospitalar referência no tratamento de traumas de alta complexidade no Ceará, a maior parte dos pacientes decorrentes de acidentes de motos na emergência são oriundos dos municípios do Interior.
O Hospital registrou 7.096 atendimentos de pessoas decorrentes de acidentes de motos até o final de setembro. Destes, 3.898 (55%) eram provenientes do Interior e 3.198 (45%) da Capital. Além disso, 70% desses pacientes eram motociclistas, ou seja, pilotavam as motos.
Os motociclistas fazem parte do grupo de usuários vulneráveis, juntamente com pedestres e ciclistas. Entre os usuários motorizados, são os mais expostos.
De acordo com o gerente de Educação para o Trânsito da AMC, André Luís Barcelos, as motos são veículos que exigem um alto nível de equilíbrio e uma boa condição física e mental por parte do condutor.
“É um veículo ágil, mas carece da proteção que um automóvel oferece. Em caso de acidentes, os motociclistas sofrem lesões mais graves devido ao impacto direto no solo”, expõe o gerente de Educação para o Trânsito da AMC.
Segundo ele, os motociclistas representam um grande desafio para a gestão viária, devido ao uso intensivo das motos, especialmente para trabalho.
“Mesmo que sejam habilidosos e cuidadosos, a exposição prolongada, a fadiga e, às vezes, até a natureza da carga que transportam — se não estiverem em conformidade com as normas de segurança ou se for excessivamente pesada —, podem afetar significativamente suas condições de condução”, comenta Barcelos.
Segundo o especialista, a frota crescente de motocicletas também contribui para aumentar os índices de acidentes. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o meio de transporte mais utilizado na região Nordeste do Brasil em 2022 era a motocicleta. No Ceará, segundo dados do Detran, no ano passado, 95% das cidades do Estado têm mais motos que carros.
Conforme o último Boletim Epidemiológico de Acidentes de Transporte Terrestre, emitido em junho de 2023 e referente a 2022, as maiores taxas de mortalidade por acidentes envolvendo motos foram evidenciadas em quatro Áreas Descentralizada de Saúde (ADS): Crateús, Tianguá, Tauá e Acaraú. Cada uma dessas ADS são localizadas na escala entre 30,5 e 37,3 óbitos por 100 mil habitantes.
Crateús – engloba os municípios de Ipueiras, Poranga, Quiterianópolis, Nova Russas, Novo Oriente, Independência, Ipaporanga, Tamboril, Monsenhor Tabosa, Ararendá e Crateús
Tianguá – engloba os municípios de Ubajara, Viçosa do Ceará, São Benedito, Ibiapina, Carnaubal, Croatá, Guaraciaba do Norte e Tianguá
Tauá – engloba os municípios de Parambu, Aiuaba, Arneiroz e Tauá
Acaraú – engloba os municípios de Bela Cruz, Cruz, Itarema, Jijoca de Jericoacoara, Marco, Morrinhos e Acaraú
REDUÇÃO DOS ACIDENTE DE MOTOS
Apesar de os motociclistas representarem quase metade dos óbitos por acidentes de trânsito, Fortaleza tem apresentado redução no número de mortes. Em 2022, foram registradas 96 mortes de condutores ou passageiros de veículos motorizados de duas rodas. Segundo a AMC, houve uma redução de 23% em relação a 2019, quando foram constatados 125 óbitos.
Entre 2019 e 2022, o número de acidentes com motociclistas feridos reduziu 14%, de 10.016 (2019) para 8.579 (2022).
O cálculo ignora os dados de 2020 e 2021, quando as estatísticas foram severamente afetadas pelas medidas de isolamento social devido à pandemia.
Segundo o gerente de Educação para o Trânsito da AMC, André Luís Barcelos, ações de educação, engenharia de tráfego, comunicação e fiscalização preventiva são fatores que influenciam na redução dos acidentes.
“A letalidade desses acidentes tende a diminuir consideravelmente devido aos esforços para garantir que os motociclistas usem capacetes. Também como aumento da fiscalização dos equipamentos obrigatórios das motocicletas, como capacetes”, comenta André Barcelos.
O educador, contudo, reforça a importância da readequação de velocidade. “Quanto maior a velocidade, mais grave é o acidente. Quando implementamos políticas de readequação, contribuímos diretamente para a redução dos acidentes mais graves, e esse é o grande objetivo”, pontua.
Membro da Academia Cearense de Medicina, o cirurgião vascular cearense Lineu Jucá estuda as graves lesões traumáticas ocorridas em motociclistas nos acidentes de trânsito. O especialista vem sugerindo soluções por meio de planejamento estratégico que busque diminuir essa situação no País.
“Os acidentes envolvendo motos matam sete vezes mais do que acidentes automobilísticos. Se o motociclista estiver sem capacete, mata oito vezes mais. Por isso, as fiscalizações são fundamentais e, principalmente, nos fins de semana, porque 60% dos acidentes acontecem nesse período”, comenta o médico.
O cirurgião ainda destaca a importância de um sistema de transporte coletivo mais eficiente. “Se nós tivermos um transporte coletivo competente e resolutivo, isso vai diminuir a quantidade de veículos em circulação. Dessa forma, reduzimos o número de acidentes”, conclui Lineu Jucá.
A Polícia Militar do Ceará (PMCE) ressalta que o motociclista bem como qualquer outro condutor deve cumprir o exposto no Código de Trânsito Brasileiro. Segundo o órgão, para prevenir acidentes nas rodovias estaduais, principais vias onde ocorrem acidentes, a motocicleta deve estar com a manutenção preventiva em dia; documentação de veículo e condutor devem estar regulares.
Em caso de viagens, o planejamento deve ser feito com antecedência e, de preferência, a recomendação é evitar trafegar no período noturno. Para a segurança de todos, deve-se respeitar a sinalização de trânsito, os limites de velocidade da via e manter distância segura do veículo da frente. Além disso, é imprescindível a utilização correta do capacete, que deve estar em conformidade com as normas vigentes.
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