Disparo que matou dono de barraca na Praia de Iracema foi acidental, alega PM investigado
A vítima tinha um mandado de prisão em aberto pelo crime de roubo. Ela foi algemada e depois atingida por um tiro no dia 12 de março.
Investigado pelo homicídio do dono de uma barraca na Praia de Iracema no último dia 12 de março, o policial militar (PM) Erick Nery de Oliveira disse à Polícia Judiciária Militar que o disparo contra o jovem de 27 anos foi acidental. Segundo depoimento do soldado, a qual a reportagem teve acesso, Taian Fé Nogueira Costa entrou em luta corporal contra ele e tentou puxar sua arma, momento em que ocorreu o acidente.
Segundo o Inquérito Policial Militar (IPM) obtido pelo Diário do Nordeste, o soldado Nery prestou depoimento por comparecimento espontâneo na madrugada do último dia 12, e explicou que o fato ocorreu, pois Taian fugiu, algemado, para o mar.
A ocorrência começou após os PMs do Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur) abordarem pessoas que usavam drogas na praia. Em consulta de antecedentes, foi verificado um mandado de prisão em aberto contra a vítima morta, expedido pela Justiça do Pará, por roubo.
➡️ Jovem dono de barraca na Praia de Iracema é morto durante abordagem da Polícia Militar: https://t.co/nb6Cf7r3CO pic.twitter.com/DkPWcGGGja
— Diário do Nordeste (@diarioonline) March 12, 2024
“Ao alcançá-lo, foi surpreendido por Taian Fé ao tentar tirar sua arma, tendo embate corporal, no momento em que houve um disparo acidental”, diz trecho do interrogatório.
O relato dá conta que ele ainda algemou novamente o jovem após o tiro, pois percebeu que ele só estava com uma das mãos presas, momento em que ele percebeu o tiro. “Foi prestado socorro”, informou o PM, que teve a versão endossada por seu supervisor e por uma colega soldado. Segundo as versões, Taian foi levado pela composição ao Instituto Doutor José Frota (IJF), ainda com vida.
Além de alvo do IPM por homicídio, o agente está atualmente afastado dos quadros da Polícia Militar do Ceará (PMCE) por determinação da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD).
Além do afastamento, a CGD instaurou um processo disciplinar contra o PM, para que a conduta dele seja apurada no âmbito administrativo, que já está em andamento.
Por meio da nota, a Controladoria informou que o afastamento pode durar até 120 dias, mas pode ser interrompido a qualquer momento durante as apurações. “O afastamento de um servidor de suas funções não autoriza a suspensão de seu salário. Essa prática viola princípios constitucionais, como o da presunção de inocência”, explica o órgão.
VERSÕES CONFLITANTES
A versão do depoimento do soldado Nery é contrária ao relato de uma testemunha presente no local e ao de familiares e amigos de Taian, que protestaram nas redes sociais. Ao Diário do Nordeste, um estudante que estava na praia no momento da ocorrência, e que não será identificado por motivos de segurança, relata que Taian foi baleado na frente da barraca dele e na presença da esposa e do filho pequeno.
Taian trabalhava na barraca com sua esposa, vendendo drinks, petiscos, almoços. Durante a noite, o espaço funcionava como uma lanchonete. No dia seguinte, após a morte, as barracas não funcionaram e o movimento caiu na Praia.
Os relatos dão conta que o empreendedor não ofereceu resistência, pois estava algemado. Imagens que circulam nas redes sociais mostram um agente de segurança retirando as algemas quando o corpo do homem já estava no chão, baleado.
Em nota, a PMCE informou que ele foi socorrido com vida a um hospital, mas a versão é contestada por pessoas que presenciaram a cena e afirmam que ele morreu ainda na praia.
A testemunha relatou que, ao ser abordado, o jovem foi algemado e em dado momento “ficou nervoso” e correu, mas foi alcançado pelos militares e baleado ainda algemado. Vídeos mostram um grupo de pessoas retirando o corpo do homem da faixa de areia e o levando para próximo de uma viatura.
PM RECEBEU APOIO INSTITUCIONAL DA CORPORAÇÃO
Nessa segunda-feira (18), a Polícia Militar do Ceará (PMCE) prestou apoio institucional ao PM Erick Nery. Ele foi recebido no Quartel do Comando Geral (QCG) pelo secretário-executivo da SSPDS, Angelo Filardi, e pelo coronel comandante Geral da PMCE, Klênio Savyo.
Também estavam com o PM, o tenente-coronel Ozeás, capitão Maximiano e a 1º Tenente Michelly, todos do Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas (BPTUR). Nas redes sociais da PMCE, foi mostrado apoio ao policial.
“Na oportunidade foi ratificado o apoio institucional ao soldado Nery e a busca contínua pela justiça”, dizia a legenda.
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