Politica

Embates Ciro x Lula acirram tensão entre PT e PDT e colocam em xeque acordos no Ceará

Críticas entre lideranças dos partidos no plano nacional dificultam relação que já vem estremecida desde a eleição de 2018

Os embates no plano nacional entre o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o ex-presidente Lula (PT), prováveis candidatos à Presidência da República em 2022, têm acirrado o clima de tensão entre petistas e pedetistas e colocado em xeque a aliança dos dois partidos no Ceará.

Para lideranças de PT e PDT, o governador Camilo Santana (PT) será o grande fiador da relação entre as duas principais siglas do grupo que comanda o Estado, de olho em manter a parceria político-administrativa para a sucessão no Palácio da Abolição.

Marcas passadas 

Desde 2018, a relação entre PT e PDT no plano nacional anda deteriorada, fruto dos conflitos de interesse e posições antagônicas durante a eleição presidencial.

De um lado, Ciro Gomes concorreu à Presidência pela sigla pedetista e não recebeu o apoio do PT como gostaria. A legenda petista, por sua vez, lançou o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, na corrida.

No primeiro turno, Ciro fez ataques ao PT e cobranças por autocríticas da legenda depois de longo período no poder e escândalos de corrupção expostos pela Operação Lava Jato.

Já no segundo turno, entre Haddad e o então candidato Jair Bolsonaro, Ciro Gomes não fez campanha para o petista. Ele viajou para a Europa e se afastou da eleição. 

Embates continuam

De lá para cá, houve tentativas de uma trégua entre Ciro e Lula, patrocinadas, inclusive, pelo governador Camilo Santana, maior liderança do PT no Ceará e aliado dos irmãos Cid e Ciro Ferreira Gomes no Estado. 

Em setembro de 2020, eles se reuniram, em São Paulo, na sede do Instituto Lula, e geraram especulações sobre uma reaproximação entre PT e PDT, de olho na sucessão de Bolsonaro em 2022. 

Mas, a preço de hoje, esse já não parece ser mais um indicativo. Apesar do gesto de “paz”, o clima entre Lula e Ciro voltou a azedar. 

Em entrevistas recentes à imprensa, Ciro Gomes tem repetido críticas ao ex-presidente Lula e ao PT. 

“Sairá da cabeça da nação brasileira essa espada que obriga a esquecer todas as contradições do Lula e do PT só para se livrar do mal maior, mais emergente, mais doído, que é a tragédia do genocida e corrupto Bolsonaro”, disse ao site Uol, na última sexta-feira (2). Ciro Gomes (PDT) Ex-ministro

O prefeito de Sobral, Ivo Gomes (PDT), irmão de Ciro, também tem endossado críticas a Lula, questionando o motivo de não poder falar mal dele e associando a imagem do petista à corrupção.

A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, rebateu as críticas de Ciro.

“Ciro Gomes está competindo com Bolsonaro na mentira e na baixaria. Os métodos são iguais, porque os dois tremem de medo de enfrentar Lula nas urnas. No caso do Ciro, é ainda pior. Mente e ofende para ter palanque na mídia e ficar mais ‘confiável’. Passou de coronel para jagunço da direita Gleisi Hoffmann Presidente nacional do PT

Aliança em risco

Esses embates no plano nacional têm acirrado o clima de tensão entre PT e PDT e incomodado aliados no Ceará que colocam em xeque a manutenção da aliança dos dois partidos no Estado desde 2006.

O deputado estadual Elmano de Freitas, umas das principais lideranças do PT, descarta alianças em que não haja respeito ao ex-presidente Lula. 

“Não há possibilidade de um aliado ser coligado com o PT sem respeito ao presidente Lula. A posição do Ciro e do Ivo colocam em risco a aliança, porque tem uma postura de desrespeito à maior liderança do PT e isso é inaceitável para os militantes do PT e para o eleitorado do PT Elmano de Freitas (PT) Deputado estadual

Elmano, contudo, afirma que há uma avaliação interna no PT de que se deve fazer um esforço para a manutenção da aliança no Ceará, “mas isso implica termos respeito uns pelos outros”, opina. 

Para o deputado federal petista, José Airton Cirilo, o PDT mantém uma relação com o PT no Estado de “mera utilidade política”.

“Eles sabem da força do PT, da militância, e chegaram aonde chegaram (no Ceará), tendo com o PT uma relação de mera utilidade política. Como o PT vai engolir esses ataques dos aliados?”, pergunta.

Sucessão a governador

José Airton defende a aliança com o PDT, desde que a sigla petista indique o candidato a governador em 2022, e coloca o seu nome como opção. 

“Até quando o PT ficará subserviente e irá a reboque dos Ferreira Gomes no Ceará? O Cid só foi governador por causa do apoio decisivo do PT. O PDT já tem a Prefeitura de Fortaleza, a vice-governadoria, o PT também vai entregar o Governo do Estado? José Airton (PT) Deputado federal

José Airton é uma das vozes dentro do PT que defende a tese de candidatura própria ao Governo, no mínimo, complexa dentro do partido. 

Tudo indica que Camilo Santana deve concorrer ao Senado e integrantes da cúpula petista no Ceará afirmam que, se ele for o indicado do grupo governista para a vaga, é razoável que o partido não indique o candidato a governador, abrindo assim caminho para o PDT. 

O fato é que essa definição da sucessão estadual é outro problema que terá de ser resolvido entre PT e PDT no Ceará e dependerá, justamente, dos rumos da aliança dos partidos no Estado.

Clima de tensão

Reservadamente, um deputado pedetista no Ceará mais ligado aos irmãos Ferreira Gomes ironiza a possibilidade de o PT reivindicar a cabeça de chapa, ou seja, a vaga de candidato a governador. 

“Vamos indicar um bom candidato a governador e a tendência nossa é apoiar Camilo para senador, ou o PT vai querer as duas vagas na chapa? Vamos entrar no sistema nervoso? O PT é muito bom para a gente apoiar, mas não é bom para apoiar a gente Deputado do PDT no Ceará

Essa liderança pedetista endossa as críticas de Ciro ao Lula e ao PT.

“Precisamos de uma politica nacional que possa desenvolver o país e essa maneira do PT fazer (política) não está correta. O Ciro vai ficar calado? O que o Ciro está dizendo é que o Lula não foi absolvido (das acusações) e o PT está passando para o grande público, escorando no Bolsonaro, que está livre”, disse a fonte, que optou por não se identificar. 

O presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Evandro Leitão (PDT), coloca panos quentes e minimiza as tensões entre as duas siglas.

“Temos que saber separar o contexto nacional do estadual. A aliança PDT-PT no Ceará tem rendido ótimos frutos ao Estado desde o primeiro governo Cid e agora com a gestão do governador Camilo Santana. O Estado cresceu e se desenvolveu muito nos últimos 14 anos e essa aliança tem sido muito importante nesse sentido. Precisamos trabalhar para manter esse ritmo de crescimento que o Ceará tem tido Evandro Leitão (PDT) Presidente da Assembleia Legislativa

Para petistas e pedetistas, o governador Camilo Santana é o único nome que pode pacificar a relação entre PT e PDT e costurar as articulações entre os partidos para a manutenção da aliança no Ceará em 2022. Ele no entanto tem evitado falar das próximas eleições e reforça que o foco são as ações governamentais de combate à pandemia.

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Marcio Sousa

Editor chefe, Radialista profissional e Diretor de Programação da Taperuaba 98,7 FM

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