Bolsonaro faz quinta visita ao Ceará em nova rodada de eventos por obras hídricas no Nordeste
Presidente faz nova investida na região em busca do eleitoral historicamente mais alinhado ao ex-presidente Lula e ao ex-ministro Ciro Gomes
O presidente Jair Bolsonaro (PL) desembarca, nesta manhã, pela quinta vez no Ceará desde que tomou posse. Novamente, ele volta ao Estado para cumprir agenda em ações de infraestrutura hídrica. Nesta terça-feira (8), o chefe do Executivo nacional estará no município de Jati, no Cariri, para a retomada da liberação das águas da Transposição do São Francisco para o Cinturão das Águas.
Bolsonaro fará o percurso entre as cidades de Salgueiro, em Pernambuco, e Jati, no Ceará, por volta das 12 horas, seguindo a rota das águas do São Francisco. É a terceira vez, desde que tomou posse como presidente, em 2019, que ele visita a região do Cariri.
Além de Pernambuco e Ceará, Bolsonaro tem viagem prevista para o Rio Grande do Norte, para a chegada das águas do São Francisco no Estado. Ele deverá estar acompanhado do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, que é potiguar e cotado como possível candidato ao Senado pelo RN em 2022.
Para o cientista político Juliano Domingues, professor universitário na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), tanto a presença constante do presidente quanto o teor das agendas indicam o interesse eleitoral das visitas ao Ceará.
“Inauguração de obras é um clássico na busca de capturar uma agenda positiva, sobretudo em ano eleitoral, porque atrai não somente a atenção da mídia, mas também de lideranças locais que buscam associar sua imagem ao benefício da obra. O palanque de inaugurações tende a ser disputado em função disso. No caso de obras de infraestrutura em localidades marcadas por desigualdades estruturais, essa pauta ganha ainda mais relevância”, aponta.
O cientista político e professor da Unilab, na Bahia, Cláudio André de Souza, acrescenta que Bolsonaro tem, neste ano, o desafio de inflar seu eleitorado para conseguir superar o ex-presidente Lula. “O Nordeste tem 26,8% dos eleitores, então ele precisa pensar estratégias para ocupar esse espaço na região”, afirma.
“Lula é muito mais forte no Nordeste e as pesquisas indicam que ele vem dominando de forma estável o eleitorado, ou seja, ele tem muito eleitor e, com mobilização eleitoral, isso deve crescer”, conclui o professor.
Gafe
Desta vez, Bolsonaro vive um momento de desgaste com a região do Cariri. Na semana passada, durante transmissão ao vivo nas redes sociais, ele confundiu a cidade de Juazeiro do Norte, no Ceará, com algum município pernambucano. “Falaram que eu revoguei o luto de Padre Cícero. Lá do Pernambuco, é isso mesmo? Que cidade que fica lá?”, perguntou.
“Cheio de pau de arara aqui e não sabem em que cidade fica Padre Cícero?”, acrescentou o presidente usando um termo pejorativo para se referir aos nordestinos. Ao ser informado de que a estátua fica em Juazeiro do Norte, ele concluiu. “Parabéns aí. Ceará, desculpa aí, Ceará”, disse.
A quinta visita de Bolsonaro ao Ceará ocorre simultaneamente à passagem de seu antigo aliado, Sergio Moro, pelo Estado. O ex-ministro e ex-juiz chegou ao Ceará no último sábado (5) e tem agenda prevista até terça-feira (8) como parte de sua pré-campanha à Presidência da República. Moro, inclusive, esteve no último domingo no Cariri, na cidade de Juazeiro do Norte, e criticou o presidente.
“A palavra é decepcionado, desapontado, mas arrependido, não. Era um presidente que dizia ser contra a corrupção, que faria reformas, faria outras alianças, mas não fez nada disso. O Brasil está estagnado, há pessoas sofrendo, passando fome, além dele ter desmantelado o combate à corrupção”, disse.
Queda de braço
Esta será a primeira viagem de Bolsonaro ao Estado como integrante do PL, partido que reúne, no Ceará, apoiadores de primeira ordem do presidente, como os deputados estaduais André Fernandes e Dra. Silvana, além do deputado federal Dr. Jaziel. A sigla, no entanto, é comandada pelo prefeito do Eusébio, Acilon Gonçalves, aliado do governador Camilo Santana (PT) e dos irmãos Ciro e Cid Gomes (PDT).
