Fortaleza e Ceará têm arrecadação milionária com mercado de camisas; saiba como funciona produção
Marcas próprias renderam aos clubes R$ 21 milhões em 2020 em negócio que se expande; mesma fábrica atende aos dois clubes
Em 2016, o Paysandu lançou um novo movimento no mercado esportivo: a criação da marca própria Lobo. Da região Norte, a ideia se expandiu e chegou ao futebol cearense. Hoje, Ceará e Fortaleza estão entre os principais expoentes da comercialização de uniformes – gerando receitas milionárias.
O processo compreende o domínio de todas as etapas de fabricação, do design à distribuição. Assim, as equipes conseguem lucrar sem vestir uma grife internacional, como Nike, Puma e Adidas. Em 2020, por exemplo, com a pandemia de Covid-19, o lucro somado dos times com a venda de peças foi de R$ 21 milhões (valor bruto, sem considerar despesas como logística e produção).
Receita dos clubes com a marca própria (2020)
- Ceará: R$ 12 milhões (valor bruto) | 126 mil camisas vendidas
- Fortaleza: R$ 9 milhões (valor bruto) | 130 mil camisas vendidas
O montante representa acréscimo de receita quando comparada com gestões anteriores. Das equipes, o Fortaleza iniciou a Leão 1918 em 2016, substituindo a Kappa, então fornecedora italiana. Na antiga relação, o clube não tinha dados sequer da quantidade de camisas vendidas. “Hoje, em relação à marca própria e ao varejo, são um diferencial competitivo na receita. Com a marca própria temos mais flexibilidade na produção dos uniformes, sem ter um período definido. Tem um corpo maior de produção e, como temos um varejo próprio, a gente pode ter uma relação mais próxima com o torcedor do ponto de vista de preço”, explicou o presidente tricolor Marcelo Paz.
O Ceará, por outro lado, buscou estreitar o laço com a torcida através do serviço. O time usava o material da argentina Topper e, dentro das limitações contratuais, recebia cerca de R$ 1 milhão por temporada, ou seja, aumentou a receita com a Vozão, iniciada em 2019.
“É um projeto vencedor que criou um relacionamento mais próximo do clube com o torcedor, criou empatia, autoestima e orgulho para o torcedor. Temos vendido e lançado no mercado algo nunca visto na história do clube, são diversos produtos adquiridos disponíveis para a torcida, se tornando inclusive uma fonte de receita muito importante”, analisou o presidente alvinegro Robinson de Castro.
O detalhe é que ambos realizam a confecção através da Bomache, fábrica cearense especializada em materiais esportivos, localizada no bairro Messejana, em Fortaleza. A iniciativa local valoriza o comércio estadual e aproxima ainda mais as partes da linha de produção – um zelo maior ao que será entregue ao torcedor.
“A camisa da marca própria conversa com o torcedor, os clubes participam e passam o DNA deles. Nas outras marcas têm que acontecer da camisa conseguir chegar no gosto (da torcida), é linha de produção, já essa fica com 99% porque leva o DNA. A marca própria também é de clube grande, que estão acima de 120 mil peças ano”, declarou Alexandre Dalla, gestor comercial da Bomache.
Na próxima Série A do Brasileiro, seis dos 20 participantes estampam a própria marca. No Nordeste, segundo levantamento do blog do Cássio Zirpoli, são 18 adeptos – o pioneiro foi o Fortaleza.
Clubes da Série A de 2021 com marca própria
- América-MG | Sparta
- Atlético-GO | Dragão Premium
- Bahia | Esquadrão
- Ceará | Vozão
- Fortaleza | Leão 1918
- Juventude | 19Treze
Processo de fabricação
Apesar de uma única empresa centralizar a produção das camisas oficiais, Ceará e Fortaleza apresentam logísticas diferentes no desenvolvimento dos respectivos materiais. Cada gestão envolve mecanismos de produção que passam por critérios específicos até o aval completo do novo produto.
O time tricolor, prestes a completar cinco anos de lançamento da Leão 1918, tem um profissional à frente das etapas de design (Bruno Bayma) e coordena o próprio varejo, administrando por conta própria as lojas – que entram nas receitas apresentadas em orçamento.
O Vovô, com marca própria desde o fim de 2019, consegue lucro através do sistema de franquia, com royalties – o valor não faz parte de balancetes. Assim, o clube não é responsável por pontos como o estoque, apesar de acompanhar o processo. Os designers também são independentes.
