Como a visita de Michelle Bolsonaro e Damares pode impactar na busca pelo voto feminino no Ceará
A ex-ministra e a primeira-dama têm encabeçado o movimento pela adesão de mulheres a Jair Bolsonaro (PL) em uma espécie de campanha paralela
É com participação no Encontro de Mulheres Líderes e Empreendedoras e em culto ecumênico que a primeira-dama Michelle Bolsonaro e a senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) buscam melhorar a performance eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) no Ceará. As duas chegam ao Estado nesta sexta-feira (14).
A viagem de Michelle e Damares ao Ceará foi confirmada na última semana por vídeo postado pela deputada estadual Dra. Silvana (PL) ao lado da ex-ministra, que afirmou o objetivo de fazer “uma aliança pela vida e pela família”. De acordo com a coordenadora da campanha feminina de Bolsonaro no Ceará, vereadora Priscila Costa (PL), os dois eventos têm objetivos diferentes.
“(O encontro de mulheres) É um momento para falar diretamente ao público feminino sobre o governo Bolsonaro, os nossos desafios no segundo turno, o nosso compromisso de conquistar mais votos femininos. E às 19h30 é um evento com outro cunho, é mais um momento de celebração, momento de estarmos juntos e celebrando os valores que acreditamos”, explica.
“A nossa ideia é falar com as mulheres, a gente entende que o voto feminino é muito importante para essa vitória, que passa pelo voto feminino, e isso tem avançado bastante”, completa.
Esforços para a reeleição
Damares e Michelle saem de caravana pelo Norte pela reeleição do presidente e pelo êxito de candidatos aos governos locais no segundo turno. A esposa de Bolsonaro tem reforçado a campanha presencial desde o domingo (9). Segundo Priscila, a primeira-dama tem visitado cerca de três estados por dia. Seja nas redes ou nas ruas, as duas têm acenado para o eleitorado conservador e religioso.
Ainda na campanha em primeiro turno, Michelle encabeçou alguns atos políticos pela reeleição do marido, como o do sábado (1º), véspera do pleito. Na ocasião, ela discursou em cima de um trio elétrico, em Brasília, a apoiadores do presidente. Naquela data, Bolsonaro estava fora do Distrito Federal, pois participou de motociatas na capital paulista e em Joinville (SC).
Em busca do eleitorado feminino
O cenário para o presidente no Estado é duro, já que o adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu 65,91% dos votos válidos (3.578.355) no primeiro turno. Contudo, é melhor que em 2018: naquele ano, Bolsonaro teve 21,74% (1.061.075) dos votos válidos, enquanto em 2022 alcançou 25,38% (1.377.827).
No Ceará, neste ano, 3.603.756 mulheres estão aptas a votar. Esse número é equivalente a 53% do eleitorado do Estado, segundo dados da Justiça Eleitoral.
Como explica a cientista política Carla Michele Quaresma, a programação de Damares e Michelle Bolsonaro foca em um público evangélico de mulheres com maior proximidade ideológica com a primeira-dama.
“A tentativa é de que ela consiga pelo menos preservar esse voto porque o voto feminino oscila mais que o masculino. Então a depender dos acontecimentos da campanha, a tentativa é fazer com essas mulheres que votaram no primeiro turno em um dos candidatos que não chegou ao segundo votem pelo presidente Bolsonaro”, avalia.
A análise é compartilhada por Paula Vieira, pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem). “A agenda vem para ter esse diálogo com mulheres que têm esse perfil conservador, então acredito que não vai ter mudança de discurso ou sua amenização. Acho que já vem bem delimitado para essa público nesse intuito de diminuir a diferença entre Lula e Bolsonaro no segundo turno”, afirma.
Reforço do entorno
O grupo ligado ao presidente no Estado tem reforçado a campanha pelo voto feminino no segundo turno. Figuras como as deputadas eleitas Dr. Silvana e Dayany Bittencourt (União), além da própria Priscila Costa e de Mayra Pinheiro (do PL, que ficou na suplência da Câmara Federal), articulam-se com esse objetivo.
Além delas, a deputada estadual eleita Marta Gonçalves (PL) e a prefeita de Nova Russas, Giordanna Mano (PL), compõem esse grupo. A primeira é esposa de Acilon Gonçalves, prefeito de Eusébio e presidente do PL Ceará, e a segunda é casada com o deputado Júnior Mano, vice-presidente estadual do partido.
Silvana e Priscila mantêm contato com lideranças de Brasília, como a própria Damares, e o público religioso. Dayany une-se ao marido Capitão Wagner (União), um dos principais nomes do bloco de Bolsonaro no Ceará, para fortalecer o grupo conservador até o segundo turno. Mayra, por sua vez, ex-membro do primeiro escalão do Planalto, reforça o voto no mandatário pelas redes sociais como coordenadora da comunicação da campanha entre aliados no Estado.
Contudo, para Carla Quaresma e Paula Vieira, essa mobilização não deve se converter em mais votos para o presidente no dia 30 deste mês.
“Eu não vejo muito um peso no segundo turno, acho que é mais um reforço dos votos que já conseguiram no primeiro. Então é para garantir que esses votos permaneçam, e não para conquistar votos. A grande importância no segundo turno é manter os eleitores conservadores vinculados à campanha do presidente Bolsonaro”, diz a pesquisadora do Lepem.
Já Quaresma acredita que o peso político de algumas delas não é suficiente para esse objetivo. Apesar de ter composto o governo federal, Mayra Pinheiro não conseguiu se eleger deputada federal neste ano. Já Dayany se elegeu, mas “com transferência de votos do Wagner, mas não tem expressividade política, teve votação muito aquém que o marido obteve em eleições anteriores”.
Na sua análise, Dra. Silvana tem a visibilidade necessária, mas entre o segmento evangélico. “Então é a consolidação de uma base, não há a possibilidade de furar uma bolha por parte dessas mulheres que têm essa vinculação ao bolsonarismo no Ceará”, reitera.
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