Estudantes aguardam livros didáticos após quase 7 semanas desde o início das aulas na rede pública
Mães relatam que filhos estudam virtualmente sem apoio do material em casa
Se o acompanhamento das disciplinas remotas já apresenta dificuldades para os estudantes acostumados ao ensino presencial, as barreiras podem se tornar ainda maiores sem o acesso ao livro didático. Em Fortaleza, mães de escolas municipais e estaduais apontam que os filhos estão há quase sete semanas aguardando o recebimento dos livros das disciplinas.
Nesse meio tempo, a recepcionista Maria Almeida, que não quis ser identificada com o verdadeiro nome, acompanha a rotina de estudo do filho sem o material escolar. “O meu menino estuda lá. O que acontece é que quando a professora fica dando aula, ele fica só anotando, mas não tem o livro. Como vai aprender sem livro e sem material?”, questiona.
Sem condições de aprender
O filho dela, João, cursa o 1º ano do ensino médio na Escola de Tempo Integral Monsenhor Dourado, localizada no bairro Padre Andrade, e desde o dia 8 segue sem o material essencial para o aprendizado.
“Era para ter sido entregue. A coordenadora disse que vai passar a entregar depois do lockdown, mas como tem o decreto, eles estão esperando passar”, aponta.
Já a vendedora Ana Cardoso, que também optou por um nome fictício, relata que a filha, de 17 anos, matriculada no 2º ano da Escola de Ensino Médio Deputado Paulo Benevides, em Messejana, ainda não recebeu o material para fazer o acompanhamento das aulas onlines. “A escola não fala nada sobre o material, nem indica quando devemos receber. [Os livros] já deveriam estar com ela desde o começo do ano. Agora ela tem aula, prova, tudo só online e sem apoio dos livros”, diz.
Rede municipal
Da mesma forma, Renata Oliveira, outro nome fictício, aponta que na Escola Municipal Francisco Andrade Teófilo Girão, no bairro Passaré, as filhas matriculadas no 1º e 7º ano do ensino fundamental também não receberam os livros. A previsão dada pela coordenação de sua escola, segundo aponta, também foi para depois do lockdown, que deve terminar ao fim deste mês.
“Elas não têm nenhum livro. A pequena só responde porque a professora faz tudo online e manda. Eu ajudo ela a responder e a gente envia a foto do dever, da tarefa. A minha mais velha, do mesmo jeito. Elas estão estudando como podem, se virando do jeito que podem, porque livro não tem ainda”, compartilha.
Para Renata, que acompanha de perto o desenvolvimento e aprendizado das filhas, o livro é essencial no aprendizado, porque ajuda principalmente a tirar as dúvidas que surgem e aprofundar as informações apresentadas em sala de aula.
Importância dos livros para o aprendizado
Segundo o Conselho Estadual de Educação (CEE), o livro didático é o instrumento central do ensino, “em especial na rede pública”. O Conselho salienta que, neste momento de pandemia, o livro torna-se uma ferramenta ainda mais indispensável para o aprendizado, considerando que muitos dos estudantes não têm acesso ao ensino remoto.
O CEE pontua, no entanto, que os livros didáticos são repassados pelo MEC para encaminhamento às escolas e as secretarias estadual e municipal de Educação devem entrar em contato com o MEC para saber possíveis motivações do atraso no envio dos livros. “A ausência do livro didático gera uma grande lacuna no âmbito do ensino, obrigando o professor a criar e adotar novas estratégias pedagógicas para que os alunos não sejam prejudicados”, menciona a nota.
Resposta da Secretaria Estadual de Educação
Sobre a falta do livro escolar na Escola Monsenhor Dourado, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc), por nota, informou que devido aos cuidados sanitários relacionados à pandemia, a instituição precisou fazer uma adaptação no processo de entrega dos livros didáticos. A entrega está prevista para o próximo mês de abril, por agendamento e respeitando os protocolos sanitários.
“Nesse período, a escola tem utilizado as plataformas Aluno Online, Professor Online e o Google Sala de Aula (Google Classroom) para as aulas remotas e disponibiliza de forma virtual, através de WhatsApp e do Aluno Online, todo o material necessário aos estudos”.
Segundo a Pasta, para garantir o acesso dos estudantes às atividades online e melhorar a qualidade da educação, o Governo do Ceará, por meio da Seduc, distribuiu chips com pacote mensal de 20GB de internet móvel, ofertou Kit Gravação para apoiar e fortalecer o trabalho dos professores e gestores escolares para todas as escolas públicas estaduais, incluindo os Centros de Educação de Jovens e Adultos (Cejas), além dos 13 Centros Cearenses de Idiomas (CCIs). O investimento total na rede ultrapassa R$ 20 milhões.
Também através da Seduc, a nota menciona que foram adotadas ainda as providências necessárias à aquisição de 150 mil tablets para alunos da rede pública, com orçamento já garantido e processo em fase de compra.
Resposta da Secretaria de Educação de Fortaleza
A reportagem solicitou à Secretaria de Educação de Fortaleza (SME) informações sobre a situação específica na Escola Municipal Francisco Andrade Teófilo Girão. A pasta foi questionada sobre a razão para a não entrega dos livros, a previsão dessa entrega e a forma como os materiais devem ser distribuídos aos alunos quando estiverem disponíveis.
Em nota, a SME alegou que o envio de livros didáticos pelo Governo Federal para a Capital considera o número de matrículas registradas no Censo Escolar do ano anterior. Por causa disso, e devido ao crescimento de matrículas em 2021, algumas turmas ainda não receberam todos os livros.
No entanto, a secretaria afirmou que já oficializou o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para o envio do quantitativo que contemple todos os alunos. Além disso, disse que deve remanejar exemplares entre as unidades de ensino. Não informou previsão de resolver a situação.
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