Começa nesta segunda-feira (6) júri de PMs acusados de matar e ocultar o corpo de frentista no CE
O jovem sumiu há quase nove anos, após ser abordado pelos policiais militares, e nunca teve o corpo encontrado
Depois de quase 9 anos, o desaparecimento do frentista João Paulo de Sousa Rodrigues, em Fortaleza, resultará em um julgamento criminal. Quatro policiais militares irão sentar no banco dos réus da Justiça Estadual, a partir desta segunda-feira (6), por matar e ocultar o corpo do jovem – que nunca foi encontrado.
O sargento da Polícia Militar do Ceará (PMCE) Haroldo Cardoso da Silva, os cabos Antônio Ferreira Barbosa Júnior e Francisco Wanderley Alves da Silva e o soldado Elidson Temoteo Valentim irão a júri popular pelos crimes de homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, recurso que impossibilitou a defesa da vítima e meio cruel), ocultação de cadáver e roubo (já que a motocicleta da vítima também sumiu). Os PMs chegaram a ser presos, mas foram soltos depois de alguns meses. Haroldo está aposentado, enquanto os outros militares atuam em funções administrativas – afastados do serviço nas ruas.
O julgamento está marcado para começar às 8h30 desta segunda (6), no 1º Salão do Júri do Fórum Clóvis Beviláqua, e previsto para durar três dias – até a próxima quarta-feira (8). A expectativa da Justiça é ouvir 17 pessoas – os quatro réus, duas testemunhas arroladas pela assistência de acusação e 11 testemunhas arroladas pela defesa.
Representante do Ministério Público do Ceará (MPCE) no processo, o promotor de Justiça Marcus Renan Palácio espera que os réus sejam condenados à prisão: “Cuida-se de mais um deletério fato criminoso perpetrado por agentes do próprio Estado contra um de seus jurisdicionados, contra um de seus inocentes e indefesos cidadãos. Impõe-se, portanto, que os acusados sejam rigorosamente punidos, até porque, ressalte-se, as provas constantes dos autos são fartas e abundantes em relação às condutas – autorias e materialidade delituosas – dos policiais militares denunciados”.
A defesa dos policiais militares não foi localizada pela reportagem, para comentar as expectativas sobre o julgamento. Em recurso contra a decisão da Justiça de levar os militares a julgamento, a defesa alegou “insuficiência de provas” da participação dos clientes no crime.
O empresário Severino Almeida Chaves, conhecido como ‘Ceará’, proprietário do posto de combustíveis em que João Paulo trabalhava, chegou a ser acusado pelo Ministério Público de ser o mandante do homicídio. Entretanto, ele foi impronunciado pela Justiça (ou seja, a decisão judicial foi de não levá-lo a julgamento), por falta de provas.
COMO O FRENTISTA DESAPARECEU
O frentista João Paulo de Sousa Rodrigues desapareceu no dia 30 de setembro de 2015, na ida para o trabalho. Uma câmera de videomonitoramento registrou o momento em que ele foi colocado dentro de um veículo, por policiais militares.
“Em síntese, a dinâmica dos fatos sustentada pela acusação mostra que há elementos mínimos de prova indicando que a vítima João Paulo foi abordada pela composição de policiais militares Wanderley, Ferreira e Valentim (viatura 14071), algemada e conduzida para o interior do veículo Pálio de cor preta pertencente ao policial militar Haroldo, permanecendo algemada no veículo particular”, considerou a 1ª Vara do Júri de Fortaleza, na sentença de pronúncia.
Em seguida, a motocicleta da vítima foi subtraída por comparsa não identificado, saindo em comboio com a viatura 14071 que, de acordo com georeferenciamento de satélie, saiu de sua rota e adentrou em estradas e locais ermos por período de tempo considerável. Nunca mais sendo encontrado o corpo da vítima e a motocicleta.”1ª Vara do Júri de Fortaleza
Em decisão
João Paulo trabalhava em um posto de combustíveis que foi roubado cinco vezes, em Maracanaú. Em fevereiro de 2015, ele começou a trabalhar em um posto de propriedade de Severino Almeida Chaves. E, no dia 13 de setembro daquele ano, o estabelecimento foi assaltado. A sequência de crimes na presença do frentista fez o empresário desconfiar do empregado e encomendar a sua morte, de acordo com a denúncia do MPCE.
No entanto, João Paulo não teve participação nos casos ocorridos nos locais onde trabalhava. O jovem também não tinha passagens pela Polícia, nem mesmo quando ainda era adolescente. A mãe do jovem disse em entrevista ao Sistema Verdes Mares que ele sofria de gagueira desde criança e que esse fato fez com que o ex-patrão achasse que ele estava envolvido no roubo.
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