Clubes do Nordeste com marca própria (por Blog do Cássio Zirpoli)
- 09/2016 – Fortaleza (Leão 1918)
- 03/2017 – Treze (Areno)*
- 05/2017 – Santa Cruz (Cobra Coral)
- 12/2017 – CSA (Azulão)
- 12/2017 – Salgueiro (Carcará)*
- 12/2017 – River (Carijó)
- 01/2018 – Central (Patativa)*
- 03/2018 – Sampaio Corrêa (Tubarão 1923)*
- 09/2018 – Bahia (Esquadrão)
- 12/2018 – Sergipe (Gipão)
- 02/2019 – CRB (Regatas)
- 03/2019 – Náutico (N Seis)
- 10/2019 – Botafogo-PB (Belo 1931)
- 10/2019 – Afogados (Coruja)
- 12/2019 – ABC (Elefante MQ)
- 12/2019 – Ceará (Vozão)
- 12/2019 – ASA (Gigante)
- 01/2021 – Vitória (Nego)
- (*) clubes com marcas próprias extintas ou suspensas
Origem histórica
No Fortaleza Esporte Clube, a linha criativa de produção atravessa a história, de modo a cada peça ter como origem um enredo. Foi assim em uniformes como Les Bleus (influência francesa), Centenarium (com a Cruz de Santiago), além de Luar e Sertão (com traços de Espedito Seleiro).
Torcedor do clube, Bruno Bayma é o gerente de projetos e responsável pelo design dos uniformes. O profissional pensa nos modelos, conversa com a fábrica os processos e os apresenta para a diretoria executiva e conselheiros – depende do aval para prosseguir com a execução.
“Uma camisa não é feita sozinha, é sempre compartilhada. A gente pede aprovação da direção, sugestão de torcedores e com pessoas de confiança. Então é compartilhado, desenvolvido em várias mãos, mas finalizado por mim, desde o início da Leão 1918”, afirmou Bayma.
Uniforme raiz
O Ceará Sporting Club aposta na tradição alvinegra para desenvolver os uniformes das linhas de abertura da Vozão, que tem nove camisas de jogo desenvolvidas desde 2020. Com propostas previstas em estatuto, o clube entrega o produto projetando apenas a relação com o torcedor.
“Temos os uniformes 1 e 2 com especificações previstas em estatuto, e temos o 3 que é co-criado com a torcida através de um concurso cultural. Nós sabemos que a torcida gosta do uniforme alvinegro, ela é bem tradicional, e vamos seguir isso”, garantiu João Costa, executivo de marketing.
O departamento fica à frente do processo no clube. O ciclo envolve encaminhar um briefing com as ideias da temporada para a fábrica, que tem designers próprios. O esboço é avaliado e julgado por um comitê interno, que inclui membros da diretoria, e devolvido para a confecção.
Movimento de vanguarda
Uma das principais vantagens da marca própria é a possibilidade de lançamento de produtos em diferentes momentos do calendário, atendendo as demandas específicas do clube. Quando tinham vínculos com empresas esportivas, recebiam as peças em uma data pré-determinada, com limite no estoque, e tinham dificuldade para lançar uniformes especiais, como a camisa Roxa pelo Vozão.
O ponto, hoje, é um dos atrativos de Ceará e Fortaleza. “Alguns clubes do G5 do futebol brasileiro nos procuraram porque estão vendo os nossos clubes, no Nordeste, e falando: ‘esses caras estão na nossa frente’. A dinâmica mudou, os clubes têm que buscar receita, e muitos com maior investimento, mas rede de distribuição menor que os times cearenses”, detalhou Alexandre Dallas.
Projeção de receita com a marca própria (2021)
- Ceará: R$ 14,4 milhões (valor bruto)
- Fortaleza: R$ 7 milhões (valor bruto)
No planejamento estratégico, as diretorias conseguem contato com a torcida através de produtos personalizados e preenchem a temporada com lançamentos de uniformes – o principal foco da marca própria, que também se transforma em itens decorativos, bebidas e demais variedades.
No cenário da tecnologia, vale ressaltar que qualidades como Climalite e Dri-Fit são apresentadas em marcas esportivas, mas desenvolvidas em indústrias têxteis – a Bomache tem os fornecedores. “Os clubes do Sul, do G20, ainda usam a marca esportiva por quebra de paradigma”, completou.
Para 2021, o Fortaleza estima receita bruta com a venda de camisas de R$ 7 milhões. O Ceará projeta um faturamento, em receita bruta, de R$ 14,4 mi – em acréscimo de 20% do último ano.
Calendário de lançamentos do Ceará
- Camisa 01: maio
- Camisa 02: abril
- Camisa Sul-Americana: abril
- Nação Alvinegra: julho
Calendário de lançamentos do Fortaleza
- Camisa Copa do Nordeste: fevereiro
- Camisa 01 e 02: maio
- Camisa 03: outubro
- Camisa Outubro Rosa: outubro
- Enxoval de peças: dezembro
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