Facção criminosa cearense fatura R$ 5 milhões por mês e se expande para outros estados
As informações sobre a facção foram levantadas em uma investigação da Polícia Civil
Uma facção criminosa nascida no Ceará, há 7 anos, alcançou um número de 25 mil integrantes, um faturamento mensal de R$ 5 milhões (ou R$ 60 milhões ao ano) e ainda se expandiu para outros quatro estados brasileiros. A principal atividade do grupo criminoso é o tráfico de drogas local.
As informações foram levantadas em uma investigação da Polícia Civil do Ceará (PC-CE), que levou à denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE) contra um grupo que integraria a facção. Entretanto, a Justiça Estadual considerou que a apuração policial não se aprofundou na atuação criminosa individual dos acusados e, no último dia 11 de abril, absolveu e soltou 11 réus. Apenas uma acusada foi condenada à prisão.
A sentença judicial traz que a organização criminosa cearense tem raízes criadas em 2012, “iniciando-se num grupo de torcida organizada (de futebol), o qual passou a envolver-se com o tráfico de drogas como alternativa encontrada para financiar o grupo, ocasião em que virou uma gangue de bairro, até se transformar em facção criminosa em Janeiro/2016, sendo atualmente a terceira maior facção atuante no Estado do Ceará”.
O MPCE ressaltou, na denúncia, a forma violenta como o grupo criminoso se denotou: “uma organização criminosa local, formada predominantemente, por jovens moradores da periferia, arregimentados entre aqueles com perfis violentos para a prática de roubos de veículos, residências, tráfico de drogas, homicídios, expulsão de moradores, incêndio a ônibus, ataque a prédios públicos, dentre outras, fazendo uso em suas ações de armas de fogo”.
A facção se expandiu pelas ruas e pelos presídios cearenses e tomou proporções até interestaduais. “Estima-se que o grupo tenha cerca de 25 mil integrantes, 21 lideranças, faturamento mensal de R$ 5.000.000.00 (cinco milhões), estando presente em 90 (noventa) cidades no Estado do Ceará, expandindo-se ainda para os Estados do Alagoas,Goiás, Rio de Janeiro e Pernambuco”, revela a decisão da Vara de Delitos de Organizações Criminosas.
Conforme as investigações policiais, a facção cearense foi responsável por algumas chacinas nos últimos anos, como a Chacina das Cajazeiras (em que 14 pessoas foram mortas nas proximidades do Forró do Gago) e a Chacina do Benfica (que deixou 7 mortos, nas redondezas da Praça da Gentilândia), ambas ocorridas em Fortaleza, em 2018.
Naquele ano, devido à brutalidade empregada nas ações criminosas, a facção virou o principal alvo da polícia cearense. Dezenas de lideranças foram presas. “Sufocada no Ceará”, a organização criminosa se ramificou para outros estados, principalmente Alagoas e Rio de Janeiro, descreveu o Grupo Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), do MPCE.
A facção cearense recuou na guerra que travava com uma facção de origem carioca, nos últimos anos, para focar no tráfico de drogas. Uma fonte da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) afirmou à reportagem que “em dado momento, algumas lideranças da facção viram que poderia ser ‘melhor’ se afastarem mais da carnificina”. Outra facção local surgiu e passou a guerrear com o grupo carioca, por pontos para o tráfico de drogas, na Capital e na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
11 ACUSADOS SÃO ABSOLVIDOS E SOLTOS
A Vara de Delitos de Organizações Criminosas absolveu e mandou soltar 11 acusados de integrar a facção criminosa cearense, em decisão proferida no último dia 11 de abril. Apenas uma denunciada, Narlla Nunes dos Santos, foi condenada a 8 anos e 3 meses de prisão, em regime inicial fechado.
Os réus foram presos entre 2021 e 2022, após terem os nomes, fotografias e outras informações pessoais encontrados em fichas de cadastros da facção, no aparelho celular de um líder do grupo criminoso, Sueliton Borges de Sousa, conhecido como ‘Rei da Colômbia’, detido em setembro de 2019. Sueliton seria o chefe do tráfico de drogas em comunidades de Maracanaú e Pacatuba.
O Colegiado de Juízes considerou a investigação policial insuficiente para condenar 11 réus. “Compulsando os autos, verifico que as informações preliminares contidas nas fotos são destituídas de qualquer investigação por parte da Autoridade Policial e do órgão acusador, que quedou-se inerte em apurar a veracidade do fato, bem como em apurar a sua posição hierárquica na facção criminosa ou o trabalho desempenhado pelos acusados nesta”, justificou.
Quanto à Narlla Nunes, a Justiça entendeu que há indícios que ela é uma operadora financeira da facção cearense. A Polícia encontrou comprovantes de transações financeiras que a mulher fez para chefes da facção. A acusada negou integrar a organização criminosa e praticar qualquer delito.
“Apesar da negação da acusada, as versões trazidas pela defesa não abalam o sólido arcabouço probatório eligido pela acusação. Em verdade, restou comprovado que a acusada integrava de fato a facção criminosa, sendo pessoa de confiança de membros da alta cúpula, atuando na importante função de operadora financeira”, concluiu a Vara de Delitos de Organizações Criminosas.
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