Mais de 1,6 mi de famílias do CE receberam auxílio emergencial em junho
No mês, 58,3% dos domicílios do Estado tiveram acesso ao benefício, aponta levantamento do IBGE. Dado reflete a precariedade do mercado de trabalho local, indica analista, tendo sido potencializada pela pandemia
Cerca de 1,6 milhão de domicílios cearenses – 58,3% do total – receberam o auxílio emergencial em junho no Estado. Além disso, a média do rendimento proveniente do benefício por domicílio foi de R$ 936 no mês passado. Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Covid-19) e foram divulgados ontem (23) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo Erle Mesquita, analista do Mercado de Trabalho do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), os dados mostram a precariedade do mercado local. “A gente tem que considerar que o auxílio emergencial dá alguma guarida, embora seja baixo o nível de rendimento ofertado. Ele faz com que o trabalhador complemente sua renda neste cenário. Os trabalhadores já vinham antes da pandemia se virando. Aqui no Ceará, nós temos uma taxa de desemprego elevada e desde 2016 ela está acima de dois dígitos, o que marca uma exclusão muito forte do mercado”, avalia.
De acordo com o IBGE, a taxa de desocupação no Estado no mês passado foi de 12,2%. “Se a gente olhar, a Covid potencializou uma crise que já existia. No Estado, três a cada dez cearenses já estavam pelo menos há um ano na batalha de emprego, já havia uma crise muito significativa. Com a Covid, realmente houve uma potencialização, porque as pessoas tiveram que suspender suas atividades por conta das medidas de isolamento social”, pontua Mesquita.
Para o analista, esse cenário fez com que o montante de recursos que gira na economia, no primeiro semestre deste ano, caísse, fazendo o Ceará perder quase R$ 500 milhões de circulação mensal de renda do trabalho.
“Isso impacta no consumo das famílias, na arrecadação dos bens federais, estadual. Então, isso faz com que o trabalhador tenha mais dificuldades. Embora o isolamento seja a medida mais efetiva para combater o ciclo pandêmico, há um sofrimento muito grande, pois para além do desemprego, esse período marcou a vida das pessoas. O mercado de trabalho foi devastado devido à pandemia”, diz.
Em junho, havia 3,9 milhões de pessoas fora da força de trabalho no Ceará, dos quais 42% não procuraram trabalho, mas gostariam de trabalhar, e 29,7% não procuraram principalmente devido à pandemia ou porque faltava trabalho na localidade em que residiam, mas também gostariam de trabalhar.
“Ao somarmos a população fora da força que gostaria de trabalhar, mas que não procurou trabalho, com a população desocupada, temos 2,1 milhões de pessoas pressionando o mercado de trabalho. Quando o motivo de não ter procurado foi pandemia ou a falta de trabalho na localidade, o total foi de 1,2 milhão de pessoas”, diz o IBGE.
Informalidade
A pesquisa mostra também que o Ceará somava 1,3 milhão de trabalhadores na informalidade em junho. Além disso, a pandemia deixou 397 mil trabalhadores sem remuneração no mês, o que corresponde a mais da metade (53,3%) das pessoas que estavam afastadas do trabalho e a 13,2% da população ocupada.
“A informalidade sempre operou no nosso Estado bem acima, com mais da metade da nossa força de trabalho. E ela não só cresce em momentos de crise, mas também em períodos de crescimento econômico mais robusto”.
O analista do IDT ainda reitera que os dados refletem o contexto estrutural do mercado de trabalho cearense. “Mais da metade da força de trabalho do Ceará está na informalidade. Isso é preocupante porque esses trabalhadores não possuem proteção trabalhista e nem previdenciária”.
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