Qual recarga hídrica os açudes cearenses precisam para um 2022
Dois dos três maiores açudes cearenses estão com volume abaixo dos 10%.
A pré-estação chuvosa no Ceará teve início no último dia 1º com previsão de pluviometria dentro ou acima da média para o período, que se estende até janeiro. A princípio, os índices têm sido promissores.
Nos seis dias iniciais de dezembro, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) registrou o acumulado de 35,2 milímetros, volume superior à normal climatológica para todo o mês de dezembro, que é de 31,6 mm.
O bom volume das precipitações tanto na pré, quanto na estação chuvosa – que tem início em fevereiro e segue até o fim de maio – é preponderante para que os açudes cearenses garantam recarga hídrica satisfatória e possam ofertar abastecimento humano sem interrupções ao longo de 2022.
Atualmente, o volume médio dos 155 reservatórios monitorados pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) é de 21,4%. Índice, de um modo geral, satisfatório. No entanto, quando observado as principais bacias hidrográficas, onde estão localizados os maiores e mais importantes açudes do Estado, o cenário muda.
A bacia Banabuiú, onde abriga o açude de mesmo nome, está com 7,06% de volume. Já a bacia do Médio Jaguaribe, onde está o Castanhão, tem somente 8,84% da capacidade de armazenamento hídrico. Castanhão e Banabuiú, dois dos três maiores reservatórios do Estado, estão com volume abaixo dos 9%.
- Castanhão: 8,55%
- Banabuiú: 8,28%
Realidade um pouco melhor se encontra a bacia do Alto Jaguaribe (27,11%), onde está o açude Orós, segundo maior do Estado. Mas, o que esses índices significam? Há um número mágico para que determinado açude consiga manter o abastecimento humano mesmo que não ocorram chuvas e, consequentemente, recarga hídrica?
O titular da Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará (SRH), Francisco José Coelho Teixeira, explica que “qualquer volume [dos açudes] abaixo de 30% causa preocupação”. Para que se tenha “conforto”, um reservatório precisa ter mais de 40% de seu volume.
Esse conforto, a que se refere Teixeira, seria suficiente para abastecer determinada localidade por cerca de três anos, ainda que sem ocorrência significativa de chuvas.
“Tem quase dez anos que o Castanhão não se aproxima desse percentual”, ilustra o representante da SRH. Desta forma, com os três principais açudes cearenses abaixo desse índice “mágico”, Teixeira externa ser preciso o uso consciente da água além, claro, de contar com boas chuvas nos próximos meses.
E se não chover?
As previsões meteorológicas para a próxima quadra chuvosa só devem ser divulgadas no próximo ano. Contudo, diante da ocorrência da La Niña, fenômeno que causa resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial (0,5°C ou menos, abaixo da média), as precipitações podem ser boas.
“Temos uma condição de início de uma La Niña, e isso pode favorecer as chuvas tanto na pré-estação como na estação chuvosa”, explicou o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Flaviano Fernandes. No entanto, esta análise ainda pode ser modificada nos próximos meses. E se o cenário se alterar e não chover? Como fica o abastecimento humano no Ceará?
Apesar de reconhecer o baixo índice dos reservatórios, Francisco Teixeira, lembra que nos últimos anos “o Estado realizou investimentos na área dos recursos hídricos e, assim, estamos mais resilientes e menos dependentes exclusivamente da chuva”.
“Se fosse em outros tempos, essa seca prolongada que tivemos nos últimos anos seria muito mais grave e deixaria bem mais impactos. Hoje contamos com abastecimentos complementares, como o carro-pipa, e tempos importantes projetos, como o ‘Malha D’água’. Francisco Teixeira Secretário de Recursos Hídricos do Ceará
Transposição do Rio São Francisco
Outro fator tranquilizante é o Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional (Pisf). As águas do Velho Chico estão previstas para voltarem a ser transferidas ao Castanhão até fevereiro do próximo ano.
Esse prazo, conforme Teixeira, pode ser antecipado. “Vamos acompanhar o Rio Salgado. Tão logo ele pegue água, podemos iniciar a transferência antes mesmo de fevereiro“, acrescentou o secretário.
A intenção é de que o transporte seja realizado durante o período de estação chuvosa, pois as calhas dos rios estarão cheias e isso minimizará a perda de água durante o trajeto. “Sendo conduzida no período chuvoso, reduz significativamente as perdas por infiltração, evaporação e retirada indevida”, reforça o secretário Francisco Teixeira.
Com a chegada das águas ao Castanhão, Francisco José Coelho Teixeira explica que Fortaleza e outras cidades, sobretudo no Vale do Jaguaribe e Salgado, se beneficiam. “A água [do São Francisco] vindo para Fortaleza viabiliza que as águas dos reservatórios locais fiquem para suas regiões”, pontua.
“A Transposição ajudou a economizar um pouco de água do Castanhão. Isso ajudou muito na segurança hídrica“, conclui Teixeira.
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