Segurança

Detalhes da trama de uma quadrilha que terminou em massacre no Benfica

Fim da tarde do dia 9 de fevereiro de 2018, 17h56. Bandidos encapuzados surgem em um carro preto na Rua Felino Barroso, no bairro de Fátima, em Fortaleza, sacam suas pistolas e atiram contra um jovem de 25 anos de idade que caminhava na calçada. Ele recebe os primeiros tiros ainda na rua, mas corre até a casa de seus familiares, cai dentro da residência e recebe mais disparos à queima-roupa, morrendo ali mesmo. Começava ali a trama que resultou na chacina do Benfica, a matança de sete pessoas que nesta sexta-feira (16) completa uma semana.

O jovem cujo assassinato foi descrito acima era Jorge Luís Rodrigues da Silva, conhecido por “Novinho”. Sua morte provocou a ira em um dos 1.082 detentos da Casa de Privação Provisória da Liberdade Professor Clodoaldo Pinto, a CPPL2, em Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Marcus Sá de Assis Sobrinho, o “Marquinhos”, preso por tráfico de drogas e que tem na sua ficha criminal outros delitos como receptação, tentativa de homicídio e porte ilegal de armas de fogo, era primo e amigo de infância de “Novinho”, e não aceitou sua morte brutal. Os dois cresceram juntos brincando de bola na Rua Felino Barroso.

A partir daquele dia, “Marquinhos” passou a se articular, através de seu celular, com bandidos soltos para vingar a morte de “Novinho”. Da trama também foram chamados para participar da empreitada criminosa os seguintes comparsas: Stefferson Mateus Rodrigues Fernandes, o “Véi”; Douglas Matias da Silva e Francisco Ellison Chaves de Souza. Um dos alvos da quadrilha, era um bandido conhecido por “Gel”, além de “Júnior Biba”, que, na verdade, se chamava José Gilmar Furtado de Oliveira.

“Gel” e “Júnior Biba” teriam comandado a morte de “Novinho” e de outras pessoas da família de “Marquinhos”, entre elas, um cunhado, marido de Carla Mariana Fernandes de Assis Dantas, irmã do traficante preso na CPPL.

Com o assassinato de “Novinho”, “Marquinhos” e sua quadrilha decidiram esperar a hora para o revide, o que acabou acontecendo na noite da última sexta-feira (9). Além de “Júnior Biba” (o primeiro a ser executado na Praça da Gentilândia),comparsas dele também foram eliminados por ordem expressa do traficante, que acompanhava tudo através de mensagens em seu celular numa das celas do presídio em Itaitinga.

A matança foi premeditada em todos os seus detalhes. Três antes de acontecer o crime, “Marquinhos” providenciou que sua família saísse de casa, no bairro de Fátima, e fosse se abrigar na comunidade do Lagamar, ficando sob a proteção de um traficante de drogas já bastante conhecido da Polícia cearense e que, recentemente, foi perseguido e ameaçado de morte pela facção rival, o Comando Vermelho (CV). E foi do Lagamar que um dos matadores, Douglas, saiu na noite de sexta-feira passada para comandar as execuções sumárias na Praça da Gentilândia e arredores. Um “bonde” formado por três carros, com pelo menos, oito homens armados, saiu do Lagamar e seguiu até o Benfica, por volta de 22 horas, sem que fosse abordado no caminho pela Polícia.

Ex-aliados

A matança no Benfica deu sequência a uma série de mortes e atentados envolvendo ex-amigos da Rua Felinto Barroso e ex-comparsas de crimes como assaltos e tráfico de drogas. Uma briga interna na quadrilha oriunda do Bairro de Fátima gerou a chacina do Benfica. Alguns dos mortos não eram envolvidos no grupo, mas foram eliminados também de forma perversa e sem motivo algum apenas para a quadrilha de “Novinho” mostrar sua “força”.

Preso diversas vezes, a última “queda” de “Marquinhos” aconteceu em julho de 2014, quando ele foi apanhado com drogas. Dentro do presídio, se tornou um influente membro da facção Guardiões do Estado, a GDE, que deu respaldo e forneceu as armas para que a quadrilha promovesse a chacina do Benfica. Era a resposta do bandido aos crimes ordenados por “Gel” e “Júnior Biba”.

Trabalhando de forma sigilosa, a Polícia Civil do Ceará, através da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), já levantou os nomes de outros envolvidos na chacina, a partir da prisão de Douglas Matias da Silva, no último domingo (11), no apartamento de sua namorada, no Meireles.

Mais mortes à vista

Segundo uma fonte da Inteligência, os riscos de uma nova matança acontecer nos próximos dias nas ruas de Fortaleza são reais. “Já temos informações de que bandidos da outra quadrilha, ligada ao Comando Vermelho (CV), estão circulando em um carro preto com armas de grosso calibre para matar os comparsas ou mesmo familiares do traficante que ordenou a chacina de dentro da CPPL 2”.

“Marquinhos” permanece preso na CPPL 2, enquanto Douglas continua sob investigação na sede da DHPP. O trabalho da Polícia agora é reunir as provas do crime para concluir o inquérito e enviá-lo à Justiça até a próxima segunda-feira (19), quando completa o prazo de 10 dias. De antemão, será pedida a devolução dos autos para mais diligências e conclusão de perícias.

Enquanto isso não acontece, os inspetores estão nas ruas tentando prender outros criminosos envolvidos na disputa entre os dois grupos armados, para evitar um novo e iminente massacre

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Marcio Sousa

Editor chefe, Radialista profissional e Diretor de Programação da Taperuaba 98,7 FM

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