Delegada que se envolveu em acidente entre três carros em Aquiraz é indiciada por lesão corporal
Investigação comprovou que a profissional de segurança pública estava sob efeito de álcool e que dirigiu de forma imprudente, causando o acidente e diversas lesões nas vítimas
A delegada da Polícia Civil do Ceará (PCCE) Cláudia Régia Amazonas Hiwatashi, que provocou um acidente entre três carros em Aquiraz, na Grande Fortaleza, foi indiciada nessa segunda-feira (5) por lesão corporal culposa na direção. A investigação foi feita pela Delegacia de Assuntos Internos (DAI) e concluiu que a mulher dirigiu sob influência de bebida alcoólica.
O acidente ocorreu no dia 27 de maio de 2023 na CE-452 e deixou quatro pessoas feridas com várias lesões. Segundo testemunhas, a delegada dirigia em “zigue-zague” e chegou a invadir a pista contrária, fato confirmado durante a investigação, conforme a DAI. Garrafas de whiskey foram achadas no carro da delegada.
Cláudia conduzia um Ford Ranger, ao lado de sua companheira, e colidiu contra outros dois automóveis: um Honda Accord, com dois ocupantes, e um Fiat Uno, com quatro, entre eles uma grávida.
De acordo com o relatório de indiciamento da DAI, obtido pelo Sistema Verdes Mares, “é incontestável que a investigada foi a responsável pela colisão. Assim, verifica-se, no caso em questão, a incidência do crime de lesão corporal no trânsito, qualificada pela embriaguez e pelas lesões de natureza grave ou gravíssima”.
Durante a investigação, Cláudia Régia negou ter consumido bebidas alcoólicas no dia do acidente. Sobre a direção em zigue-zague, constatada por câmeras de segurança e por testemunhas que fizeram vídeos, ela disse que foi por conta de uma condição chamada “retinopatia diabética”, que provoca visão turva. Segundo ela, a doença só foi descoberta após o acidente. Ela, inclusive, se recusou a fazer o teste do bafômetro.
Os advogados de defesa da delegada, Leandro Vasques e Gabriellen Melo, informaram que discordam absolutamente da conclusão do inquérito policial e reafirmou que Cláudia Régia não estava sob efeito de álcool no momento do acidente.
A Delegada não fez ingestão de bebida alcóolica, inclusive uma das testemunhas, que é técnico do Samu e esteve presente na ocorrência, afirmou que não verificou que nem hálito nem torpor com relação à delegada. O sinistro se verificou, na verdade, em razão de um caso imprevisível, que se deu em razão de uma retinopatia diabética”.
LEANDRO VASQUES E GABRIELLEN MELO
Advogados de defesa
[Atualização: 07/02/2024, às 9h01] A defesa também sustenta que “a delegada em nenhum momento se recusou a realizar o teste do bafômetro, na realidade ele sequer chegou a ser solicitado, como confirmam os depoimentos dos técnicos do SAMU, os quais revelam que ao tempo em que prestavam atendimento ninguém da composição da PM se aproximou para realizar o pretendido teste, versão ratificada por outra autoridade policial, responsável pelo plantão que recebeu a ocorrência, e que asseverou que a PM foi se atentar de realizar o teste somente depois, mas a delegada já não estava mais no local”.
“Tanto é que, já no IJF, o horário de recusa colocado no exame de alcoolemia foi de 23h30, quando a delegada comprovadamente já não estava mais no IJF, conforme provas constantes do inquérito”, complementa.
Após a publicação da matéria, a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) enviou nota em que “informa que o inquérito policial, que apura os fatos envolvendo a delegada Cláudia Régia Amazonas, foi finalizado e encaminhado à Justiça para as providências cabíveis. A servidora foi indiciada por lesão corporal culposa na direção de veículo automotor (art. 303, § 2º, do Código de Trânsito Brasileiro). Além disso, a Controladoria também determinou a instauração de processo disciplinar para devida apuração do fato na seara administrativa, estando este, atualmente, em trâmite”.
TESTEMUNHAS
As testemunhas declararam que a delegada conduzia a direção irregularmente. Para evitar uma colisão frontal, o motorista do Honda Accord teve de jogar o veículo em direção a um matagal próximo, mas acabou sendo atingido na lateral.
Os ocupantes do terceiro automóvel, que transportava uma mulher grávida, acabaram tendo diversas lesões, inclusive uma fratura, devido ao impacto com o Ford Ranger.
“Foi muito rápido, em questão de segundos. Quando vi, o farol do carro [da delegada] estava em cima da gente e já tinha acontecido. Foi só a pancada. A gente não viu, não teve nem como ter outra reação de tirar o carro ou desviar”, relatou um dos passageiros à TV Verdes Mares à época do caso.
DELEGADA PULOU CATACRA DO IJF
A delegada Cláudia Régia foi flagrada pulando a catraca do Instituto José Frota (IJF) após o acidente. A cena foi gravada quando a mulher tentava sair da unidade no dia do acidente.
À época do crime, o então advogado de defesa da profissional da segurança pública, Leandro Vasques, informou que ela havia assinado uma “alta a pedido” para ir a um hospital particular, pois “estava em um ambiente insatisfatório no IJF, ademais sua companheira estava em condições sensíveis”.
A defesa disse ainda que a delegada teve um “princípio de infarto ainda quando do deslocamento da ambulância do Samu antes de chegar àquela unidade”.
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