Maio Amarelo: homens são 85% entre os mortos por acidentes de trânsito no Ceará
Estatística foi apresentada pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) em boletim que reúne dados dos últimos 13 anos
Pelo menos oito em cada dez pessoas que morrem em acidentes de trânsito no Ceará são homens. É o que aponta o Boletim Epidemiológico de Mortalidade por Lesões no Trânsito, divulgado nesta quinta-feira, 18, pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). De acordo com o documento, entre 2009 e 2022, cerca de 85% dos óbitos causados por sinistros viários no Estado envolveram pessoas do sexo masculino.
No período analisado, pouco mais de 22 mil homens perderam a vida em decorrência de acidentes no trânsito nos 184 municípios cearenses. Já entre as mulheres, foram 3,7 mil óbitos, o que corresponde a 15% do total (25,7 mil). Considerando a série histórica e a soma dos gêneros, 2014 foi o ano com mais mortes (2,6 mil). Desde então, os números gerais apresentam queda: 2015 (1,3 mil), 2016 (1,9 mil), 2017 (1,6 mil), 2018 (1,5 mil), 2019 (1,38 mil), 2020 (1,32 mil), 2021 (1,28 mil) e 2022 (1,27 mil).
Apesar da redução, a proporção de mortalidade viária entre os homens se mantém num padrão muito acima das mulheres. Para o professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Flávio Cunto, o cenário pode estar relacionado a dois aspectos principais.
O primeiro, explica ele, tem a ver com a exposição maior de homens no trânsito. “A gente tem, normalmente, em termos de quilometragem, pessoas do sexo masculino conduzindo maiores trajetos do que mulheres. Isso está constatado em várias pesquisas”. O outro fator, de acordo com o especialista, é a propensão maior de que homens se arrisquem mais do que as mulheres quando estão ao volante ou conduzindo veículos de duas rodas.
“É mais comum que homens excedam a velocidade ou façam ingestão de bebidas alcoólicas para dirigir, comportamento menos recorrente entre mulheres. Na maioria das vezes, essas duas questões (velocidade e bebida) estão diretamente conectadas com a causa da fatalidade”, complementou Cunto.
Outra variável relevante na visão do médico e estudioso de sinistros de trânsito, Lineu Jucá, é a diferença de comportamentos entre homens e mulheres na condução de veículos. Ele considera que “as mulheres são muito mais cautelosas, observam mais, cumprem mais as regras. Então, isso impacta em menos acidentes”. Segundo Jucá, a tendência dos homens se arriscarem mais no trânsito é fruto da construção social histórica da ideia de dominação masculina.
Segundo o Departamento Estadual de Trânsito (Detran), cerca de 67% dos condutores habilitados no Ceará são do gênero masculino. Os dados mais recentes, de 2022, mostram que o Estado tem 1,6 milhão de motoristas do sexo masculino ante a 802 mil do sexo feminino. Esses indicadores, na avaliação do professor, também ajudam a explicar a incidência de mortes maior entre os homens.
O boletim da Sesa aponta que as fatalidades no trânsito são a segunda maior causa externa de mortes no Ceará, atrás apenas dos homicídios. Em 13 anos (2019-2022), mais de 25,8 mil cearenses perderam a vida em decorrência de sinistros viários, o que equivale a 22,5% do total de óbitos registrados no período (114,6 mil). Já as vítimas de assassinato foram 45,4% (52 mil).
No ano passado, a taxa de mortalidade no trânsito por 100 mil habitantes no Ceará foi de 13,8, a menor desde 2009. Em 2014, ano mais violento da série histórica, o indicador chegou a 29,8. Segundo o boletim, a incidência de mortes é maior entre motociclistas (39%) e menor no grupo de condutores ou passageiros de veículos pesados (1,1%).
O documento também apresenta um raio-x da mortalidade no trânsito por regiões. A maior incidência é no Norte do Estado, cuja taxa de óbitos por 100 mil habitantes é 31,5, seguida do Litoral Leste/Jaguaribe, com 24,6. Depois aparecem o Sertão Central (21,1) e o Cariri (16,0). A Região de Fortaleza tem o menor indicador (5,6).
MAIO AMARELO
A divulgação do boletim pela Sesa ocorre na esteira da campanha nacional Maio Amarelo, cujo objetivo é conscientizar motoristas e pedestres sobre os cuidados no trânsito. De acordo com a Secretaria, os dados apresentados no documento servirão para a formulação de políticas públicas que tenham como foco o enfrentamento à morbidade por lesões de trânsito.
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