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Lockdown: índices de isolamento social no Ceará estão menores que os registrados em 2020

Nos primeiros sete dias do lockdown deste ano, os índices praticamente se mantiveram na casa dos 40%, conforme dados da In Loco. Em 2020, no entanto, a adesão ao isolamento ultrapassava os 50%

Os índices de isolamento social no Ceará em 2021 estão menores que os registrados em 2020, segundo informações do Mapa Brasileiro da Covid-19, desenvolvido pela empresa de tecnologia da informação In Loco. 

Na primeira semana do primeiro lockdown, em vigor a partir de 8 de maio do ano passado em Fortaleza, os índices de isolamento chegavam a ultrapassar os 50%. Já nos primeiros sete dias do lockdown deste ano, em vigor na Capital desde o último dia 5 de março, a maioria dos índices se mantém na casa dos 40%. 

De 5 a 11 de março de 2021, apenas o dia 7 (domingo), registrou índice de 54,7%. Nos demais, os percentuais não passavam de 45%. O pior índice foi verificado no dia 5 de março, o primeiro do lockdown, com apenas 40,5% da população cearense isolada. Nessa sexta-feira (19), o índice no Ceará era de 49,2%. 

á em comparação ao ano anterior, entre os dias 8 a 14 de maio de 2020, somente o primeiro dia de lockdown registrou o menor índice (48,7%) de isolamento. Nos dias seguintes, os percentuais sempre eram maiores que 50%. Nesse período, o melhor índice foi visto em 10 de maio, com a adesão de 53,6% da população ao isolamento social. 

Descumprimento

Na manhã desse sábado (20), uma equipe de reportagem do Sistema Verdes Mares flagrou pontos de aglomeração nas ruas de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza. A taxa de ocupação de leitos UTI-Covid na cidade é de 100%, conforme dados disponibilizados na plataforma IntegraSUS e atualizados pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), às 21h03 de ontem.

Legenda: Mesmo em lockdown, Caucaia registrou aglomeração nas ruas na manhã desse sábado (20)
Foto: Halisson Ferreira

De acordo com o biomédico e microbiologista Samuel Arruda, especialista na epidemiologia de vírus respiratórios, os índices de isolamento social no Ceará – seja em 2020 ou 2021 – demonstram que o lockdown não vem sendo cumprido efetivamente no Estado. Ele lembra, inclusive, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda como ideal o isolamento mínimo de 70% da população para conter o vírus.

Além de estimular as pessoas a ficarem em casa em troca de apoio financeiro, por exemplo, o Governo deveria adotar punições “mais severas” para quem insistir em desobedecer às normas previstas no decreto de lockdown, defende Arruda.

Porém, destaca que não somente o Governo, como também todos os cidadãos devem estar conscientes da necessidade de cumprir o seu papel para evitar o maior prolongamento da pandemia e, consequentemente, das restrições hoje decretadas.

Alerta ao novo momento

Conforme o especialista, além da baixa adesão ao isolamento, o Ceará ainda sofre com a existência de novas variantes da doença, somada à alta taxa de ocupação de leitos, o que gera uma longa fila de pacientes à espera. Ainda há mais pessoas jovens internadas, leitos ocupados por mais tempo e, com isso, o nível de rotatividade é menor nos hospitais.

“A gente vive hoje um momento muito diferente da pandemia do que a gente viveu na primeira semana do lockdown há um ano. Se a gente não lidar sério com essa pandemia, teremos sérios problemas nas próximas semanas”, defende o especialista, apontando a vacina como a única saída para o fim do isolamento.

“Hoje, a necessidade de respeitar o lockdown é muito maior que no ano passado. Se a gente não pagar essa conta agora, vai pagar lá na frente, tendo que lidar, por exemplo, com estimativas de 7 mil, 10 mil mortes por dia [no País]”, estima o biomédico.

Legenda: Clientes de uma lotérica aglomerados no primeiro dia do lockdown de 2021 em Fortaleza
Foto: Kid Júnior

Respeito ao isolamento

Apesar do cenário desafiador, há pessoas que vêm seguindo à risca as medidas de isolamento. É o caso da estudante de nutrição, Lívia Rabelo, de 19 anos. A jovem mora com os pais e duas irmãs e já cumpre o isolamento social há quase um ano, desde o primeiro lockdown.

Após ver “tanta coisa absurda acontecendo”, decidiu se manter ininterruptamente em casa. Apesar da saudade dos amigos, familiares e das aulas de dança presenciais.

“[O isolamento] deixou de ser uma ordem dos meus pais e passou a ser algo que eu realmente acreditava ser o certo porque vi que, todos os dias, profissionais de todas as áreas da saúde estão dando literalmente as suas vidas por nós. Eles estão fazendo tanto e eu não posso fazer o mínimo?”, reflete a estudante, cujos tios e primos já foram acometidos pela Covid-19.

Apesar de todos os cuidados, a jovem confessa ser impossível toda a família evitar saídas esporádicas. O pai de Lívia é dono de uma confeitaria e necessita sair para comprar os insumos necessários. 

Organização da demanda

Desde que o isolamento rígido foi proposto pelo Governo Estadual, em 5 de março, houve uma queda na curva de casos confirmados pelo IntegraSUS. Nos últimos cinco dias, por exemplo, as confirmações já ficam abaixo de mil, ainda que casos em investigação possam elevar esses números.

“Isso pode, sim, ser reflexo da medida restritiva, embora essa velocidade de diminuição poderia ter sido maior se as pessoas tivessem aderido mais a essas três semanas ao lockdown”, pondera a epidemiologista Daniele Queiroz . “O lockdown vai agir exatamente para isso, para que a gente possa reduzir a velocidade de transmissão e para que os serviços de saúde se organizem para receber essa demanda crescente”.

Legenda: Taxa de ocupação de UTIs Covid em Fortaleza está em 91,63%
Foto: Fabiane de Paula

Ocupação dos leitos

Os sistemas de saúde público e privado vivem realidade preocupante em todo o Ceará. A taxa de ocupação de leitos UTIs no Estado está em 91,52% e de enfermaria, em 81,61%, conforme dados atualizados na plataforma IntegraSUS, às 21h03 desse sábado (20). A taxa de ocupação em UTIs adulto é ainda maior, de 95,16%.

Conforme o Diário do Nordeste publicou na sexta (19), todos os 184 municípios cearenses atingiram os níveis de alertas mais graves para transmissão da Covid-19. Ao todo, 173, ou 94% dos municípios, estão classificados no nível de alerta ‘altíssimo’ para transmissão da doença. Já os 11 restantes estão em risco ‘alto’, conforme o Painel Níveis de Alerta, disponibilizado na plataforma IntegraSUS. 

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Marcio Sousa

Editor chefe, Radialista profissional e Diretor de Programação da Taperuaba 98,7 FM

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