Ceará aplicou segunda dose da vacina contra Covid-19 em menos de 50% da meta dos grupos prioritários
A Sesa distribuiu mais vacinas neste sábado e, em Fortaleza, a Prefeitura deve fazer um mutirão para atualizar a imunização de quem e está com a segunda dose atrasada
O Ceará imunizou, com primeira e segunda doses, menos da metade (46,67%) da meta estabelecida dos grupos prioritários na campanha de vacinação contra a Covid-19. O alvo é atingir 1.841.150 imunizações, mas o Estado garantiu a D2 para 859.367 pessoas, segundo boletim da Secretaria da Saúde (Sesa), atualizado no último dia 13.
Já a primeira dose foi distribuída para 79,9% do grupo prioritário do Ceará, o que equivale a 1.472.477 pessoas. Em Fortaleza, a meta do grupo prioritário engloba 651.406 cidadãos. Deste total, 73% tomaram apenas a primeira dose e 41,7% receberam as duas doses. Isso quer dizer que 271.656 pessoas que são prioridade na vacinação da Capital estão completamente imunizadas.
De acordo com o imunologista e professor do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Universidade Federal do Ceará (UFC), Edson Teixeira, o processo de vacinação no Brasil está “extremamente lento”, visto que as pessoas só podem ser, de fato, consideradas imunes duas semanas depois da aplicação da segunda dose.
O que nós deveríamos contar hoje era o número de pessoas vacinadas com duas doses há 14 dias, esse é o número real de pessoas imunizadas” Edson Teixeira imunologista e professor da UFC
“O que nós deveríamos contar hoje era o número de pessoas vacinadas com duas doses há 14 dias, esse é o número real de pessoas imunizadas” Edson Teixeira imunologista e professor da UFC
Edson destaca ainda que, com a demora no processo de vacinação, a possibilidade do surgimento de novas variantes do coronavírus é altíssima, possivelmente provocando casos mais severos e contagiosos.
“Você tem de 80% a 90% da população [do Brasil] sem vacina e, nesses indivíduos, o vírus pode se replicar ocasionando mutações – já que ele tem um RNA muito sensível”, alerta.
Questionado sobre a eficácia das vacinas atuais em relação às variantes já existentes, o imunologista explica que, até agora, elas “não foram capazes de reduzir muito o efeito de qualquer imunizante disponível no mercado, o que não quer dizer que seja regra. É possível que apareçam algumas que mudem tanto a estrutura do vírus que seja necessário uma atualização vacinal”.
Atrasos para a D2
Atualmente, mais de 9 mil idosos estão com a D2 atrasada no Ceará, mesmo após a realização de um mutirão para vacinação na última quinta-feira (13). O cronograma de imunização foi paralizado no Estado, no dia 29 de abril, devido à falta de vacinas ocasionada pela instabilidade na entrega de novos carregamentos.
Neste domingo (16), no entanto, em Fortaleza, a Prefeitura deve fazer um mutirão para atualizar a vacinação de quem está com a segunda dose atrasada na Capital, que recebeu neste sábado um total de 42 mil doses de Coronavac.
Essa é a situação enfrentada pelo comerciante Luiz Queiroz, de 64 anos, que recebeu a primeira aplicação da CoronaVac no dia 2 de abril e, até este sábado (15), não completou o processo com a D2.
“Eu tô super ansioso pra poder me imunizar, né? Pra gente levar uma vida mais tranquila, sem tá com receio de pegar essa doença de repente aí, que Deus defenda, o negócio é sério” Luiz Queiroz comerciante
Luiz relata também que convive com o medo de a primeira dose perder o efeito, “porque era 28 dias e já tá com 15 dias que era pra ter tomado a segunda dose. E não tem nem previsão, eu fico preocupado, é uma coisa assim bem complicada”, explica.
O imunologista Edson Teixeira esclarece que não há perigo nesse sentido. “Pelo menos do que a gente já conhece de outras vacinas, a primeira dose permanece e você só deve completar o esquema vacinal”.
“Isso se deve às células de memória, as quais permanecem [no organismo] por longos períodos e não se perdem caso se atrase duas semanas, um mês ou até um pouco mais a segunda dose”, continua.
No entanto, Edson destaca que o atraso entre as doses é grave e atrapalha o controle da pandemia, pois o processo de imunização vai demorar mais a ocorrer efetivamente entre a população.
“Aquela eficácia encontrada nos estudos de fase três só será atingida caso nós tenhamos as duas doses, seja da CoronaVac, da AstraZeneca ou da Pfizer”, ressalta.
Vacinação é a única saída
De acordo com o professor do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Universidade Federal do Ceará (UFC), Edson Teixeira, a vacinação em massa da sociedade é a única saída para a melhorar a situação pandêmica no país.
“A gente já sabe disso por tantas outras doenças virais que nós controlamos exatamente com a vacina hoje em dia, como a caxumba, a rubéola, a poliomielite”.
“Nós não temos medicamentos específicos para a Covid-19, nós temos que fazer a prevenção e a melhor prevenção é a vacina” Edson Teixeira imunologista e professor da UFC
Edson reflete que o ideal seria ter milhões de doses para vacinar todas as pessoas do Brasil 24 horas por dia em escolas, estádios, ginásios, grandes centros de eventos, postos de saúde, entre outros.
No entanto, como isso não é possível, estabelece-se a ordem prioritária entre as pessoas que “a epidemiologia mostra que morrem mais ou que podem desenvolver casos mais severos”.
“Há essa necessidade de estabelecer esses grupos prioritários para tentar, com as poucas doses que nós temos, diminuir a letalidade dessa pandemia, que tanto nos tem causado mal”, prossegue o imunologista.
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