Brasil

Aumento do salário mínimo não repõe perda na renda do trabalhador

Governo Federal estabeleceu o valor de R$ 1,2 mil para o piso nacional em 2022, aumento de 10,04% com relação ao de 2021

O salário mínimo para este ano ficou em R$ 1.212, conforme estabelecido pela Medida Provisória nº 1.091/2021, um aumento real de 0,02%. Apesar de, em termos brutos, a variação ter sido de R$ 112 a mais que o valor praticado em 2021, o piso nacional não impacta de forma eficaz contra a alta da inflação.  

O supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Reginaldo Aguiar, pontua que a variação da cesta básica, por exemplo, no acumulado de 2020 e 2021 foi de 33,54%, enquanto o aumento acumulado do salário mínimo para o mesmo período ficou em 16,65%.

“Em 2020, os preços dos alimentos dispararam e, em 2021, ainda cresceu mais de 8%, em contrapartida, o salário mínimo cresceu cerca de 10%. Os custos com alimentação foram a um patamar extremamente elevado, o que prova que, dentro dessa pandemia, o poder dos salários mínimos caiu bruscamente”, explica o supervisor. 

Considerando o valor da cesta básica mais cara do País – no caso, a de São Paulo, cujo preço dos 12 itens na capital ficou em R$ 690,51 para uma família composta por dois adultos e duas crianças em dezembro de 2021 -, o salário mínimo deveria ser R$ 5.800,98, de acordo com o Dieese. 

Já na Capital cearense, o conjunto de alimentos foi encontrado por R$ 579,06 no último mês de 2021, a mais cara da região Nordeste. Quando comparado o período de dezembro de 2021 e dezembro de 2020, a cesta subiu 8,24%.  

Salários mínimos da última década

‘Não muda muita coisa’ 

A promotora de vendas Doriane Loiola, de 42 anos, é uma entre os milhares de trabalhadores que têm apenas um salário mínimo como renda.  Para ela, o aumento do piso nacional não deve mudar muita coisa.

“É um aumento muito pequeno, porque toda semana os valores estão maiores nos supermercados, nas contas básicas, então um aumento desse diante da situação que estamos vivendo não vai mudar muita coisa. Desde quando começou a pandemia, tem sido muito crítico”.   Doriane Loiola promotora de vendas

Apesar de conseguir pagar as contas com o montante, ela explica que o orçamento precisa ser bem controlado para não adquirir dívidas. “Eu sou muito controlada, algo pessoal acaba sempre ficando pra depois, a prioridade é o básico, aluguel, supermercados”. 

O salário mínimo é, inclusive, um direito previsto na Constituição de 1988 e que deve ser “capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim”. 

Política de renda 

O professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e PHD em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, Lauro Chaves, explica que a política econômica é composta pela monetária, fiscal, cambial e a política de rendas, as quais precisam trabalhar em conjunto para melhorar a qualidade de vida da população.  

“A não existência de ganho real no reajuste do salário mínimo, ao nosso ver, é um erro da política econômica. Temos um país muito desigual e precisamos ter um ganho real progressivo a cada ano para que nós possamos resgatar um pouco da justiça social e, por outro lado, na hora que você reduzir a desigualdade, você aumenta o mercado interno, aumenta a venda das empresas”.  Lauro Chaves professor da Uece

Chaves pontua ainda que, quando o salário mínimo é reduzido apenas à reposição da inflação, há perda da oportunidade de gerar uma movimentação maior da economia, gerando uma defasagem de tempo ainda maior para recuperação. 

“Tivemos uma queda vertiginosa do PIB após pandemia, com a recuperação que esse ano será bastante aceitável em torno de 4,5% em 2021 e que, em 2022, está sendo esperado um cenário muito adverso para administrar a inflação, ou seja, inflação alta e crescimento muito baixo”, diz. 

Legenda: Trabalhador não deve ter renda impactada, mesmo com o aumento
Foto: Natinho Rodrigues

Horizontes de 2022 

As perspectivas para este ano, por isso, não são otimistas. O supervisor técnico do Dieese ressalta que os determinantes para 2022 não favorecem que haja uma queda de preços, como a desvalorização do real frente ao dólar, a pressão externa por exportação de produtos agrícolas, além das eleições. 

“Não tem nenhuma previsão de que vai aumentar a oferta interna. O preço das commodities também não mostra queda. Se as coisas voltarem a fechar por conta da pandemia, provavelmente as coisas piorem ao longo do ano”.   Reginaldo Aguiar supervisor técnico do Dieese

Devido a esses fatores, Aguiar aponta que se torna difícil fazer alguma projeção de preço, mas que, com a previsão de uma inflação menor para 2022, a expectativa é de que os alimentos subam entre 6 a 8%.  

“Deveríamos ter garantido alguma espécie de ganho real para poder amenizar a pobreza. É urgente que se pense algo nesse sentido pra amenizar os impactos nas principais despesas que é de alimentação. Mantendo do jeito que está, salário mínimo crescendo pouco e a alimentação muito, vai impactar demais a economia”, conclui.  

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Marcio Sousa

Editor chefe, Radialista profissional e Diretor de Programação da Taperuaba 98,7 FM

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