Com Cid, Eunício, Tasso e outros líderes, Lula reforça foco em frente ampla para 2022
Movimentos do ex-presidente no Ceará sinalizam posição para o PT na sucessão estadual
O último dia de agenda política do ex-presidente Lula (PT) no Ceará, nesta segunda-feira (23), foi marcado por reunião com lideranças partidárias, inclusive de oposição ao PT no plano nacional. O gesto demonstrou diálogo do petista com as mais diversas forças políticas, de olho em uma frente ampla para derrotar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em 2022, e sinalizou para o partido no Ceará o esforço em prol de alianças contra a oposição.
Um dos principais encontros foi o de Lula com o senador Tasso Jereissati (PSDB). O petista esteve ainda com o senador Cid Gomes (PDT) e o ex-senador Eunício Oliveira. Como parte da estratégia de fortalecer as alianças com partidos de esquerda, houve reuniões também com lideranças do PCdoB, do Psol e do próprio PT.
Encontro com Tasso
O encontro com o senador Tasso foi articulado por Lula uma semana antes de sua vinda ao Ceará. O ex-presidente se reuniu com o tucano, acompanhado da presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, e do coordenador da campanha de Lula no Ceará, o ex-prefeito de Quixadá, Ilário Marques.
A conversa durou em torno de uma hora, no escritório do senador, em Fortaleza. A pauta, segundo o próprio ex-presidente publicou nas redes sociais, foi a crise institucional no país e a necessidade de fortalecimento das instituições, em meio aos ataques à democracia.
Segundo interlocutores do senador cearense, a conversa entre as duas lideranças políticas foi mais para demarcar o território em prol do sistema democrático, contra o presidente Jair Bolsonaro que vai na direção contrária.
A reunião não teve desdobramentos político-eleitorais seja no nível nacional ou no nível local.
Relação amistosa
Aliás, interlocutores lembram que Lula e Tasso sempre tiveram um bom relacionamento, independentemente de suas posições antagônicas na política e do fato de PT e PSDB serem dois partidos, historicamente, de oposição nas eleições brasileiras.
O ex-deputado estadual do PT, Mário Mamede, já foi cotado para ser o candidato a vice de Tasso Jereissati em uma das eleições para governador.
Em 2003, o senador Tasso, no seu primeiro ano de mandato, ajudou a articular a reforma tributária no governo Lula.
Sem contar que quando Lula estava preso na Polícia Federal, em Curitiba, após condenação na Operação Lava Jato que foi anulada, Tasso enviou uma carta ao petista em solidariedade ao falecimento de seu neto.
PDT
Lula se reuniu, em seguida, com o senador Cid Gomes (PDT) e o governador Camilo Santana (PT), na residência oficial do Governo do Estado.
O encontro era um desejo de Lula, uma vez que o PT e o PDT são aliados de longa data no Ceará. Além disso, o governador Camilo Santana é apadrinhado políticos dos irmãos Cid e Ciro Gomes.
Hoje reencontrei um companheiro de luta em Fortaleza: o senador Cid Gomes (@senadorcidgomes). Uma boa conversa. Dividimos uma longa caminhada em defesa da democracia e de um projeto de inclusão. E compartilhamos a preocupação com o momento que atravessa nosso país.
— Lula (@LulaOficial) August 24, 2021
📷 Stuckert pic.twitter.com/45l6fovLZx
O encontro com Cid foi tentado até a última hora por interlocutores, uma vez que o irmão, Ciro Gomes, deve disputar a presidência da República em 2022 e tem criticado Lula e o PT.
MDB
O encontro com Eunício Oliveira (MDB) aconteceu durante o almoço. No encontro, segundo o emedebista, Lula deixou claro o desejo de se reaproximar do MDB, inclusive com a possibilidade de diálogo com o ex-presidente Michel Temer (MDB). O petista teria dito que “o que passou, passou”, em referência ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
União da esquerda
Lula também se reuniu com partidos de esquerda, como PCdoB e Psol, e o tom da conversa foi a união desse campo político em prol do fortalecimento da democracia e para derrotar as forças de oposição ligadas ao presidente Bolsonaro.
“A gente trocou ideias sobre a necessidade de construir um diálogo com as mais diversas forças políticas e sociais do país, sem preconceito, tendo como objetivo construir uma frente política para evitar essa escalada autoritária e fascista promovida pelo Bolsonaro e seus seguidores”, disse o presidente estadual do PCdoB, Luis Carlos Paes.
Segundo o dirigente, a sucessão do governador Camilo Santana não entrou em pauta, mas ele afirmou que o PCdoB deve se manter na base governista. “Fazer um esforço para manter as forças que estão ma base do Camilo unidas para derrotar as forças mais conservadoras”, avaliou.
Na reunião com o Psol, Lula seguiu o roteiro e falou sobre a conjuntura nacional. O presidente do partido no Ceará, Ailton Lopes, disse que colocou para o ex-presidente pontos que, na visão dele, devem ser defendidos por representantes do campo da esquerda na eleição de 2022.
“A necessidade de revogação de medidas que precarizaram condições de trabalho e retiraram direitos conquistados, além de trabalhar um modelo econômico que priorize o meio ambiente. A gente colocou que é importante que essas questões sejam colocadas num programa que fique nítido para a classe trabalhadora”.
PT
Presidente estadual do PT, Antônio Conin disse que a conversa entre o ex-presidente Lula e as lideranças petistas girou em torno da situação atual do País, principalmente a preocupação quanto ao aumento da fome.
Além disso, o objetivo foi ouvir, dos cearenses, um pouco sobre as experiências implementadas no Estado e nas prefeituras e que possam, futuramente, subsidiar uma programa do PT para a disputa eleitoral.
“A presença do Lula anima muito o partido como um todo”, disse Conin. “Agora, a gente vai manter a nossa agenda, de retomar o contato com base (do partido) no Ceará todo e ampliar o diálogo para 2022”. Conin disse ainda que a visita de Lula foi importante, para ele conhecer melhor a realidade do Estado para as futuras discussões quanto aos rumos do partido.
“Vamos ter a orientação do Lula e do Camilo. A partir da orientação dessas duas lideranças, vamos definir os nossos caminhos”, acrescentou.
Ainda sobre 2022, ele disse que Lula ressaltou a importância de eleger uma bancada forte para o Congresso Nacional. “Deputados identificados com o programa que vamos apresentar e que possam fortalecer essas ideias no Congresso”, ressaltou.
Reflexos no Ceará
Os encontros de Lula com partidos e lideranças de matizes políticas diferentes sinalizou para o PT no Ceará a tarefa de também abrir diálogo para alianças em prol da manutenção do grupo que hoje comanda o Estado e isso inclui o PDT.
PT e PDT, que são os dois principais aliados do grupo governista no Estado. vivem um clima de indefinição sobre a parceria política para 2022 no Ceará.
Além do fato dos dois partidos terem possíveis candidatos à Presidência da República que, a preço de hoje, coloca as duas siglas em posições de adversários, existem divergências internas sobre a eleição estadual.
Existe uma ala do PT no Ceará que defende candidatura própria ao Governo do Estado e outra que prega cautela e o diálogo com o PDT em busca de um consenso. Esse é um dilema que só deve ser resolvido a partir da construção do plano nacional.
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