Após vacinação contra Covid, profissionais da saúde relatam segurança e felicidade entre incertezas
Com a imunização ocorrendo desde o dia 18 deste mês, já foram vacinados 58.503 trabalhadores de saúde no Ceará, sendo 26.556 de Fortaleza, conforme levantamento da Sesa, até a última quarta-feira (27)
A espera pela vacina foi longa. Muitos plantões varando a noite, atendimento de pacientes com Covid-19 e exames realizados. No caso dos profissionais da saúde ativos em unidades hospitalares, o esforço diário de tentar combater o invisível inimigo deixava marcas impressas na pele, pelo uso continuado de máscaras e outros equipamentos de proteção.Também na alma, esses efeitos eram sentidos por quem vive a difícil realidade de acompanhar os óbitos, apesar de todos os esforços em salvar as vidas. Após 10 meses de incertezas, a imunização contra a Covid-19 surgiu carregando felicidade e diminuindo o medo.
“Quando tomei a minha vacina, eu quis guardar o frasco de lembrança do momento. Quis guardar para me lembrar”, compartilha a técnica de enfermagem Solange Teixeira da Silva, 49 anos. Atuando na maternidade do Hospital Municipal Dr. Argeu Gurgel Braga Hersbster, em Maranguape, ela recebeu a imunização no próprio local de trabalho na última segunda-feira (25). Para ela, o momento marcou uma das experiências mais importantes de sua vida, principalmente ao lembrar de todos os pacientes e colegas que vieram a óbito devido ao novo coronavírus.
Ao todo, o Ceará já registrou 19.424 profissionais de saúde contaminados pela Covid-19 e 40 óbitos, segundo a plataforma IntegraSUS da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa). Desse grupo, as mortes se concentraram principalmente entre os médicos, com 11 ocorrências, seguido por técnicos ou auxiliares de enfermagem, com 9 casos. Já em relação às positivações do novo coronavírus, esse último grupo lidera as ocorrências, com 4.452 casos, seguidos de enfermeiros, com 2.221 registros.
Por atuarem nessa linha de frente, estando mais suscetíveis aos riscos de contaminação da doença, os profissionais da saúde ativos estão entre o grupo prioritário de vacinação no Estado, iniciada no dia 18 deste mês. De acordo com a Sesa, até as 15h32 de ontem, foram vacinados 58.503 trabalhadores de saúde no Ceará, sendo 26.556 imunizados de Fortaleza.
“Era muito difícil quando você não tinha esperança nenhuma, quando tinha que transferir pacientes para outros centros, vendo todo dia pacientes e amigos morrendo”, relembra Solange, que não chegou a apresentar um diagnóstico para a doença, “felizmente”, relata.
Por isso, receber a vacina pareceu trazer o vislumbre de tempos melhores, assim como o desejo da imunização ser efetivada na maior parte da população. Sem ter sentido qualquer efeito, Solange agora aguarda ansiosa pelo dia 23 de fevereiro, quando receberá a segunda dose.
Esperança
Já o médico atuante na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), Guilherme Torres, 34 anos, recebeu a vacina CoronaVac no dia 21 de janeiro, no próprio local de trabalho. Ele afirma ter sido difícil se deparar com o aumento no número de mortos. “Na minha UTI, a gente conseguiu reverter a maioria dos casos, mas era muito difícil, até porque, dos que morriam, tinham alguns pacientes jovens. Toda morte era difícil”, diz o profissional.
Durante essa trajetória, muito esforço foi dedicado para salvar as vidas de pacientes com o novo coronavírus e evitar a contaminação tanto de si mesmo, quanto de conhecidos ou membros de sua família. “Era extremamente estressante e um cuidado bem rígido. Eu fiz uma área em casa para poder chegar e não misturar as coisas do hospital”, diz.
Então, o recebimento da vacina marcou uma nova fase nessa luta. “Eu me senti muito bem, é sinal de esperança, uma chance de tentar voltar para a vida normal”, aponta. No entanto, mesmo com a imunização, Guilherme aponta que manterá os cuidados no uso de máscara, na higienização ao adentrar em casa e no respeito de todos os outros procedimentos preventivos da Covid-19. “Temos que esperar mais um tempo, não podemos relaxar os cuidados agora. É uma esperança, mas para médio e longo prazo. Não funciona para eu ficar protegido hoje”, finaliza.
Proteção
No caso do psicólogo residente, atuante no Centros de Atenção Psicossocial de Álcool e outras Drogas (CAPS AD), Pedro Capaverde, 24 anos, a vacinação ocorreu na segunda-feira (25) no Centro de Eventos do Ceará. Trabalhando em um ambiente com fluxo constante de pacientes, com eventuais ocorrências de desrespeito às normas de proteção, aguardou com ansiedade a liberação do agendamento.
“Todo mundo estava acampando na frente do computador. Quando abriu às 18h e consegui entrar, marquei para segunda-feira (25) às 19h”, detalha. Durante a noite de domingo para o dia da imunização, Pedro comenta que quase não conseguiu dormir devido à ansiedade. “A gente vivia muito naquela coisa de quando chegar a vacina, a partir do momento que toma a primeira dose temos a sensação de agora sabermos quando vai acabar. Foi maravilhosa a sensação de finalmente ser livre da doença”, diz. Porém, as precauções continuarão sendo mantidas na vida privada e em seu cotidiano de trabalho. “Os cuidados seguem do mesmo jeito, porque a pandemia continua”, conclui.
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