Alta de alimentos pode puxar preços de outros segmentos em 2021
Possibilidade de elevação dos chamados preços relativos é apontada por especialista a partir do aumento das previsões para a inflação do próximo ano. Avanço do preços dos alimentos ainda reduz poder de compra
A prévia da inflação divulgada ontem (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indica mais um avanço de preços do setor de alimentação e bebidas, grupo que puxou o índice a 0,66% neste mês em Fortaleza e a 0,81% no Brasil. Já é o quarto mês consecutivo de altas expressivas, tendência que já preocupa para uma possível elevação geral de preços em 2021.
A possibilidade é apontada pelo supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Reginaldo Aguiar. Ele explica que, se um segmento sobe demais os valores de comercialização, os preços relativos tendem a se elevar também.
“No ano, nós já temos uma inflação acumulada de 14,9% em alimentos aqui em Fortaleza. É mais que o triplo da inflação geral de 4,49%”, aponta.
Aguiar lembra que o fenômeno já aconteceu em 2007, fator que antecedeu a crise do mercado financeiro em 2008. “Assim como hoje, nós observamos na época que alguns alimentos, principalmente aqueles que possuem cotação em dólar, subiram muito de preço, assim como as commodities. Como existe uma certa paridade de preços na economia, quem produz outros produtos ou serviços começam a subir os preços a reboque da alimentação”, detalha.
O Boletim Focus desta semana, relatório divulgado semanalmente pelo Banco Central (BC) com as expectativas do mercado, já aponta uma inflação de 3,40% em 2021. Na semana passada, a previsão era que o índice ficasse em 3,22%.
Poder de compra
O supervisor técnico do Dieese ainda revela que a alta dos alimentos reduz o poder de compra das famílias, comprometendo o desenvolvimento do restante da economia. Aguiar esclarece que, por ser o grupo de despesa mais importante para a sobrevivência, ele acaba consumindo cada vez mais o orçamento, de forma que não sobra para as outras atividades.
“Isso acaba sendo ruim para a economia como um todo, porque reduz o consumo dos setores fora o de alimentação. Os recursos das medidas emergenciais repassadas às famílias durante a pandemia têm se concentrado principalmente em alimentos e bebidas”.
Causas
O economista Alex Araújo aponta que, para o resultado da prévia da inflação em novembro, ainda há o efeito da pandemia, que aumentou o consumo interno e prejudicou as cadeias produtivas. “Com a elevação do câmbio, ainda temos o impacto sobre as exportações de carne, leite, suínos. Do outro lado, temos o impacto do dólar em importados, como nos importados de trigo. Então, há uma expectativa muito grande para saber quanto tempo esse impacto ainda deve durar”, aponta.
Araújo lembra que, além da alimentação, as despesas com preços administrados, como tarifas de ônibus, água e energia elétrica, devem ser reajustadas no próximo ano.
“Há uma preocupação no Governo Federal com a política monetária. Há chances de termos um aumento dos juros, mas a preocupação é a partir de janeiro, quando tivermos ou não a continuidade do auxílio emergencial”.
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