Advogada e mãe mortas em Morrinhos: PMs são denunciados e defesa pede nulidade de prova
No celular do sargento, tinha um vídeo da casa da advogada. O policial nega ter permitido o acesso ao conteúdo do aparelho
Os dois policiais militares presos pelas mortes da advogada e esposa de um oficial da Polícia Militar do Ceará (PMCE) Rafaela Vasconcelos de Maria, de 34 anos, e da mãe dela, Maria Socorro dos Vasconcelos, em Morrinhos, foram formalmente denunciados pelo Ministério Público do Ceará (MPCE).
A defesa do sargento Francisco Amaury da Silva Araújo e do soldado Daniel Medeiros de Siqueira confirmou que há a acusação, mas disse que os PMs ainda não foram citados. Ainda segundo os advogados de defesa, Marcus André Viana Cavalcante, Francisco Rômulo Araújo de Souza Filho e Tatiane Magalhães, tramita no Judiciário um habeas corpus pedindo a nulidade das provas colhidas a partir do celular do sargento.
De acordo com a defesa, não houve autorização por parte de Francisco Amaury para que os policiais que realizaram o flagrante mexessem no aparelho do suspeito e extraíssem informações confidenciais: “entramos com um mandado de segurança e vamos apresentar resposta à acusação dentro do prazo legal”, disse o advogado Marcus André.
ANDAMENTO DO CASO
Prestes a completar 20 dias das mortes de Rafaela e Maria Socorro, a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) afirma que as investigações do caso permanecem em andamento por meio da Delegacia de Assuntos Internos (DAI).
A CGD não descarta a chance de identificar outros envolvidos no duplo homicídio ocorrido em Morrinhos, em 24 de março de 2023.
“Nessas novas diligências, a placa da moto usada no crime foi encontrada no mesmo local onde dois policiais militares foram presos. O inquérito policial está em segredo de justiça. Ressalta-se, ainda, que a Controladoria apura os fatos na seara disciplinar. Inclusive, determinou o afastamento preventivo dos policiais militares envolvidos na ocorrência”, conforme a Controladoria.
O QUE TINHA NO CELULAR DO SUSPEITO
No celular do sargento tinha um vídeo da casa da advogada. Policiais civis disseram que acessaram o aparelho celular de Francisco Amaury com autorização dele e encontraram imagens que apontam a participação do sargento e do soldado Daniel no duplo homicídio.
Em um dos vídeos, gravado no início de março deste ano, aparecem três homens dentro de um veículo, realizando um levantamento de endereço. Um dos ocupantes do automóvel fala para “parar atrás do carro dela”. Um policial que atua na região confirmou que a imagem é da residência onde a advogada Rafaela Vasconcelos morava com o marido, um tenente-coronel da PMCE.
Os investigadores também encontraram duas fotografias de uma motocicleta Honda CB300, de cor preta, feitas no dia 22 de março último, dois dias antes do crime. A motocicleta, para os policiais civis, é a mesma que foi apreendida em um matagal e que teria sido utilizada pelos executores das duas mulheres, na última sexta (24).
O sargento Amaury, que está afastado da Polícia Militar por Licença para Tratamento de Saúde (LTS) há mais de 2 anos, alegou, em depoimento, que teve o celular tomado por um policial e que em nenhum momento permitiu o acesso ao aparelho. O militar negou participação no duplo homicídio e garantiu que não esteve em Morrinhos antes de ser preso.
OUTRO PM FICOU NERVOSO
O outro policial militar preso, o soldado Siqueira, estava nervoso e chegou a se tremer, segundo os investigadores, que desconfiaram da versão que ele apresentou: que trafegava de Fortaleza para Acaraú, para ver uma mulher; e que tinha parado em um matagal para fazer necessidades fisiológicas, sendo que ele tinha passado há pouco tempo por um posto de combustíveis.
No seu interrogatório, Siqueira contou que também está de LTS, há menos de um mês, e manteve o que disse aos outros policiais, ao ser abordado. Ele não permitiu acesso ao seu celular e negou participação no crime ou que esteve em Morrinhos antes do dia 25.
A dupla foi presa em flagrante no dia 25 de março de 2023, no mesmo local em que uma motocicleta foi apreendida, no dia anterior, instantes após os assassinatos. A ação policial contou com a participação do Comando de Policiamento de Choque (CPChoque) e do Batalhão Especializado de Policiamento do Interior (Bepi), da PMCE; da Coordenadoria de Inteligência (Coin), da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS); e da Delegacia Municipal de Marco, da Polícia Civil do Ceará (PC-CE).
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