Coronavírus já circulava no Ceará em janeiro sem ser detectado, confirma Secretaria da Saúde
O novo coronavírus começou a circular do Ceará, pelo menos, 56 dias antes da data em que houve a confirmação do primeiro caso de Covid-19 no Brasil pelo Ministério da Saúde, segundo informou a Secretaria Estadual da Saúde. Em janeiro, o vírus já circulava no Ceará sem ser detectado pelas autoridades de saúde. Somente no dia 15 de março, o estado constatou oficialmente primeiras ocorrências da doença.
O número de casos confirmados da doença no Ceará já passa de 18 mil. Até esta quarta-feira, mais de 1,2 mil pessoas já morreram em decorrência da doença no estado.
A secretária executiva de Vigilância e Regulação da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), Magda Almeida, garante que a pasta hoje tem ciência do tempo de circulação do vírus e que essa constatação ocorreu a partir do acesso e avaliação por parte da Sesa a dados retroativos, sobretudo, de casos atendidos pela rede privada no Estado. O IntegraSUS, plataforma da Sesa, registra que em janeiro e fevereiro já havia 166 casos da doença em 11 cidades. O início ocorreu por Fortaleza.
Se levada em conta a data de início dos sintomas, dados do IntegraSUS, apontam que, o Ceará teve caso de Covid-19 no dia 1º de janeiro. Mas, se considerado o resultado dos exames, a data de registro de ocorrências da doença é dia 20 de janeiro.
Em janeiro, a Sesa aponta que havia casos em Fortaleza, Caucaia, Eusébio, Itaitinga, Horizonte e Sobral. Em fevereiro, além dessas cidades, há dados sobre ocorrências também em Itapipoca, Maracanaú, Pacajus, Quixadá e Sobral.
Para chegar a essa estimativa, a Sesa se baseia em pelo menos dois indicadores, conforme explica Magda: um é o relato feito pelos próprios pacientes e registrados no prontuário de notificação dos possíveis casos. Na rede privada, segundo ela, as pessoas contaminadas pelo vírus (ainda em janeiro, quando não se sabia da circulação no Brasil) já alegavam, terem sintomas que hoje já sabe-se que são característicos da Covid-19.
Outro são os testes cuja notificação junto à Sesa foi feita pela rede privada de forma atrasada. Magda relata que é preciso considerar que em janeiro, além da demora nos testes cujos resultados demoravam semanas para sair, não havia a ideia de que o vírus já circulava no Brasil, portanto, as pessoas buscavam a rede hospitalar acreditando estarem acometidas por outras enfermidades.
A secretária executiva diz que diversos dados desse tipo não haviam sido reportados à Sesa e só entraram no sistema de informações da pasta recentemente, quando o Ceará já estava passando pelo surto.
“A gente teve duas coisas importantes. Esses primeiros casos ocorreram principalmente na iniciativa privada, fazendo a restrospectiva. A gente tem algumas dificuldades com a notificação da iniciativa privada. Então, eram casos que a gente não estava nem sabendo como Secretaria do Estado. Alguns deles (pacientes) tinham sido internados por outros motivos. Outra questão é que os exames de Covid ainda não tinham chegado aqui. Em janeiro e fevereiro, não tinha exames para Covid no Ceará. Então, essas pessoas foram internadas, provavelmente, por outros motivos”.
“As pessoas já tinham coronavírus desde janeiro, que foi quando o vírus começou a circular aqui. Mas, não significa que a gente sabia disso. Porque a gente só conseguiu confirmar o primeiro caso em março”, esclarece ela e acrescenta que dados sobre casos ocorridos ainda em janeiro ou fevereiro continuam sendo investigados e, à medida que os laboratórios vão informado à Sesa os resultados de exames passados, os dsdos vão sendo atualizados no IntegraSUS.
A nova análise da Sesa estabelece um novo marco temporal para circulação do vírus no Estado, mas segundo Magda não tem grandes impactos nas atuais ações de combate ao vírus: “ela fica mais para o histórico, para fazermos a retrospectiva. Ela hoje em dia não tem mais tanto impacto. Mostra para a gente que, durante dois meses, o vírus circulava já aqui e sem ser surto, em casos restritos”.
Além disso, a representante da Sesa garante que não se pode dizer que “eram casos com sintomas leves, pois sabemos que tiveram pessoas internadas, mas a gente não tinha o exame aqui no Ceará. São pessoas que demoravam, às vezes, mais de 2 semanas para chegar os exames”.
No final de janeiro, conta Magda, o Ceará começou a coletar exames e enviar para serem testados em outros Estados. Segundo ela, por mais de um mês, após esse início das testagens, a Sesa insistiu junto às unidades hospitalares privadas sobre a importância das notificações.
Hoje, avalia, a realidade tem mudado e há um “canal de comunicação muito bom com os laboratórios e hospitais privados”. “Mas era uma coisa que não existia antes de se instaurar a epidemia aqui. A gente correu depois que esses exames foram confirmados, para depois ir ajustando todo esse processo de trabalho”, conclui.
Casos confirmados em janeiro por cidade:
- Fortaleza: 108
- Caucaia: 1
- Eusébio: 1
- Horizonte: 1
- Itaitinga: 1
- Sobral: 1
- Sem informação: 26
Casos confirmados em fevereiro por cidade:
- Fortaleza: 129
- Caucaia: 2
- Crateus: 1
- Eusébio: 1
- Horizonte: 1
- Itaitinga: 1
- Itapipoca: 1
- Maracanau: 1
- Pacajus: 1
- Quixadá: 1
- Sobral: 1
- Sem informação: 26
Início da contaminação no Brasil
Essa semana, uma pesquisa liderada pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e realizada por pesquisadores de Brasil e Uruguai, foi publicada na revista Memórias do IOC e aponta que a circulação do coronavírus no Brasil foi iniciada até quatro semanas antes dos primeiros casos serem registrados em países da Europa e das Américas. O estudo baseado em uma metodologia estatística de inferência a partir dos registros de óbitos, constata que enquanto os países monitoravam os viajantes e confirmavam os primeiros casos importados da Covid-19, a transmissão comunitária da doença já estava em curso.
Conforme o estudo, o início da disseminação antecederia em mais de 20 dias a confirmação do primeiro caso oficial no Brasil. No trabalho, os pesquisadores investigaram a situação da China e países da Europa ocidental, América do Norte e do Sul mais afetados até o dia 5 de abril, são eles: Bélgica, França, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha, Reino Unido, Estados Unidos e Brasil. A pesquisa conclui que o contágio local começou bem antes do reconhecimento oficial e da adoção de medidas de distanciamento social e restrições de viagens.
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