Ceará

Percorrendo 300 km, águas da Transposição chegam ao Castanhão em até 20 dias; entenda operação

Nas próximas semanas, envio para Fortaleza deve ser discutido com gestores de bacias hidrográficas

Por volta das 15h desta sexta-feira (16), foi iniciada a operação de bombeamento da água do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF), em Jati, em direção ao Castanhão, maior e mais importante açude do Ceará. A medida, autorizada pelo Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR), fará com que as águas percorram um trajeto de mais de 300 km, que deve demorar entre 15 e 20 dias para ser concluído.

A água da Transposição será liberada na vazão de 6,5 metros cúbicos (m³) por segundo, do município de Jati — cuja barragem possui capacidade de acumular até 28 milhões de m³ — em direção ao Castanhão, conforme anúncio do governador Elmano de Freitas. Atualmente, o reservatório acumula 22,7% de sua capacidade total, conforme o Portal Hidrológico da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).

A novidade se integra a um quebra-cabeça complexo para garantir o abastecimento da população. Em janeiro, diante da maior probabilidade de chuvas abaixo da média nesta quadra chuvosa, a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) autorizou o envio de águas do Castanhão para a Grande Fortaleza, situação que não ocorria desde 2019. Assim, a expectativa é que Fortaleza e cidades da Região Metropolitana recebam águas do São Francisco nas torneiras nos próximos meses.

Para entender o cenário, o Diário do Nordeste conversou com Tércio Tavares, diretor de Operações da Cogerh. Segundo ele, os 6,5 m³/s permitidos fazem parte de uma negociação com o Ministério, já que o Eixo Norte da Transposição também atende aos Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba — cada qual com suas demandas particulares.

Tavares explica que, anualmente, os estados enviam ao Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional a “encomenda” da quantidade de água que necessitam, conforme suas respectivas realidades. Determinada vazão, então, é aprovada pelo Ministério para todo o Eixo Norte. Para 2024, foram disponibilizados 10 m³ por segundo, dos quais o Ceará tem direito a mais da metade.

Ele ainda acrescenta que a chegada das águas do São Francisco era esperada para janeiro deste ano. Por “questões operacionais”, porém, ela não veio. Começou, então, uma série de negociações para a água ser liberada no “mais curto espaço de tempo”.

Até então, o Ceará não recebia “nada representativo”, apenas o suficiente “para ver a funcionalidade dos canais”, explica. “Agora sim é valendo. Agora, essa quantidade, nós queremos que chegue até o Castanhão.”

QUQNADO AS ÁGUAS CHEGAM A FORTALEZA?

No entanto, ainda não se sabe quando as águas vêm para a Capital. Essa definição só deve ocorrer no próximo dia 21 de fevereiro, quando os comitês das bacias hidrográficas se reunirão em Quixadá para discutir o destino da água.

Atualmente, a Grande Fortaleza permanece atendida pelo sistema integrado dos açudes Pacoti, Pacajus, Riachão e Gavião. Conforme Tércio Tavares, a altura do volume acumulado neles tem caído paulatinamente. “Precisamos reabastecer esse sistema”, ressalta.

Já o Castanhão abastece apenas os perímetros irrigados de suas redondezas, seguindo acordo firmado em 2023. “Tudo que foi combinado no ano passado, nós cumprimos fielmente. Mas, para chegar em Fortaleza, precisamos dessa autorização, porque no ano passado não foi deliberada a vinda para Fortaleza”, explica o diretor.

“Em situações normais, o que nós precisamos aqui para Fortaleza é por volta de 10 metros cúbicos. Entretanto, hoje, em virtude de termos água no sistema (metropolitano), nós não importamos essa água. Só que precisamos manter esses 10 metros cúbicos. Então, o que podemos hoje tirar do Castanhão, de forma segura, são esses 6,5, e vamos continuar aguardando as chuvas chegarem aqui. Se for necessário, a gente aciona o comitê para puxar mais água, mas, no momento, ainda não é necessário”, esclarece Tavares.

ENTENDA O PERCURSO

Tércio Tavares explica que o portal de entrada das águas do São Francisco no Ceará é na barragem de Jati, localizada na cidade de mesmo nome, no Cariri cearense. Até chegar ao Castanhão, elas percorrem um caminho de 325 km de extensão.

De Jati, as águas do PISF percorrem 52 km do Cinturão das Águas (CAC), por meio de tubulações e canais, até chegarem ao município de Missão Velha. Nesse ponto, elas deixam a estrutura do CAC, entram na calha do rio Riacho Seco e seguem pelos rios Salgado e Jaguaribe.

Após Missão Velha, as águas do PISF ainda passam por Aurora, Lavras da Mangabeira, Icó e Jaguaribe, onde chegam ao Castanhão.

“Como é calha de rio, ele pode sofrer momentos de velocidade maior e menor, a depender da saturação do solo. O solo mais seco vai servir como uma esponja e sugar essa água até que ele sature e deixe ela correr. Graças a Deus, em virtude de no momento agora ter caído boas chuvas, a tendência é que esse percurso seja mais rápido. A nossa perspectiva é que ele chegue no Castanhão entre 15 e 20 dias”, confirma Tércio.

Do Castanhão, seguem via Eixão das Águas até a Região Metropolitana de Fortaleza.

Segundo Elmano, avaliações técnicas constantes devem ser realizadas para o controle eficiente da liberação de água, a partir dos níveis de chuva, priorizando o máximo de recarga do Castanhão com o mínimo de desperdício de água ao longo do trajeto.

O Projeto de Integração do Rio São Francisco possui 477 km e é considerado o maior empreendimento hídrico do Brasil. No Ceará, as águas chegaram em junho de 2020, na barragem de Jati.

SITUAÇÃO DOS AÇUDES

Neste primeiro mês da quadra chuvosa no Ceará, o balanço parcial do volume acumulado nas regiões hidrográficas indica cenário que “inspira atenção”, segundo a Cogerh. Dos 157 reservatórios monitorados, o volume atinge 6,81 bilhões de metros cúbicos, representando 36,8% da capacidade total do Estado.

Embora essa cifra indique uma melhora em relação a esta mesma data no ano anterior, quando o acumulado era de 30%, há discrepâncias regionais. Nas bacias do Médio Jaguaribe e Sertão dos Inhamuns, os acumulados estão em cerca de 20%. Já nas do Litoral, Acaraú, Coreaú e Serra da Ibiapaba ultrapassam os 60%, evidenciando a irregularidade do regime chuvoso no Ceará.

A Bacia do Banabuiú, no Sertão Central, teve uma recuperação parcial após a quadra chuvosa de 2023, elevando o volume para os atuais 33%. Além disso, importantes açudes como Pacoti, Pacajus, Riachão, Gavião e Aracoiaba, responsáveis por abastecer a Região Metropolitana de Fortaleza, mantêm 52% da capacidade total de armazenamento.

Atualmente, 49 açudes têm menos de 30% de água. Destes, 15 estão com menos de 5%, e seis já estão praticamente secos.

Com base nesses dados, a Cogerh e outros gestores dos Recursos Hídricos do Ceará se reúnem para definir a operação emergencial, ou seja, as vazões de liberação dos sistemas integrados e açudes isolados para o primeiro semestre. Após a quadra chuvosa, há uma nova rodada chamada de Alocação Negociada, na qual são definidos os parâmetros de operação para o segundo semestre.

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Marcio Sousa

Editor chefe, Radialista profissional e Diretor de Programação da Taperuaba 98,7 FM

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