Falta oxigênio na UPA Edson Queiroz e pacientes são transferidos
Cerca de 15 pacientes foram transferidos para o Instituto Doutor José Frota 2 (IJF2), para o Hospital Estadual Leonardo Da Vinci (HELV) e para a UPA Itaperi
A sensação era de incerteza para quem esteve ontem, 14, em frente à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Edson Queiroz, à espera de notícias de algum familiar internado. Falta de informações sobre os parentes e movimentação de ambulâncias mais intensa do que o normal causaram angústia nas pessoas que lá esperavam. Para os profissionais, um dia árduo de trabalho: na Unidade chegou a faltar oxigênio medicinal para os pacientes.
“Algumas semanas atrás estávamos comentando sobre Fortaleza chegar em uma situação parecida com Manaus. Eu comentei que acredito que cheguemos nessa situação, só não esperava que fosse chegar tão rápido”, relata um profissional de saúde ouvido pela reportagem. Segundo O POVO apurou, ambulâncias do Samu Fortaleza — incluindo UTI Móvel — foram deslocadas para a UPA Edson Queiroz no início da tarde, quando a Unidade estava na iminência da falta de oxigênio.
Cerca de 15 pacientes foram transferidos para o Instituto Doutor José Frota 2 (IJF2), para o Hospital Estadual Leonardo Da Vinci (HELV) e para a UPA Itaperi. “Todos (os pacientes) estavam em oxigênio, a maioria em máscara de reservatório em alto fluxo. Tiveram que pronar (colocar de bruços) os pacientes para ver se eles aguentavam até as ambulâncias começarem a chegar”, relatou a fonte. Por volta das 19 horas, uma criança chegou ao local com falta de ar, mas não havia oxigênio.
“Foi complicado. Difícil ver os pacientes lá dentro da UPA, todos precisando de oxigênio, e a UPA com uma quantidade tão baixa que, um a um, os pacientes iam uns com o nível de oxigênio lá embaixo, outros já sem o mesmo”, conta. Na Central de Regulação do Samu Fortaleza, informações de que a UPA do Cristo Redentor passava por situação parecida: estava com baixo nível de oxigênio e necessitando da evacuação de pacientes internados na Unidade.
Com o pai internado na UPA há cinco dias, Nádia de Lisboa, 41, presenciou ambulâncias chegarem e partirem ao longo da tarde de ontem. A movimentação chamou a atenção dela, que observou pacientes sendo transferidos e ambulâncias levarem cilindros de oxigênio para a Unidade. “Não estavam recebendo mais ninguém, dizendo que tinha oxigênio para as pessoas que estavam aqui, mas para as pessoas que iam chegar não tinha mais. Só que a gente não acredita nisso”, afirma.
Já o taxista Francisco Nelízio, 59, estava aflito, em busca de informações sobre a esposa, Maria Zulene Ferreira Pontes, 64, que está na UPA desde terça-feira, 9. Ele reclama do tratamento recebido pela esposa e do desencontro das informações sobre o estado de saúde dela. “Ela passou terça-feira e quarta em uma cadeira; quinta-feira, em uma poltrona. Quando eu vim aqui e fiz um ‘auê’, ela passou para uma maca. Ela passou até um WhatsApp para mim: ‘meu filho, estou aqui humilhada, desprezada. Ninguém vem me ver”, conta.
Não foi a primeira vez que ocorreu a situação vivida na UPA Edson Queiroz neste domingo. Segundo a fonte ouvida pelo O POVO, há menos de uma semana foi a “mesma correria”. A Unidade conta com uma usina para a produção do próprio oxigênio, e a aparelhagem gera e armazena cerca de 5,6 m³ do gás hospitalar por hora aos pacientes que necessitem do insumo. “Na primeira vez, uma peça do maquinário deu problema e parou de produzir. Acreditamos que ocorreu de novo”, afirma.
Por meio de uma nota, a Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza (SMS) afirmou que, mesmo diante da grande procura assistencial no sábado, 13, e no domingo, 14, a Unidade está dando suporte aos seus pacientes que estão em observação. “Alguns em ventilação mecânica e sendo transferidos para leitos de UTI e enfermaria, conforme perfil assistencial e disponibilidade de vagas”, continua o comunicado. A secretaria não respondeu sobre problemas na usina de oxigênio até o fechamento desta página.
A Secretaria ressaltou a necessidade de apoio por parte da população no cumprimento das regras de isolamento social rígido, na tentativa de evitar um colapso da rede assistencial de saúde. “A rede hospitalar da Capital já dispõe de 644 leitos destinados exclusivamente aos casos de infecção pelo novo coronavírus. Destes, somente nas UPAs municipais foram 170 novos leitos, em anexos, e outros 20 serão disponibilizados nos próximos dias”, complementa.
Por meio das redes sociais, o governador Camilo Santana (PT) informou que os hospitais e equipamentos de saúde do Estado têm suporte de oxigênio suficiente, mas há problema de fornecimento em equipamentos municipais, por conta da logística das empresas contratadas pelas cidades. “Ou seja, não há falta de oxigênio no Ceará, mas problema na entrega dessas empresas para os municípios que as contrataram.”
O governador reuniu-se com o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE), Evandro Leitão (PDT); o presidente da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece), Júnior Castro; o procurador-geral de Justiça do Ceará, Manuel Pinheiro; o procurador da República Alessander Sales, e os secretários da Saúde, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, dr. Cabeto, e da Casa Civil, Chagas Vieira. O objetivo da reunião foi encontrar formas de apoiar os municípios, inclusive na negociação com as empresas fornecedoras.
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