Um pedestre morre a cada 48 horas no Ceará; veja as cidades com mais acidentes do tipo
Veículos de duas ou três rodas (192), carro ou caminhonete (171) e ônibus (57) são os que registram mais casos de colisões
Os deslocamentos a pé deixaram 972 pessoas no Ceará em situação de vulnerabilidade a ponto de a consequência dos acidentes no trânsito ser a morte entre janeiro de 2017 e outubro de 2021. Em média, uma vida foi perdida a cada 48 horas em 149, das 184, cidades cearenses.
Os dados são da plataforma IntegraSUS, gerido pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), com tabulação feita pelo Diário do Nordeste. Por falta de precisão no registro das informações, mais da metade dos acidentes (493) não tiveram a causa especificada.
Na sequência, aparecem os casos de colisão com um veículo a motor de duas ou três rodas (192) e colisão com carro, pick up ou caminhonete (171). Os sinistros envolvendo carros pesados ou ônibus levaram 57 pedestres à morte e outros 33 morreram em colisão com transportes não especificados.
Colisão com trem ou veículo ferroviário causaram a morte de 10 pessoas nesse período. Recorte de tempo em que 9 pessoas morreram por acidentes com veículos a motor, 4 em veículos a pedal e 3 com veículos de motor de duas ou três rodas.
Compreender as especificidades dos deslocamentos e dos municípios permite a elaboração de medidas para reduzir os índices, como aponta Mário Azevedo, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC).
“Tem vias de alta velocidade, com fluxo de veículos maior, principalmente, nas cidades maiores. São fatores que vão levando a maiores acidentes”.
Quem sai de casa a pé também fica mais desprotegido em casos de acidente, aumentando a chances de gravidade. Por isso, o pedestre também deve manter conduta adequada nos trajetos.
“Às vezes, pessoas assumem risco e acabam criando situação que, dependendo da velocidade, o motorista não consegue parar Mário Azevedo Professor de Engenharia de Transportes
Medidas como a redução do limite da velocidade e requalificação da infraestrutura são relevantes para cidades mais seguras para o pedestre. “A diminuição da velocidade ajuda nessa questão, porque torna mais difícil que aconteça um atropelamento. À noite a visibilidade em certas vias fica mais complicada, ter iluminação em campos de travessia cria pontos mais seguros”.
O impacto da pandemia na intensidade do trânsito, com o período prolongado com restrições para deslocamentos, também interfere no comportamento de quem sai na rua. “As pessoas ficaram mais tempo presas em casa e parecem que perderam o treino de sair na rua, não estão mais naquele ritmo e talvez estejam mais distraídas. Vale para pedestre e para o motorista”, frisa.
Como planejar uma cidade mais segura
Um passeio público bem estruturado e estratégias para adequação da velocidade são dois princípios para guiar o trânsito que privilegia o pedestre, como observa Dante Rosado, coordenador executivo da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária.
“Eu pontuo a ausência de infraestrutura para a circulação desses usuários, como calçadas, somada à questão da velocidade máxima das vias. Essa combinação coloca os pedestres como potenciais vítimas no nosso trânsito”, destaca.
50 km É a velocidade máxima recomendada por organismos internacionais para vias urbanas. Onde há interação entre pedestres e automóveis, o limite deve ser de 30 km.
Adequar os espaços urbanos ganha mais adesão com a implementação de mais faixas de pedestres, sinalizações verdes e ampliação da área circulação de pessoas nos últimos anos na Capital.
“Fortaleza vem nesse processo de mudar esse paradigma, mas há bastante o que avançar. Precisa investir em infraestrutura e promover velocidades moderadas. Há décadas nossas cidades foram desenhadas para priorizar o transporte motorizado”, pondera o especialista.
As ligações entre municípios também devem ganhar atenção especial pela necessidade de maior fluxo e rapidez dos automóveis. “As conexões entre as cidades da Região Metropolitana são feitas por rodovias e, normalmente, o pedestre sofre mais. São vias no contexto de promover o fluxo de veículos, ignorando o fluxo de pedestre”, ressalta.
Já o professor José Ademar Vasconcelos, também do Departamento de Engenharia de Trânsito da UFC, o planejamento urbano deve fluidez e segurança. “Tem que ter uma sinalização melhor e a velocidade também, mas tudo merece uma análise da conjuntura”.
“O segredo do trânsito é garantir fluidez com segurança. Se você acaba com a fluidez, vai ter segurança, mas acaba com o trânsito, que tem de viabilizar o deslocamento das pessoas José Ademar Vasconcelos Professor da Engenharia de Trânsito
O especialista aponta a relevância de coletar dados com intervalos de tempo maior para definir estratégias eficientes de mudança. “O trânsito é um movimento de pessoas, veículos, motos, bicicletas e até carroças. A gente tem que ter cuidado ao pegar números isolados. Como esse acidentes ocorrem?”, reflete.
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