Desde a filiação do presidente da República, Acilon é pressionado a deixar o partido – ou pelo menos o cargo. Ao mesmo tempo em que o prefeito garante que se mantém no comando da legenda, os aliados de Bolsonaro tentam formar maioria na sigla para chegar à presidência do diretório estadual. Recentemente, filiaram-se ao PL Coronel Aginaldo, marido da deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PSL), e Mayra Pinheiro, secretária no Ministério da Saúde.
O prefeito tem feito movimentos de aproximação com Bolsonaro. Nesta terça-feira, inclusive, ele estará em Jati recepcionando o presidente.
De olho nos nordestinos
Em suas mais de 50 viagens ao Nordeste desde que tomou posse, Bolsonaro tem feito acenos para atrair o eleitorado da região, historicamente mais alinhado ao ex-presidente Lula. No caso do Ceará, o atual mandatário tenta reverter ainda a polarização entre o petista e o ex-ministro Ciro Gomes. Para isso, o presidente aposta no nome de Capitão Wagner (Pros) na corrida pelo Governo do Ceará.
“O sistema eleitoral brasileiro, baseado em distritos de ampla magnitude, incentiva que candidatos percorram um vasto território em busca de votos, principalmente em locais em que não são favoritos. Esse movimento de Bolsonaro parece ser reflexo disso. Ao visitar esses locais, ele se reúne com lideranças, fecha acordos, captura a agenda, consegue maior visibilidade midiática positiva e, assim, alimenta a expectativa disso resultar em benefícios eleitorais”, aponta o cientista político Juliano Domingues.
Para Cláudio André, há ainda o “fator Centrão”. “Ele tem feito esforços para agradar o Centrão, que é muito forte no Nordeste, então ele quer fidelizar essas bases ao mesmo tempo em que também precisa aparecer e negociar palanques, e nada melhor para isso do que ele se movimentar nos estados, o que inclusive deve se intensificar nos próximos meses”, aponta.
A última vez que Bolsonaro esteve no Ceará foi em outubro do ano passado, quando visitou a cidade de Russas para cumprir agenda de pautas com projetos voltados ao abastecimento hídrico, saneamento básico, recuperação de nascentes e outras ações de infraestrutura hídrica na região.
À época, ele visitou diversos estados nordestinos ao longo de dez dias. Em Russas, o presidente fez questão de destacar que um terço dos seus ministros são nordestinos. “Um terço é nordestino, outro é militar e outro é variado. Todos eles estão irmanados no mesmo objetivo”, disse.
Ele também aproveitou a visita à região para atacar o ex-presidente Lula. “Grande parte dessas obras começaram nos governos anteriores, que deixaram uma marca de descaso e corrupção. São obras que não foram concluídas e estamos entregando para vocês”, disse.
Visitas ao Cariri
Anteriormente, em 13 de agosto de 2021, o presidente esteve em Juazeiro do Norte para entregar moradias do Programa Casa Verde e Amarela. Na visita, ele enfatizou a realização de obras hídricas no Nordeste para garantir água, como a conclusão da Transposição do Rio São Francisco.
Bolsonaro também voltou bater na tecla de que a família de sua esposa é do Ceará e, no fim do discurso, fez a famosa vaia cearense para uma plateia de apoiadores.
Também no ano passado, em 26 de fevereiro, ele visitou a duplicação da BR-222 e o Anel Viário de Fortaleza, em Caucaia, na Região Metropolitana. Na mesma agenda, Bolsonaro participou de cerimônia, em Tianguá, para assinatura de três ordens de serviços para obras em rodovias federais em território cearense.
Essa viagem ocorreu no auge da pandemia da Covid-19 e causou polêmica. Ele criticou as medidas mais duras adotadas por governadores e prefeitos para frear o avanço da Covid-19 no Brasil. O chefe do executivo nacional não usou máscara em nenhum momento e ainda promoveu aglomeração. Em resposta, o Ministério Público Federal (MPF) pediu ao procurador-geral da República, Augusto Aras, que investigasse o presidente por prática de crime contra a saúde pública.
Transposição
Ainda em junho de 2020, na primeira visita oficial ao Ceará como presidente, o chefe do Palácio do Planalto esteve em Penaforte, onde acompanhou a chegada das águas da transposição do Rio São Francisco após 12 anos de espera.
A ideia do Projeto de Integração do Rio São Francisco (Pisf) como forma de solucionar a escassez hídrica causada pela seca acompanha governos desde, pelo menos, o Segundo Império – ainda no século XIX.
Oficialmente, no entanto, a obra foi iniciada no governo do PT, em 2007, e que também passou por um governo do MDB. Contudo, foi na gestão do presidente Jair Bolsonaro que o trecho que conduz os recursos hídricos ao território cearense finalmente foi inaugurado.
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